Passagens sobre Estética

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Frases sobre estética, poemas sobre estética e outras passagens sobre estética para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Simples Soneto

Desejado soneto este que Ă© escrito
sem as firulas graves do solene,
que leva na palavra o simples rito
da fala cotidiana. NĂŁo condene

no entanto, a falta de um estro especioso,
nem de brega rotule esse meu vezo.
Apenas sinta o som oco e poroso
do fundo mar de anĂȘmonas, o peso

rarefeito das algas nos peraus.
Essa cantiga filtra nossos medos,
as culpas e os tabus, e dĂĄ-me o aval
para buscar o simples e em querĂȘ-lo

ornamento de estética espartana
na faxina ao supérfluo que se espana.

Anti-Soneto

Ao MĂĄrio Saa

O nosso drama de portugueses,
O nosso maior drama entre os maiores
Dos dramas portugueses,
É este apego hereditário à Forma:
Ao modo de dizer, aos pontinhos nos ii,
Às vírgulas certas, às quadras perfeitas,
À estilĂ­stica, Ă  estĂ©tica, Ă  bombĂĄstica,
À chave de ouro do soneto vazio
– Que pĂ”e molezas de escravatura
Por dentro do que pensamos
Do que sentimos
Do que escrevemos
Do que fazemos
Do que mentimos.

Sou LĂșcido

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissĂŁo que se lhe vĂȘ na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
NĂŁo sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar…).

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando nĂŁo merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte nĂŁo Ă© ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
‘As normas reais ou sentimentais da vida –
NĂŁo ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
NĂŁo ser pobre a valer, operĂĄrio explorado,
Não ser doente de uma doença incuråvel,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
NĂŁo ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razĂŁo para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razĂŁo para isso supor.

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