Mais Valera…
Baldadas, as tuas orações fervorosas,
vĂŁs, as tuas vigĂlias sem cansaço,
inúteis, as tuas rugas que foram lágrimas, Mãe!
E sĂŁo brancos os teus cabelos por ser negra a minha vida…Todos os amparos pedidos para os meus passos,
todas as claridades imploradas para os meus caminhos,
todas as fontes solicitadas para as minhas sedes,
todos os vergéis requeridos para as minhas fomes,
todas as pedras com musgo seco rogadas para o meu descanso,
— tudo foi trocado para a felicidade doutra Mãe
que nĂŁo orou, talvez, fervorosamente,
nem vigiou noites e noites um berço, como estrela,
nem, MĂŁe, chorou as lágrimas que deixaram no teu rosto essa tristeza.Para mim veio este destino errante de poeta…
Comigo, a incerteza e frouxidĂŁo contĂnua de passos,
a escuridão em todos os caminhos inevitáveis,
a sede para que só há fontes secas,
a fome que nenhum fruto satisfaz,
as pedras ásperas onde o corpo nĂŁo pode estender-se…MĂŁe, porque nĂŁo me levaram os ciganos?
Passagens sobre VigĂlia
25 resultadosInquérito
Pergunta às árvores da rua
que notĂcia tĂŞm desse dia
filtrado em betume da noite;
se por acaso pressentiram
nas aragens conversadeiras,
ágil correio do universo,
um calar mais informativo
que toda grave confissão.Pergunta aos pássaros, cativos
do sol e do espaço, que viram
ou bicaram de mais estranho,
seja na pele das estradas
seja entre volumes suspensos
nas prateleiras do ar, ou mesmo
sobre a palma da mĂŁo de velhos
profissionais de solidĂŁo.Pergunta Ă s coisas, impregnadas
de sono que precede a vida
e a consuma, sem que a vigĂlia
intermédia as liberte e faça
conhecedoras de si mesmas,
que prisma, que diamante fluido
concentra mil fogos humanos
onde era ruga e cinza e nĂŁo.Pergunta aos hortos que segredo
de clepsidra, areia e carocha
se foi desenrolando, lento,
no calado rumo do infante
a divagar por entre sĂmbolos
de sĂmbolos outros, primeiros,
e tĂŁo acessĂveis aos pobres
como a breve casca do pĂŁo.Pergunta ao que, nĂŁo sendo, resta
perfilado Ă porta do tempo,
Soneto
Brancas Aparições, Visões renanas,
Imagens dos Ascetas peregrinos,
Hinos nevoentos, neblinosos hinos
Das brumosas igrejas luteranas.Vago mistério das regiões indianas,
Sonhos do Azul dos astros cristalinos,
Coros de Arcanjos, claros sons divinos
Dos Arcanjos, nas tiorbas soberanas.Tudo ressurge na minh’alma e vaga
Num fluido ideal que me arrebata e alaga,
No abandono mais lânguido mais lasso…Quando lá nos sacrários do Cruzeiro
A lua rasga o trĂŞmulo nevoeiro,
Magoada de vigĂlias e cansaço…
A mocidade Ă© um sonho que deleita, a velhice uma vigĂlia que incomoda.
Há dois tipos de pessoas neste mundo: bons e maus. O sono dos bons Ă© melhor, mas os maus parecem gozar as horas de vigĂlia muito mais