Passagens sobre Barriga

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Frases sobre barriga, poemas sobre barriga e outras passagens sobre barriga para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

O Amor Era a Festa do InimitĂĄvel

O amor, outrora, era a festa do individual, do inimitĂĄvel, a glĂłria do que Ă© Ășnico, do que nĂŁo suporta qualquer repetição. Mas o umbigo nĂŁo sĂł nĂŁo se revolta contra a repetição, Ă© um apelo Ă s repetiçÔes! Vamos viver, no nosso milĂ©nio, sob o signo do umbigo. Sob este signo, somos todos, tanto um como outro, soldados do sexo, com o mesmo olhar fixo nĂŁo sobre a mulher amada mas sobre o mesmo pequeno buraco no meio da barriga que representa o Ășnico sentido, o Ășnico fim, o Ășnico futuro de todo o desejo erĂłtico.

Por mais talentos com que tenhas sido dotado, nem sempre consegues encher a barriga, ao passo que, se tiveres um instinto apurado, isso garante-te que nunca passarĂĄs fome.

O Mar Da Minha Aldeia É Doce E Calmo

O mar da minha aldeia Ă© doce e calmo
mas se alimenta no sal dos meus olhos.
NĂŁo Ă© azul e reza em negro salmo
quando essas ĂĄguas tragam o fumo eĂłlio

As almas que o conhecem palmo a palmo
sabem do escasso peixe em seu espĂłlio
Ah, vĂĄrzeas alagadas! Onda e espasmo
nessas barrigas d’águas-promontórios

Crianças se alimentam dessa argila
em cuias com chibé de mandioca
farinha de um manå que a fé ventila

Do barro vem barroca que se espoca
na lama de uma origem que destila
febres palustres, fome que se estoca

Um Homem Possui TrĂȘs EstĂŽmagos

– HĂĄ muitos tipos dc comida — disse o coronel MĂ”ller enquanto abanava o filho.- Um homem possui trĂȘs estĂŽmagos: um na barriga, outro no peito e outro na cabeça. O da barriga, toda a gente sabe para que serve; o do peito mastiga a respiração, que Ă© a nossa comida mais urgente. Uma pessoa morre sem ar muito mais depressa do que sem ĂĄgua e pĂŁo. E por fim hĂĄ o estĂŽmago da cabeça, que se alimenta de palavras e de letras. Os primeiros dois estĂŽmagos do homem alimentam-se atravĂ©s da boca c do nariz, ao passo que o terceiro estĂŽmago se alimenta principalmente atravĂ©s dos olhos e dos ouvidos, apesar de usar tudo o resto dc um modo mais subtil.
— Para mim — disse o mordomo —, as palavras são uma grande palermice.

O Homem Amesquinhado

Apesar do quadro negro de uma cĂșpula polĂ­tica e intelectual desvairada e grossa e de um povo abandonado a seu prĂłprio destino, ainda havia ali, no paĂ­s, naquele espantoso verĂŁo de 1955, uma considerĂĄvel energia vital, uma exaltada alegria de viver, acentuada, em alguns lugares e num ou noutro indivĂ­duo, ainda mais possuĂ­do do gozo pleno de um extraodinĂĄrio senso lĂșdico tropical. EstĂĄvamos, poderĂ­amos nos considerar como estando, num dos Ășltimos redutos do ser humano. Depois disso viria o fim, nĂŁo, como todos pensavam, com um estrondo, mas com um soluço. A densa nuvem desceria, nĂŁo, como todos pensavam, feita de molĂ©culas radioativas, mas da grosseria de todos os dias, acumulada, aumentada, transmitida, potenciada. O homem se amesquinharia, vĂ­tima da mesquinharia do seu semelhante, cada dia menos atento a um gesto de gentileza, a um ato de beleza, a um olhar de amor desinteressado, a uma palavra dita com uma precisa propriedade. E tudo começou a ficar densamente escuro, porque tudo era terrivelmente patrocinado por enlatadores de banha, fabricantes de chouriço e vendedores de desodorante, de modo que toda a pretensa graça da vida se dirigia apenas Ă  barriga dos gordos, Ă  tripa dos porcos, ou, no mĂĄximo de finura e elegĂąncia,

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Controlar a Timidez

Nunca consegui controlar a timidez. Quando tive que enfrentar em carne viva a incumbĂȘncia que nos deixou o pai errante, aprendi que a timidez Ă© um fantasma invencĂ­vel. De cada vez que tinha que solicitar um crĂ©dito, mesmo dos combinados de antemĂŁo em lojas de amigos, demorava horas em redor da casa, reprimindo a vontade de chorar e as contracçÔes da barriga, atĂ© que me atrevia por fim, com as mandĂ­bulas tĂŁo apertadas que nĂŁo me saĂ­a a voz. Havia sempre algum comerciante sem coração para me atrapalhar ainda mais: «MiĂșdo parvo, nĂŁo se pode falar com a boca fechada.» Mais de uma vez regressei a casa com as mĂŁos vazias e uma desculpa inventada por mim. Mas nunca mais tornei a ser tĂŁo desgraçado como da primeira vez que quis falar pelo telefone na loja da esquina. O dono ajudou-me com a operadora, pois ainda nĂŁo existia o serviço automĂĄtico. Senti o sopro da morte quando me deu o auscultador. Esperava uma voz serviçal e o que ouvi foi o latido de alguĂ©m que falava no escuro ao mesmo tempo que eu. Pensei que o meu interlocutor tambĂ©m nĂŁo me ouvia e levantei a voz tanto quanto pude. O outro,

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