Passagens sobre Eunucos

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Ante a Paisagem

Eu fujo da Paisagem. Tenho medo.
Os pinheirais são em marfim bordados.
Sou paisagem-cetim num olhar quedo,
Oiro louco sonhando cortinados.

Fujo de mim porque já sou Paisagem.
Procura-me Satã no meu chorar…
Seus passos, o ruído da folhagem.
Cimos de lírios velhos de luar.

As tuas mãos fechadas e desertas,
Janelas pra o jardim, jamais abertas,
Fiam de mármore um correr de rios…

E os teus olhos cansados de saudades.
Eunucos possuindo divindades…
Hora-luar a de teus olhos frios…

A Janela E O Sol

“Deixa-me entrar, – dizia o sol – suspende
A cortina, soabre-te! Preciso
O íris trêmulo ver que o sonho acende
Em seu sereno virginal sorriso.

Dá-me uma fresta só do paraíso
Vedado, se o ser nele inteiro ofende…
E eu, como o eunuco, estúpido, indeciso,
Ver-lhe-ei o rosto que na sombra esplende.”

E, fechando mais, zelosa e firme,
Respondia a janela: “Tem-te, ousado!
Não te deixo passar! Eu, néscia, abri-me!

E esta que dorme, sol, que não diria
Ao ver-te o olhar por trás do cortinado,
E ao ver-se a um tempo desnudada e fria?!”

O humor ilude-nos como uma faísca num campo escuro. A verve um tanto imoderada, uma corrupção do sentimento que se faz galhofa, um medo de ganhar nome de suspeita virilidade. Quem não troça é beato ou é eunuco.

Afra

Ressurges dos mistérios da luxúria,
Afra, tentada pelos verdes pomos,
Entre os silfos magnéticos e os gnomos
Maravilhosos da paixão purpúrea.

Carne explosiva em pólvoras e fúria
De desejos pagãos, por entre assomos
Da virgindade–casquinantes momos
Rindo da carne já votada a incúria.

Votada cedo ao lânguido abandono,
Aos mórbidos delíquios como ao sono,
Do gozo haurindo os venenosos sucos.

Sonho-te a deusa das lascivas pompas,
A proclamar, impávida, por trompas,
Amores mais estéreis que os eunucos!

Filosofia e Amor são completamente Antagónicos

Entre a filosofia e o amor não há possibilidade de convivência. A filosofia exila a mulher e a mulher exclui a filosofia. Os filósofos são todos cérebro sem coração nem testículos. Aqueles que tiveram mulheres e filhos são filósofos menores, em segunda mão. Os maiores são todos misóginos.
A filosofia tem relação com a castidade: quem se aproxima da mulher não pode alcançar o absoluto. Os filósofos foram eunucos, como Orígenes e Abelardo; ou virgens por eleição, como São Tomás e São Boaventura; ou eternos celibatários, como Platão, Espinosa, Kant, Schopenhauer, Nietzsche, como todos os maiores. Quem teve mulher, como Sócrates, considerou-a empecilho e tortura.
São antes sodomitas, como Séneca e Bacon, ou onanistas, como Rousseau, Kierkegaard e Leopardi – em todos os casos, antifemininos. A mulher é a vida e a filosofia uma espécie de morte; a dona é o primado do sentimento e a filosofia quer ser racionalismo puro; a mulher é capricho e novidade e a filosofia ordem e sistema.
No entanto, a filosofia não se pode vangloriar de vencer, com a sua força, a tentação de Eros – é verdade, ao invés, que a frigidez e a impotência predispõem para a filosofia. Se virem um filósofo marido e pai feliz,

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Do Tempo ao Coração

E volto a murmurar    Do cântico de amor
gerado na Suméria      às novas europutas
Do muito que me dás ao muito que não dou
mas que sempre conservo entre as coisas mais puras

De uma genebra a mais num bar de Amsterdão
a não perder o pé numa praia da Grécia
De tantas       tantas mãos          que nos passam pelas mãos
a tão poucas que são as que nunca se esquecem

De ter visto o começo e o fim da Via Ápia
De ter atravessado o muro de Berlim
De outros muros que não aparecem no mapa
De outros muros que só aparecem aqui

ao barro deste céu que te modela os ombros
ao sopro deste céu que te solta o cabelo
ao riso deste céu que vem ao nosso encontro
quando sabe que nós não precisamos dele

Da pertinaz presença          E da longevidade
do corvo         do chacal            do louco          do eunuco
ao rouxinol que morre em plena madrugada
à rosa que adormece em caules de um minuto

Do que foi noutro tempo a saúde no campo
à lepra que nos rói a paisagem bucólica
Do tempo          ao coração minado pelo cancro
Dos rins             ao infinito incubado na cólera

Do tempo ao coração            mas com pausa na pele
como «Roma by night» entre dois aviões
como passar o Verão numa vogal aberta
como dizer que não         que já não somos dois

Dos rins ao infinito       A este       que não outro
Ao que rola dos rins    Ao que vai rebentar-te
na câmara blindada e nocturna do útero
E nos transfere o fim para um pouco mais tarde

Da curva de entretanto       à entrada do poço
De soletrar em mim       a ler       nas tuas mãos
como é rápido       e lento      e recto       e sinuoso
o percurso que vai do tempo ao coração.

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Os Castrados

Há muitos tipos de castrados.
Há os da casta de cantores
que se afinam na voz mais fina
aleijões de seus dissabores.

Há os de vida feminina
de tarefas vis sem pudores
aios de haréns de concubinas
os assexuados sem rumores.

São todos eunucos forçados
vítimas do mando de autores:
os sultões de sanha assassina
que gozam no estertor das dores.

Castrados morais têm escrotos,
mas gozam com sexo dos outros.