As Lágrimas e o Amor
As lágrimas das raparigas refrescam-me. Levantam-me o moral. Às vezes lambo-as dos cantos dos olhos. São mini-margaridas, sem álcool, inteiramente naturais. Dizer «Não chores» funciona sempre, porque só mencionar o verbo «chorar» emociona-as e liberta-as, dando-lhe a carta branca para chorar ainda mais. Só intervenho com piadas e palavras de esperança e de amor quando elas vão longe demais e começam, por exemplo, a pingar do nariz.
As raparigas, depois de chorar, ficam com vontade de fazer amor. É como se tivessem apanhado uma carga de chuva. Ficam todas molhadas. NĂłs somos a toalha que está mais Ă mĂŁo. O turco maluco com que se embrulham e enxutam. É horrĂvel, nĂŁo Ă©? Mas sĂł um santo nĂŁo se aproveitaria.
E as raparigas que choram depois de se virem? EstarĂŁo assim tĂŁo arrependidas? Comovidas? Simplesmente agradecidas? Gostaria de pensar que sim. As trĂŞs coisas, pelo menos. Elas prĂłprias nĂŁo sabem. Riem-se logo de seguida. As piores sĂŁo as que se riem logo ao princĂpio. Mas as piores tambĂ©m sĂŁo muito queridas.
Textos sobre Turcos de Miguel Esteves Cardoso
2 resultadosO Amor PortuguĂŞs nĂŁo Ă© um FenĂłmeno Ternurento
Do carinho e do mimo, toda a gente sabe tudo o que há a saber — e mais um bocado. Do amor, ninguĂ©m sabe nada. Ou pensa-se que se sabe, o que Ă© um bocado menos do que nada. O mais que se pode fazer Ă© procurar saber quem se ama, sem querer saber que coisa Ă© o amor que se tem, ou de que sĂtio vem o amor que se faz.
Do amor Ă© bom falar, pelo menos naqueles intervalos em que nĂŁo Ă© tĂŁo bom amar. Todos os paĂses hĂŁo-de ter a sua prĂłpria cultura amorosa. A portuguesa Ă© excepcional. Nas culturas mais parecidas com a nossa, Ă© muito maior a diferença que se faz entre o amor e a paixĂŁo. Faz-se de conta que o amor Ă© uma coisa — mais tranquila e pura e duradoura — e a paixĂŁo Ă© outra — mais doĂda e complicada e efĂ©mera. Em Portugal, porĂ©m, nĂŁo gostamos de dizer que nos «enamoramos», e o «enamoramento» e outras palavras que contenham a palavra «amor» sĂŁo-nos sempre um pouco estranhas. Quando nĂłs nos perdemos de amores por alguĂ©m, dizemos (e nitidamente sentimos) que nos apaixonamos. Aqui, sabe-se lá por que atavismos atlânticos,