Textos sobre Vista de MarquĂȘs de Vauvenargues

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Textos de vista de MarquĂȘs de Vauvenargues. Leia este e outros textos de MarquĂȘs de Vauvenargues em Poetris.

Da Profundidade do EspĂ­rito

A profundeza Ă© o termo da reflexĂŁo. Quem quer que tenha o espĂ­rito verdadeiramente profundo, deve ter a força de fixar o pensamento fugidio; de retĂȘ-lo sob os olhos para considerar-lhe o fundo, e reduzir a um ponto uma longa cadeia de ideias; Ă© principalmente Ă queles a quem esse espĂ­rito foi dado que a clareza e a justeza sĂŁo necessĂĄrias. Quando lhes faltam essas vantagens, as suas vistas ficam embaraçadas com ilusĂ”es e cobertas de obscuridades. No entanto, como tais espĂ­ritos vĂȘem sempre mais longe do que os outros nas coisas da sua alçada, julgam-se tambĂ©m mais prĂłximos da verdade do que os demais homens; mas estes, nĂŁo os podendo seguir nas suas sendas tenebrosas, nem remontar das consequĂȘncias atĂ© a altura dos princĂ­pios, sĂŁo frios e desdenhosos para com esse tipo de espĂ­rito que nĂŁo podem mensurar.
E, mesmo entre as pessoas profundas, como algumas o sĂŁo em relação Ă s coisas do mundo e outras nas ciĂȘncias ou numa arte particular, preferindo cada qual o objecto cujos usos melhor conhece, isso tambĂ©m Ă©, de todos os lados, matĂ©ria de dissensĂŁo.
Finalmente, nota-se um ciĂșme ainda mais particular entre os espĂ­ritos vivazes e os espĂ­ritos profundos, que sĂł possuem um na falta do outro;

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No Amor Ă© a Alma aquilo que Mais nos Toca

As mesmas paixÔes são bastante diferentes nos homens. O mesmo objecto pode-lhes agradar por aspectos opostos; suponho que vårios homens podem prender-se a uma mesma mulher; uns a amam pelo seu espírito, outros pela sua virtude, outros pelos seus defeitos, etc. E pode até acontecer que todos a amem por coisas que ela não tem, como quando se ama uma mulher leviana a quem se julga séria. Pouco importa, a gente prende-se à idéia que se tem prazer em fazer dela; e é mesmo apenas essa idéia que se ama, não é a mulher leviana. Assim, não é o obje­to das paixÔes que as degrada ou as enobrece, mas a ma­neira como a gente o encara.
Ora, eu disse que era pos­sível que se buscasse no amor algo mais puro do que o interesse dos nossos sentidos. Eis o que me faz pensar assim. Vejo todos os dias no mundo que um homem cer­cado de mulheres com as quais nunca falou, como na missa, no sermão, nem sempre se decide pela mais boni­ta, ou mesmo pela que lhe pareça tal. Qual a razão disso? É que cada beleza exprime um carácter bem particular, e preferimos aquele que melhor se encaixa no nosso.

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ConsideraçÔes Sobre a Amizade

É a insuficiĂȘncia do nosso ser que faz nascer a amizade, e Ă© a insuficiĂȘncia da prĂłpria amizade que a faz perecer. EstĂĄ-se sozinho, sente-se a prĂłpria misĂ©ria, sente-se necessidade de apoio, procura-se quem lhe favoreça os gostos, um companheiro nos prazeres e nos pesares; quer-se um homem de quem se possa possuir o coração e o pensamento. EntĂŁo a amizade parece ser o que de mais doce hĂĄ no mundo; tem-se o que se desejou, logo se muda de ideia. Quando se vĂȘ de longe algum bem, ele fixa de inĂ­cio os nossos desejos, e quando se chega a ele, sente-se o seu nada. A nossa alma, de que ele prendia a vista na distĂąncia, nĂŁo pode repousar-se nele quando vĂȘ mais adiante: assim a amizade, que de longe limitava todas as nossas pretensĂ”es, cessa de limitĂĄ-las de perto; nĂŁo preenche o vazio que prometera preencher; deixa-nos necessidades que nos distraem e nos levam a outros bens.
EntĂŁo a gente torna-se negligente, difĂ­cil, exige-se logo como um tributo as complacĂȘncias que de inĂ­cio eram recebidas como um dom. É do carĂĄcter dos homens apropriar-se a pouco e pouco atĂ© das graças de que beneficiam; uma longa posse acostuma-os naturalmente a olhar as coisas que possuem como sendo deles;

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