Barriga cheia, cara alegre.
Passagens sobre Barriga
37 resultadosA barriga, de palha e feno se enche.
Ă mau ter os olhos maiores que a barriga.
Maio de Minha MĂŁe
O primeiro de Maio de minha MĂŁe
NĂŁo era social, mas de favas e giestas.
Uma cadeira de pau, flor dos dedos do AvĂŽ
â Polimento, esquadria, engrade, olhĂĄ-la ao longe â
Dava assento a FlorĂĄlia, o meu primeiro amor.JĂĄ nĂŁo se usa poesia descritiva,
Mas como hei-de falar da Maromba de Maio
Ou, se era macho, do litro de vinho na sua mĂŁo?
O primeiro de Maio nas Ilhas, morno como uma rosa,
Algodoado de cĂșmulos, lento no mar e rapioqueiro
Como Baco em CamÔes,
LĂmpido de azeviche
E, afinal de contas, do ponto de vista proletĂĄrio,
Mais de mĂŁos na algibeira do que Lenine em Zurich.
(Porque foi por esta época: eu é que não sabia!)A minha Maromba tinha barriga de palha como as massas
E a foice roçadoira da erva das cabras do Ribeiro
Que se pegou, esquecida, no banco do martelo de meu AvĂŽ
Cujas quedas iguais, gravĂficas, profundasMuito prego em cunhal deixaram,
Muita madeira emalhetaram,
Muita estrela atraĂram ao bico da foice do Ribeiro
Nas noites de luar em que roçava erva às cabras.
Barriga da perna nĂŁo sente cĂłlicas.
Barriga cheia, pé na estrada.
A barriga nĂŁo tem ouvido.
Barriga lisa nĂŁo quer camisa.
A barriga de palha a feno se enche.
Retrato de um BĂȘbado
Perdi-me vendo a pipa, o torno aberto;
Minha alma estĂĄ metida em vinho tinto;
TĂŁo bĂȘbado estou que jĂĄ nĂŁo sinto
Ser bĂȘbado coberto ou encoberto.Tenho a cama longe, o sono perto,
No chĂŁo estou e erguer-me nĂŁo consinto,
A barriga de inchada aperta o cinto,
Falando estou dormindo qual desperto.Venha mais vinho e dĂȘem-mo vezes cento,
Que alegra o coração, sustenta a vida,
E pouco vai que engrosse o entendimento.Vingar-me quero, que Ă© grande a bebida;
Tudo o que nĂŁo Ă© beber Ă© lixo e vento,
Que para tĂŁo grande gosto Ă© curta a vida.
Falar, nĂŁo enche barriga.
A barriga manda a perna.
Escrever Ă© Triste
Escrever Ă© triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vĂŁo dizendo, enquanto lĂĄ fora a vida estoura nĂŁo sĂł em bombas como tambĂ©m em dĂĄdivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a vocĂȘ, que estĂĄ de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginĂĄlia, purĂ© de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionĂĄrio.
O que vocĂȘ perde em viver, escrevinhando sobre a vida. NĂŁo apenas o sol, mas tudo que ele ilumina. Tudo que se faz sem vocĂȘ, porque com vocĂȘ nĂŁo Ă© possĂvel contar. VocĂȘ esperando que os outros vivam, para depois comentĂĄ-los com a maior cara-de-pau (“com isenção de largo espectro”, como diria a bula, se seus escritos fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos outros, para objeto de sua divagação descompromissada. Sereno. Superior. Divino. Sim, como se fosse deus, rei proprietĂĄrio do universo, que escolhe para o seu jantar de notĂcias um terremoto, uma revolução, um adultĂ©rio grego â Ă s vezes nem isso, porque no painel imenso vocĂȘ escolhe sĂł um besouro em campanha para verrumar a madeira.
Palavras, nĂŁo enchem barriga.
Um homem culto assemelha-se a uma caixa de mĂșsica. Tem duas ou trĂȘs cançÔezinhas na barriga.
Panela no fogo Ă© sinal de barriga vazia.
Mas se eu tivesse ficado em casa, eu seria hoje um chefe respeitado, sabia? E teria uma grande barriga, e muitas vacas e ovelhas.