Textos sobre Psicologia de Gustave Le Bon

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Textos de psicologia de Gustave Le Bon. Leia este e outros textos de Gustave Le Bon em Poetris.

A Alma Popular Ă© Totalmente Dominada por Elementos Afectivos e MĂ­sticos

A acção cada vez mais considerável das multidões na vida política imprime especial importância ao estudo das opiniões populares. Interpretadas por uma legião de advogados e professores, que as transpõem e lhe dissimulam a mobilidade, a incoerência e o simplismo, elas permanecem pouco conhecidas. Hoje, o povo soberano é tão adulado quanto foram, outrora, os piores déspotas. As suas paixões baixas, os seus ruidosos apetites, as suas ininteligentes aspirações suscitam admiradores. Para os políticos, servidores da plebe, os factos não existem, as realidades não têm nenhum valor, a natureza deve-se submeter a todas as fantasias do número.
A alma popular (…) tem, como principal caracterĂ­stica, a circunstância de ser inteiramente dominada por elementos afectivos e mĂ­sticos. NĂŁo podendo nenhum argumento racional refrear nela as impulsões criadas por esses elementos, ela obedece-lhes imediatamente.
O lado místico da alma das multidões é, muitas vezes, mais desenvolvido ainda do que o seu lado afectivo. Daí resulta uma intensa necessidade de adorar alguma coisa: deus, feitiço, personagem ou doutrina.
(…) O ponto mais essencial, talvez, da psicologia das multidões Ă© a nula influĂŞncia que a razĂŁo exerceu nelas. As ideias susceptĂ­veis de influenciar as multidões nĂŁo sĂŁo ideias racionais, porĂ©m sentimentos expressos sob forma de ideias.

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Crenças e Opiniões Vencem o Conhecimento

A idade moderna contém tanta fé quanto tiveram os séculos precedentes. Nos novos templos pregam-se dogmas, tão despóticos quanto os do passado, e estes contam fiéis igualmente numerosos. Os velhos credos religiosos que outrora escravizavam a multidão, são substituídos por credos socialistas ou anarquistas, tão imperiosos e tão pouco racionais como aqueles, mas não dominam menos as almas. A igreja é substituída muitas vezes pela taberna, mas aos sermões dos agitadores místicos que aí são ouvidos, atribui-se a mesma fé.
Se a mentalidade dos fieis nĂŁo tem evoluĂ­do muito desde a Ă©poca remota em que, Ă s margens do Nilo, Isis e Hathor atraĂ­am aos seus templos milhares de fervorosos peregrinos, Ă© porque, no decurso das idades, os sentimentos, verdadeiros alicerces da alma, mantĂŞm a sua fixidez. A inteligĂŞncia progride, mas os sentimentos nĂŁo mudam.
A fé num dogma qualquer é, sem dúvida, de um modo geral, apenas uma ilusão. Cumpre, contudo, não a desdenhar. Graças à sua mágica pujança, o irreal torna-se mais forte do que o real. Uma crença aceite dá a um povo uma comunhão de pensamentos que originam a sua unidade e a sua força.
Sendo o domínio do conhecimento muito diverso do terreno da crença,

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A Tirania Individual e a Tirania Colectiva

As divergências de opinião não resultam, como por vezes supomos, das desigualdades de instrução daqueles que as manifestam. Elas notam-se, com efeito, em indivíduos dotados de inteligência e de instrução equivalentes. Disso se convencerá quem percorrer as respostas aos grandes inquéritos colectivos destinados a elucidar certas questões bem definidas.
Entre os inúmeros exemplos fornecidos pela leitura das suas actas, mencionarei apenas um, muito típico, publicado nos Anais de Psicologia do sr. Binet. Querendo informar-se quanto aos efeitos da redução do programa de história da filosofia nos liceus, enviou um questionário a todos os professores incumbidos desse ensino. As respostas foram nitidamente contraditórias, pois uns declaravam desastroso o que os outros julgavam excelente. «Não se compreende», conclui o Sr. Binet com melancolia, «que uma reforma que consterna um professor, pareça excelente a um dos seus colegas. Que lição para eles sobre a relatividade das opiniões humanas, mesmo entre pessoas competentes!».
Contradições da mesma espécie invariavelmente se manifestaram em todos os assuntos e em todos os tempos. Para chegar à acção, o homem teve, entretanto, de escolher entre essas opiniões contrárias. Como operar tal escolha, sendo a razão muito fraca para a determinar?
Somente dois métodos foram descobertos até hoje: aceitar a opinião da maioria ou a de um único,

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Dificuldade de Prever o Comportamento de qualquer Pessoa, o Nosso Inclusivamente

Sendo variável o nosso “eu”, que é dependente das circunstâncias, um homem jamais deve supor que conhece outro. Pode somente afirmar que, não variando as circunstâncias, o procedimento do indivíduo observado não mudará. O chefe de escritório que já redige há vinte anos relatórios honestos, continuará sem dúvida a redigi-los com a mesma honestidade, mas cumpre não o afirmar em demasia. Se surgirem novas circunstâncias, se uma paixão forte lhe invadir a mente, se um perigo lhe ameaçar o lar, o insignificante burocrata poderá tornar-se um celerado ou um herói.
As grandes oscilações da personalidade observam-se quase exclusivamente na esfera dos sentimentos. Na da inteligência, elas são muito fracas. Um imbecil permanecerá sempre imbecil.
As possíveis variações da personalidade, que impedem de conhecermos a fundo os nossos semelhantes, também obstam a que cada qual se conheça a si próprio. O adágio “Nosce te ipsum” dos antigos filósofos constitui um conselho irrealizável. O “eu” exteriorizado representa habitualmente uma personalidade de empréstimo, mentirosa. Assim é, não só porque atribuímos a nós mesmos muitas qualidades e não reconhecemos absolutamente os nossos defeitos, como também porque o nosso “eu” contém uma pequena porção de elementos conscientes, conhecíveis em rigor, e, em grande parte,

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As Oscilações da Personalidade

Pretender que a nossa personalidade seja móvel e susceptível de grandes mudanças é, por vezes, noção um pouco contrária às idéias tradicionais atinentes à estabilidade do “eu”. A sua unidade foi durante muito tempo um dogma indiscutível. Factos numerosos vieram provar quanto esta ideia era fictícia.
O nosso “eu” é um total. Compõe-se da adição de inumeráveis “eu” celulares. Cada célula concorre para a unidade de um exército. A homogeneidade dos milhares de indivíduos que o compõem resulta somente de uma comunidade de acção que numerosas coisas podem destruir.
É inútil objectar que a personalidade dos seres parece, em geral, bastante estável. Se ela nunca varia, com efeito, é porque o meio social permanece mais ou menos constante. Se subitamente esse meio se modifica, como em tempo de revolução, a personalidade de um mesmo indivíduo poderá transformar-se por completo. Foi assim que se viram, durante o Terror, bons burgueses reputados pela sua brandura tornarem-se fanáticos sanguinários. Passada a tormenta e, por conseguinte, representando o antigo meio e o seu império, eles readquiriram sua personalidade pacifica. Desenvolvi, há muito tempo, essa teoria e mostrei que a vida dos personagens da Revolução era incompreensível sem ela.
De que elementos se compõe o “eu”,

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