Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha solidão.
Passagens de Clarice Lispector
1250 resultadosEu queria escrever um livro. Mas onde estão as palavras? Esgotaram-se os significados.
Não sinto loucura no desejo de morder estrelas, mas ainda existe a terra. E porque a primeira verdade está na terra e no corpo. Se o brilho das estrelas dói em mim, se é possível essa comunicação distante, é que alguma coisa quase semelhante a uma estrela tremula dentro de mim.
Eu sou do tipo dos sem tipos.
Cada um de nós é um símbolo que lida com símbolos – tudo ponto de apenas referência ao real. Procuramos desesperadamente encontrar uma identidade própria e a identidade do real. E se nos entendemos através do símbolo é porque temos os mesmos símbolos e a mesma experiência da coisa em si: mas a realidade não tem sinónimos.
Sou cada pedaço infernal de mim.
Eu que simbolicamente morro várias vezes só para experimentar a ressurreição?
E foi tão corpo que foi puro espírito.
Viver é perigoso? Então com sua licença! Não tenho medo. Nasci assim, encantada pela vida…
Vou experimentar tudo o que possa, não quero me ausentar do mundo.
Entender o difícil não é vantagem, mas amar o que é fácil de se amar é uma grande subida na escala humana.
Minha consciência é inconsciente de si mesma, por isso eu me obedeço cegamente.
A Imaginação é a Base do Homem
De tal modo a imaginação é a base do homem — Joana de novo — que todo o mundo que ele tem construído encontra sua justificativa na beleza da criação e não na sua utilidade, não em ser o resultado de um plano de fins adequados às necessidades. Por isso é que vemos multiplicarem-se os remédios destinados a unir o homem às ideias e instituições existentes — a educação, por exemplo, tão difícil — e vemo-lo continuar sempre fora do mundo que ele construiu. O homem levanta casas para olhar e não para nelas morar. Porque tudo segue o caminho da inspiração. O determinismo não é um determinismo de fins, mas um estreito determinismo de causas. Brincar, inventar, seguir a formiga até seu formigueiro, misturar água com cal para ver o resultado, eis o que se faz quando se é pequeno e quando se é grande. É erro considerar que chegamos a um alto grau de pragmatismo e materialismo. Na verdade o pragmatismo — o plano orientado para um dado fim real — seria a compreensão, a estabilidade, a felicidade, a maior vitória de adaptação que o homem conseguisse. No entanto fazer as coisas «para quê» parece-me, perante a realidade,
Chore, grite, ame e diga que valeu, que doeu, que daqui pra frente só vai melhorar. Perdoe, insista, respeite, ame novamente.
Aquilo que Eu não sei, é a minha melhor parte!
Não tenho nenhuma saudade de mim – o que já fui não mais me interessa.
Por enquanto há diálogo contigo. Depois será monólogo. Depois o silêncio. Sei que haverá uma ordem.
Numa experiência pela qual peço perdão a mim mesma, eu estava saindo do meu mundo e entrando no mundo.
A desistência é uma revelação.
Sem uma palavra, mas teu prazer entende o meu.