O interesse pela doença e pela morte é apenas outra expressão do interesse pela vida.
Passagens de Thomas Mann
60 resultadosO amor é, sem dúvida alguma, uma espécie de nobre seletividade na esfera do sexo.
Tudo tem sido nada outrora, antes de chegar a ser alguma coisa.
A gente só fica irritado e zangado com uma proposta quando não está muito seguro de poder resisti-la e está intimamente tentado a aceitá-la.
…todas as virtudes inspirariam reverência se pudéssemos vê-las. A beleza em si é… a única forma do espiritual que podemos receber através dos sentidos…
O Tempo e o Tédio
Com respeito à natureza do tédio encontram-se frequentemente conceitos erróneos. Crê-se em geral que a novidade e o carácter interessante do seu conteúdo “fazem passar” o tempo, quer dizer, abreviam-no, ao passo que a monotonia e o vazio estorvam e retardam o seu curso. Mas não é absolutamente verdade. O vazio e a monotonia alargam por vezes o instante ou a hora e tornam-nos “aborrecidos”; porém, as grandes quantidades de tempo são por elas abreviadas e aceleradas, a ponto de se tornarem um quase nada. Um conteúdo rico e interessante é, pelo contrário, capaz de abreviar uma hora ou até mesmo o dia, mas, considerado sob o ponto de vista do conjunto, confere amplitude, peso e solidez ao curso do tempo, de tal maneira que os anos ricos em acontecimentos passam muito mais devagar do que aqueles outros, pobres, vazios, leves, que são varridos pelo vento e voam. Portanto, o que se chama de tédio é, na realidade, antes uma simulação mórbida da brevidade do tempo, provocada pela monotonia: grandes lapsos de tempo quando o seu curso é de uma ininterrupta monotonia chegam a reduzir-se a tal ponto, que assustam mortalmente o coração; quando um dia é como todos, todos são como um só;
A Maior Intensidade de Vida do Artista
Embora o artista em todos os períodos da sua vida permaneça mais próximo da infância, para não dizer mais fiel do que o homem especializado na realidade prática, muito embora se possa afirmar que ele, ao contrário deste último se mantém continuamente no estado sonhador e puramente humano da criança brincalhona, o caminho que transpõe a partir dos primórdios intactos até às fases tardias, jamais imaginadas do seu devir, é infinitamente mais longo, mais aventuroso, mais emocionante para o espectador, do que o do homem burguês, para o qual a reminiscência de também ter sido criança em outros tempos nunca fica tão prenhe de lágrimas.
Que era, então, a vida? Era calor, o calor produzido pela instabilidade preservadora da forma; era uma febre da matéria, que acompanhava o processo incessante decomposição e reconstituição de moléculas de albumina, insubsistentes pela complicação e pela engenhosidade.
Liberdade é Subjectividade
Liberdade é apenas outro termo para designar a subjectividade, e qualquer dia, esta já não se aguentará a si mesma. Chegará então o momento em que se desesperará da possibilidade de criar algo através das suas próprias forças; então procurará protecção e segurança na objectividade. A liberdade conduz sempre à reviravolta dialéctica: Muito cedo, reconhece-se na delimitação, realiza-se na subordinação à lei, à regra, à coacção, ao sistema; converte-se nisso, o que não quer dizer que deixe de ser liberdade.
Trago em mim o germe, o início, a possibilidade para todas as capacidades e confirmações do mundo.
A felicidade do escritor é o pensamento que consegue transformar-se completamente em sentimento, é o sentimento que consegue transformar-se completamente em pensamento.
Certamente é bom que o mundo conheça apenas a obra bela e não as suas origens nem as condições em que foi gerada; pois o conhecimento das fontes de onde provém a inspiração para o artista causaria frequentemente perturbação e espanto, neutralizando assim os efeitos da excelência.
Uma das situações da vida mais cheia de esperanças é aquela em que estamos tão mal que já não poderíamos estar pior.
Talvez se resumam nisso a própria juventude, a espontaneidade, a coragem e a profundeza da vida pessoal, a vontade e a faculdade de experimentar e viver com plena vitalidade a parte natural do ser.
A glória em vida é algo problemático: é aconselhável não se deixar deslumbrar por ela, muito menos estimular.
O tempo acalma e esclarece; nenhuma disposição de ânimo pode ser mantida inalterada ao longo de horas.
A Beleza Maior é a que não se Vê
– Hoje, durante o meu passeio matinal, vi uma linda mulher… Meu Deus, que linda que ela era! (…)
– Sério, sr. Spinell? Descreva-ma então.
– Não, não posso! Dar-lhe-ia uma imagem imperfeita dela. Ao passar, mal a vi; na verdade, não a vi. Apercebi-me, porém, da sua sombra esfumada, e isso bastou para me excitar a imaginação e guardar dela uma imagem de beleza. Meu Deus, que linda imagem!
A mulher do sr. Klöterjahn sorriu.
– É essa a sua maneira de olhar para as mulheres bonitas, senhor Spinell?
– Sim, minha senhora, é; é muito melhor do que olhá-las fixamente na cara, com uma grosseira avidez da realidade, para no fim ficarmos com uma impressão falsa…
Sei que, frequentemente, os sinais e os símbolos exteriores, visíveis e tangíveis da sorte e da ascensão, só aparecem quando, na realidade, tudo já se põe de novo a declinar.
O Desejo é Fruto de um Conhecimento Insuficiente
Não existe nada mais estranho e espinhoso do que a relação entre pessoas que só se conhecem de vista – que diariamente, mesmo hora a hora, se encontram, se observam e que têm assim de manter, sem cumprimenros e sem palavras, a aparência de desconhecimento indiferente, devido ao rigor dos costumes ou a caprichos pessoais. Entre elas existe inquietação e curiosidade exacerbada, a histeria da necessidade insatisfeita, anormalmente recalcada, de conhecimento e comunicação e sobretudo também uma forma de consideração tensa. Pois o ser humano ama e respeita o outro ser humano enquanto não está em posição de o julgar e o desejo é produto de um conhecimento insuficiente.
Aquilo a que chamamos felicidade consiste na harmonia e na serenidade, na consciência de uma finalidade, numa orientação positiva, convencida e decidida do espírito, ou seja na paz da alma.