Sonho Vago
Um sonho alado que nasceu um instante,
Erguido ao alto em horas de demĂȘncia…
Gotas de ĂĄgua que tombam em cadĂȘncia
Na minh’alma tristĂssima, distante…Onde estĂĄ ele, o Desejado? O Infante?
O que hĂĄ-de vir e amar-me em doida ardĂȘncia?
O das horas de mĂĄgoa e penitĂȘncia?
O PrĂncipe Encantado? O Eleito? O Amante?E neste sonho eu jĂĄ nem sei quem sou…
O brando marulhar dum longo beijo
Que nĂŁo chegou a dar-se e que passou…Um fogo-fĂĄtuo rĂștilo, talvez…
E eu ando a procurar-te e jĂĄ te vejo!
E tu jĂĄ me encontraste e nĂŁo me vĂȘs!…
Passagens sobre ArdĂȘncia
7 resultadosA Luz do Teu Amor
Oh! Sim que Ă©s linda! a inocĂȘncia
Em tua fronte serena
Com tal doçura reluz!…
Tanta e tanta… que a açucena
TĂŁo esplĂȘndida a existĂȘncia
NĂŁo lha doura assim Ă luz!
Oh! que Ă©s linda, e mais… e mais
Quando um traço melancólico
Te diviso no semblante
Nos teus olhos virginais!
Que doçura não existe
Ai! Ăł virgem, nesse instante
Na poética beleza
Desse traço de tristeza
Que te vem tornar mais bela
Mal em teu rosto pousou!
E eu te quero assim, Ăł estrela,
Que se inspira em mim a crença
Triste… triste, que Ă©s mais linda,
Mas dessa beleza infinda
Das ficçÔes da renascença
Que a poesia perfumou!Fita agora os olhos lĂąnguidos
Na estrela que te ilumina,
Eu nĂŁo sei que luz divina
De amor nos fala em teu rosto!
Eu nĂŁo sei, nem tu… ninguĂ©m!…
Que a vaga luz do sol posto,
Que a palidez da cecém,
Que a meiguice dos amores,
E que o perfume das flores
NĂŁo respiram a harmonia
Desse toque leve…
Provençal
Em um solar de algum dia
Cheiinho de alma e valia,
Foi ali
Que ao gosto de olhos a viComo dantes inda vasto
Agora
NĂŁo tinha pombas nem mel.
E Ă opulĂȘncia de outrora,
Esmoronado e jĂĄ gasto,
Pedia mĂŁos de alvenel.Foi ali
Que ao gosto de olhos a vi.O seu chapéu, que trazia
Do calor contra as ardĂȘncias,
Era o que a pena daria
Num certo sabor e arrimo
Com jeitos de circunferĂȘncias
A morrer todas no cimo.Davam-lhe franco nos ombros
As pontas do lenço branco:
E sem que ninguém as ouça,
Eram palavras da moça
Com a voz alta de chamar;Palavras feitas em gesto,
Igualzinho e manifesto,
Como um relance de olhar.E bela, fechada em gosto,
Fazia o seu rosto dela
A gente mestre de amar.Foi num solar de algum dia,
Cheiinho de alma e valia,
Que eu disse de mim para ela
Por este falar assim:Vem, meu amor!
Conchita
Adeus aos filtros da mulher bonita;
A esse rosto espanhol, pulcro e moreno;
Ao pĂ© que no bolero… ao pĂ© pequeno;
PĂ© que, alĂgero e cĂ©lere, saltita…Lira do amor, que o amor nĂŁo mais excita,
A um silĂȘncio de morte eu te condeno;
Despede-te; e um adeus, no Ășltimo treno,
Soluça às graças da gentil Conchita:A esses, que em ondas se levantam, seios
Do mais cheiroso jambo; a esses quebrados
Olhos meridionais de ardĂȘncia cheios;A esses lĂĄbios, enfim, de nĂĄcar vivo,
Virgens dos lĂĄbios de outrem, mas corados
Pelos beijos de um sol quente e lascivo.
MĂŁe
Intacta como o silĂȘncio. Terra
Na terra, dela te alimentas e, serena,
A adubas, como orvalho Ă s manhĂŁs.
Fantasma de ti, nĂŁo; e, como espĂrito, ardes
Por entre. Ciprestes e ventos. E sĂłis e
Noites. Mas ardes. E falas. Fétida mi-
Neração de ossos translĂșcidos
Do azul que me legaste
Ao descer-te as pĂĄlpebras na hora verdadeira.
Intacta como os ventos que nĂŁo vieram
E aguardam a hora de soltar-se.
Intacta por sob. Mas intacta. Pura,
De terra e de sonho. NĂŁo sa-u-d-a-
De nem fantasma, nĂŁo. Alegria.
Como o ser. Como a ladainha que te cantei, tu sabesQuando. ALEGRIA. Como quando os olhos
NĂŁo sabiam de lĂĄgrimas. Ou sabiam,
Como se nĂŁo existissem senĂŁo para.
Saber-te lå onde és (aqui, tão pertinho,
Onde o teu sopro se fechou… ) Alegria
Ainda e sempre… Intacta. Casta toda
Como os mĂĄrmores que nĂŁo quis a emoldurar
Teu corpo de terra. Casta como os ventos.
ArdĂȘncia solar da meia-tarde de cada dia,
Claridade que me nasces no «bom-dia»
Que nos damos, por sob o sol e a chuva
Das horas e dos dias.
Trevas
HaverĂĄ, por hipĂłtese, nas geenas
Luz bastante fulmĂnea que transforme
Dentro da noite cavernosa e enorme
Minhas trevas anĂmicas serenas?!Raio horrendo haverĂĄ que as rasgue apenas?!
NĂŁo! Porque, na abismal substĂąncia informe,
Para convulsionar a alma que dorme
Todas as tempestades sĂŁo pequenas!HĂĄ de a Terra vibrar na ardĂȘncia infinda
Do éter em branca luz transubstanciado,
Rotos os nimbos maus que a obstruem a ĂȘsmo…A prĂłpria Esfinge hĂĄ de falar-vos ainda
E eu, somente eu, hei de ficar trancado
Na noite aterradora de mim mesmo!
O Morcego
Meia noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vĂȘde:
Na bruta ardĂȘncia orgĂąnica da sede,
Morde-me a goela Ăgneo e escaldante molho.“Vou mandar levantar outra parede…”
– Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o tecto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocĂĄ-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tĂŁo feio parto?!A ConsciĂȘncia Humana Ă© este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!