Sobre a Diferença dos EspĂritos
Apesar de todas as qualidades do espĂrito se poderem encontrar num grande espĂrito, algumas há, no entanto, que lhe sĂŁo prĂłprias e especĂficas: as suas luzes nĂŁo tĂŞm limites, actua sempre de igual modo e com a mesma actividade, distingue os objectos afastados como se estivessem presentes, compreende e imagina as coisas mais grandiosas, vĂŞ e conhece as mais pequenas; os seus pensamentos sĂŁo elevados, extensos, justos e intelegĂveis; nada escapa Ă sua perspicácia, que o leva sempre a descobrir a verdade, atravĂ©s das obscuridades que a escondem dos outros. Mas, todas estas grandes qualidades nĂŁo impedem por vezes que o espĂrito pareça pequeno e fraco, quando o humor o domina.
Um belo espĂrito pensa sempre nobremente; produz com facilidade coisas claras, agradáveis e naturais; torna visĂveis os seus aspectos mais favoráveis, e enfeita-os com os ornamentos que melhor lhes convĂŞm; compreende o gosto dos outros e suprime dos seus pensamentos tudo o que Ă© inĂştil ou lhe possa desagradar. Um espĂrito recto, fácil e insinuante sabe evitar e ultrapassar as dificuldades; adapta-se facilmente a tudo o que quer; sabe conhecer e acompanhar o espirito e o humor daqueles com quem priva e ao preocupar-se com os interesses dos amigos,
Textos sobre Voltas de François de La Rochefoucauld
2 resultadosO Interesse Ă© a Alma do Amor-PrĂłprio
O interesse Ă© a alma do amor-prĂłprio, de modo que, tal como o corpo privado da sua alma nĂŁo vĂŞ, nĂŁo ouve, nĂŁo conhece, nĂŁo sente e nĂŁo se move, o amor-prĂłprio, se pode assim dizer-se, separado dos seus interesses, nĂŁo vĂŞ, nĂŁo escuta, nĂŁo sente e nĂŁo se move. DaĂ que um homem que corra a terra e os mares para seu benefĂcio fique de repente paralisado para os interesses dos outros e daĂ, tambĂ©m, o adormecimento em que cai de repente, tal como esta espĂ©cie de morte que provocamos a todos aqueles a quem narramos a nossa vida. DaĂ vem tambĂ©m a rápida ressurreição quando na nossa narrativa pomos qualquer coisa que lhes diga respeito, de modo que vemos nas nossas conversas e nos nossos tratados que, no mesmo instante, um homem adormece e volta a si, consoante o interesse se aproxima ou se afasta dele.