Soneto
Brancas ApariçÔes, VisÔes renanas,
Imagens dos Ascetas peregrinos,
Hinos nevoentos, neblinosos hinos
Das brumosas igrejas luteranas.Vago mistério das regiÔes indianas,
Sonhos do Azul dos astros cristalinos,
Coros de Arcanjos, claros sons divinos
Dos Arcanjos, nas tiorbas soberanas.Tudo ressurge na minh’alma e vaga
Num fluido ideal que me arrebata e alaga,
No abandono mais lĂąnguido mais lasso…Quando lĂĄ nos sacrĂĄrios do Cruzeiro
A lua rasga o trĂȘmulo nevoeiro,
Magoada de vigĂlias e cansaço…
Passagens sobre VigĂlia
25 resultadosA mocidade Ă© um sonho que deleita, a velhice uma vigĂlia que incomoda.
HĂĄ dois tipos de pessoas neste mundo: bons e maus. O sono dos bons Ă© melhor, mas os maus parecem gozar as horas de vigĂlia muito mais
Acordar
Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rocio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar atravĂ©s da vigĂlia e do sono.Toda a manhĂŁ que raia, raia sempre no mesmo lugar,
NĂŁo hĂĄ manhĂŁs sobre cidades, ou manhĂŁs sobre o campo.
Ă hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares sĂŁo o mesmo lugar, todas as terras sĂŁo a mesma,
E Ă© eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo.Uma espiritualidade feita com a nossa prĂłpria carne,
Um alĂvio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
SĂŁo os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vĂŁo leste-oeste,
SejaA mulher que chora baixinho
Entre o ruĂdo da multidĂŁo em vivas…
A Jovem Cativa
(André Chenier)
â âRespeita a foice a espiga que desponta;
Sem receio ao lagar o tenro pĂąmpano
Bebe no estio as lĂĄgrimas da aurora;
Jovem e bela também sou; turvada
A hora presente de infortĂșnio e tĂ©dio
Seja embora: morrer nĂŁo quero ainda!De olhos secos o estĂłico abrace a morte;
Eu choro e espero; ao vendaval que ruge
Curvo e levanto a tĂmida cabeça.
Se hå dias maus, também os hå felizes!
Que mel nĂŁo deixa um travo de desgosto?
Que mar nĂŁo incha a um temporal desfeito?Tu, fecunda ilusĂŁo, vives comigo.
Pesa em vĂŁo sobre mim cĂĄrcere escuro,
Eu tenho, eu tenho as asas da esperança:
Escapa da prisĂŁo do algoz humano,
Nas campinas do céu, mais venturosa,
Mais viva canta e rompe a filomela.Deve acaso morrer ? TranqĂŒila durmo,
TranqĂŒila velo; e a fera do remorso
NĂŁo me perturba na vigĂlia ou sono;
Terno afago me ri nos olhos todos
Quando apareço, e as frontes abatidas
Quase reanima um desusado jĂșbilo.Desta bela jornada Ă© longe o termo.