Miséria deste século; não há muito eram as más acções que tinham de ser justificadas; hoje são as boas.
Passagens de André Malraux
59 resultadosQuem se mata corre atrás de uma imagem que forjou de si próprio: as pessoas matam-se sempre para existir.
A coisa mais importante na vida é se encarregar de nunca estar abatido.
Não se faz política com a moral, mas também não se faz mais sem ela.
Pode-se gostar que o sentido da palavra arte seja tentar dar aos homens a consciência da grandeza que ignoram neles mesmos.
Velhice Reveladora
– Pode enganar-se a vida muito tempo, mas ela acaba sempre por fazer de nós aquilo para que somos feitos. Todos os velhos são um testemunho, vá, e se tantas velhices são vazias, é porque outros tantos homens o eram e o escondiam. Mas mesmo isto não tem importância. Era preciso que os homens pudessem saber que não há real, que existem mundos de contemplação… com ou sem ópio… em que tudo é vão…
– Onde se contempla o quê?
– Talvez nada mais que esta vaidade… É muito.
A esperança dos homens é a sua razão de viver e de morrer.
Se compreendêssemos, nunca mais poderíamos julgar.
Há artistas desajeitados, não há estilos desajeitados.
Ideais Fatais
Não há ideal a que possamos sacrificar-nos, porque de todos eles conhecemos a mentira, nós os que ignoramos em absoluto o que seja a verdade. A sombra terrestre que se alonga por detrás dos deuses de mármore basta para nos afastar deles. Ah, com que amplexo o homem se estreitou a si próprio! Pátria, justiça, grandeza, piedade, verdade, qual das suas estátuas não traz em si os sinais das mãos humanas para que não desperte a mesma ironia triste que os velhos rostos outrora amados? Compreender não significa necessariamente aceitar todas as loucuras. E, no entanto, quantos sacrifícios, quantos heroísmos injustificados dormem em nós…
Não se ensina a estender a outra face a pessoas que, desde há dois mil anos, só têm recebido bofetões.
A dor que não ajuda ninguém é absurda.
O difícil não é estar com os amigos quando têm razão, mas quando estão errados.
O pior sofrimento está na solidão que a acompanha.
O Cortejo Ingénuo dos Nossos Sonhos
Não desenhamos uma imagem ilusória de nós próprios, mas inúmeras imagens, das quais muitas são apenas esboços, e que o espírito repele com embaraço, mesmo quando porventura haja colaborado, ele próprio, na sua formação. Qualquer livro, qualquer conversa podem fazê-las surgir; renovadas por cada paixão nova, mudam com os nossos mais recentes prazeres e os nossos últimos desgostos. São, contudo, bastante fortes para deixarem, em nós, lembranças secretas que crescem até formarem um dos elementos mais importantes da nossa vida: a consciência que temos de nós mesmos tão velada, tão oposta a toda a razão, que o próprio esforço do espírito para a captar a faz anular-se.
Nada de definido, nem que nos permita definir-nos; uma espécie de potência latente… como se houvesse apenas faltado a ocasião para cumprirmos no mundo real os gestos dos nossos sonhos, conservamos a impressão confusa, não de os ter realizado, mas de termos sido capazes de os realizar. Sentimos esta potência em nós como o atleta conhece a sua força sem pensar nela. Actores miseráveis que já não querem deixar os seus papéis gloriosos, somos, para nós mesmos, seres nos quais dorme, amalgamado, o cortejo ingénuo das possibilidades das nossas acções e dos nossos sonhos.
É próprio das questões insolúveis serem gastas pela palavra.
O difícil não é estar com os amigos quando têm razão, mas quando estão errados.
Vi as democracias intervirem contra quase tudo, salvo contra os fascismos.
Se existe uma solidão em que o solitário é um abandonado, existe outra onde ele é solitário porque os homens ainda não se juntaram a ele.
O museu transforma a obra em objecto.