Passagens sobre Abandono

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Frases sobre abandono, poemas sobre abandono e outras passagens sobre abandono para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Despede Teu Pudor

Despede teu pudor com a camisa
E deixa alada louca sem memória
Uma nudez nascida para a glória
Sofrer de meu olhar que te heroíza

Tudo teu corpo tem, não te humaniza
Uma cegueira fácil de vitória
E como a perfeição não tem história
São leves teus enredos como a brisa

Constante vagaroso combinado
Um anjo em ti se opõe à luta e luto
E tombo como um sol abandonado

Enquanto amor se esvai a paz se eleva
Teus pés roçando nos meus pés escuto
O respirar da noite que te leva.

O Medo de Acabar Só

Há muitos que não fazem mais do que discutir e bulhar o dia inteiro, e depois surpreendem-se com qualquer mudança numa situação que consideram segura porque estável. O rancor é uma boa forma de garantir companhia, o poder de lançar à cara de alguém, todos os dias, o mal que nos fez: isso cria estabilidade. As pessoas pensam: que hei de fazer? Ficar sozinho? Ouve-los falar e parece ser isso o que mais temem: ficarem sós. A solidão. O abandono. Palavras tristes ou ameaçadoras. Terríveis: logo verás o que é a velhice, se cometeres o erro de ficar solteiro. Assustam-te com isso. Dizem-te: se continuas assim, vais ficar sozinho. É horrível morrer sozinho, como um cão, dizem. E parece ser essa a pior desgraça; há que morrer, sim, toda a gente tem de morrer, mas acompanhado, e não como um cão. Morrer sozinho é desolador, é indecente, revela uma falha humana (do ser humano, como diria Francisco: a expressão comove) que deve ser dissimulada, mantida na sombra.

Os Meios de Comunicação Têm Sempre Razão

A dominação intelectual é difícil se não dispomos de uma tribuna mediática. Em vez de perdermos longos anos a reflectir sobre o sentido da vida, as relações entre homens e mulheres, a influência da alimentação transgénica na produção leiteira das vacas normandas (conheço um investigador que passou quarenta anos a estudar as térmitas; admite não ter conseguido desvendar-lhes o segredo que, no seu entender, existe!) ou qualquer assunto mais ou menos relacionado com o destino da Humanidade, mais vale começarmos por arranjar meios de aceder à redacção de um jornal ou, melhor, de um canal televisivo. Com efeito, é a importância do meio de comunicação em termos de audiência que determina a supremacia de uma opinião. Qualquer tolice catódica emitida entre as 20 e as 20:30 horas é mais credível que a conclusão amadurecida de um colóquio de especialistas. Porquê mais credível? Porque mais acreditada.
O público aprecia a confirmação de que é verdade aquilo que sente como verdadeiro (por exemplo, que os políticos são podres ou que a Madonna é a mulher mais sensual do mundo). Este género de opinião, no entanto, só passa a ser uma evidência depois de ter sido santificado por um meio de comunicação.

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O Prazer e a Dor

O prazer e a dor não conhecem a duração. A sua natureza é dissiparem-se rapidamente e, por conseguinte, só existirem sob a condição de ser intermitente. Um prazer prolongado cessa logo de ser um prazer e uma dor continua logo se atenua. A sua diminuição pode mesmo, por confronto, tornar-se um prazer. O prazer só é, pois, um prazer sob a condição de ser descontínuo. O único prazer um pouco durável é o prazer não realizado, ou desejo.
O prazer somente é avaliável pela sua comparação com a dor. Falar de prazer eterno é um contra-senso, como justamente observou Platão. Ignorando a dor, os deuses não podem, segundo Platão, ter prazer. A descontinuidade do prazer e da dor representa a conseqüência dessa lei fisiológica: “A mudança é a condição da sensação”. Não percebemos os estados contínuos, porém as diferenças entre estados simultâneos ou sucessivos. O tique-taque do relógio mais ruidoso acaba, no fim de algum tempo, por não ser mais ouvido, e o moleiro não será despertado pelo ruído das rodas do seu moinho, mas pelo seu parar.

É em virtude dessa descontinuidade necessária que o prazer prolongado cessa logo de ser um prazer, porém uma coisa neutra,

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O Quinto Império

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raíz –
Ter por vida sepultura.

Eras sobre eras se somen
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,
Europa – os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

Junta os Dons do Espírito às Vantagens do Corpo

Para ser amado, sê amável, para o que não bastará a beleza do rosto ou do corpo. Se pretendes conservar a tua amiga e não teres nunca a surpresa de ser abandonado, mesmo que sejas Nireu, amado pelo velho Homero, ou o Hilas de delicada beleza que as Náiades raptaram por meio de um crime, junta os dons do espírito às vantagens do corpo. A beleza é um bem muito frágil, tudo o que se acrescenta aos anos a diminui, murcha com a própria duração. As violetas e os lírios com as suas corolas abertas não florescem sempre; e na rosa, depois de caída, só o espinho permanece. Também tu, belo adolescente, cedo conhecerás cabelos brancos, cedo conhecerás as rugas que sulcam o teu corpo. Forma desde já um espírito que dure e fortalece a beleza; só ele subsiste até à fogueira fúnebre.

O Amigo

Embora seja teu amigo
não nos encontraremos nunca.
Jamais verás a minha sombra
quando eu caminhar ao teu lado
nem ouvirás minhas palavras
se um dia eu te gritar bem alto.
Só no momento em que morreres
é que irei ao teu encontro.
E para sempre ficarei
em teu silêncio e solidão
de homem morto e abandonado.

O Amor Social

É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena sermos bons e honestos. Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por nos colocar uns contra os outros, na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento de uma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente.

O exemplo de Santa Teresa de Lisieux convida-nos a pôr em prática o pequeno caminho do amor, a não perder a oportunidade de uma palavra gentil, de um sorriso, de qualquer pequeno gesto que semeie paz e amizade. Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo. Pelo contrário, o mundo do consumo exacerbado é, simultaneamente, o mundo que maltrata a vida em todas as suas formas.

O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político,

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Os Amantes de Novembro

Ruas e ruas dos amantes
Sem um quarto para o amor
Amantes são sempre extravagantes
E ao frio também faz calor

Pobres amantes escorraçados
Dum tempo sem amor nenhum
Coitados tão engalfinhados
Que sendo dois parecem um

De pé imóveis transportados
Como uma estátua erguida num
Jardim votado ao abandono
De amor juncado e de outono.

Um pai pode negligenciar seu filho, irmãos e irmãs podem se tornar inimigos inveterados; maridos podem abandonar suas esposas, e esposas os seus maridos. Mas o amor de uma mãe resiste a tudo.

O Menino de Sua Mãe

No plano abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

O Demónio do Artifício

Não são muitas as pessoas dotadas para a apreensão da Natureza e para a sua utilização imediata. A maior parte gosta de descobrir entre o conhecimento e a utilização uma espécie de castelo nas nuvens, que se entretêm a aperfeiçoar, esquecendo assim ao mesmo tempo o objecto e a respectiva utilização.
Do mesmo modo, não é fácil compreender-se que o que acontece nos grandes domínios da Natureza é o mesmo que sucede nos mais pequenos. Mas se a experiência o indica com premência, os indivíduos acabam por aceitar tal ideia de bom grado. Há um parentesco entre a atracção de fragmentos de palha por uma vareta de âmbar depois de friccionada e a mais terrível das tempestades. Em certo sentido são o mesmo fenómeno. E há outros casos em que não temos dificuldade em aceitar essa micromegalogia. Mas rapidamente somos abandonados pelo puro espírito da Natureza e apodera-se de nós o demónio do artifício, que sabe sempre insinuar-se em todos os campos.

Romance

Fruto de solidão
preso à fronde do vento,
lua, tu nos dás
a medida do eterno,
essa altura que jogas
contra o espaço celeste
em nós refere a terra,
que em nossa ânsia integras.
E ao nosso amor integras
tudo o que não sofremos,
tudo o que não tivemos
e apenas pressentimos,
em tua marcha sentimos
tudo o que não teremos
e tudo o que já viveram
corações noutros tempos.
Flanco de solidão,
maçã casta e sensual
presa ao ramo oscilante
entre a alma e o carnal,
em ti, suprema altura,
os olhos vão reunindo
as trilhas do abandono
e alguns ecos da infância.

Pata branca de touro
extraviada no azul.

Sofrer Por Sofrer

Parti. Quis te deixar abandonada
às lembranças do amor que nos prendeu.
Trouxe comigo, na alma torturada,
um ciúme atroz ciumentamente meu…

Fugi… fuga cruel, desesperada,
quando supus que nosso amor morreu…
Fuga inútil, se ainda és a minha amada,
se continuo inteiramente seu!

Não, não me livro deste amor nefasto,
nem dessa angústia, dessa luta, desse
ciúme que aumenta quanto mais me afasto…

E hoje concluí, fugindo de meus passos,
que sofrer por sofrer, antes sofresse
como sempre sofri… mas nos teus braços!

Na intimidade com Deus e na escuta da sua Palavra, começamos gradualmente a abandonar a nossa lógica pessoal, ditada muitas vezes pelos nossos fechamentos, preconceitos e ambições, e aprendemos a perguntar ao Senhor: «Qual é o teu desejo? Qual é a tua vontade? O que te agrada?»

Se um homem quiser ocupar-se incessantemente de coisas sérias e não se abandonar de vez em quando ao divertimento, fica, sem perceber, louco ou idiota.

Quando a comunicação tem como principal objetivo induzir ao consumo ou à manipulação das pessoa, encontramo-nos perante uma agressão violenta como a sofrida pelo homem espancado por bandidos e abandonado na berma da estrada, como lemos na parábola. Corremos o risco, hoje em dia, de alguns meios de comunicação nos condicionarem ao ponto de nos fazerem ignorar o nosso verdadeiro próximo.