A vaidade é a confiança no «efeito» do nosso valor, o orgulho a confiança em que temos valor.
Passagens de Fernando Pessoa
1382 resultadosSou um homem para quem o mundo exterior é uma realidade interior.
Não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram.
Um paradoxo tem valor só quando o não é.
Faz por agir como os outros e pensar diferentemente deles.
Suave é viver só.
O civismo é simplesmente o medo agudo da opinião dos outros.
Flor que não Dura
Flor que não dura
Mais do que a sombra dum momento
Tua frescura
Persiste no meu pensamento.Não te perdi
No que sou eu,
Só nunca mais, ó flor, te vi
Onde não sou senão a terra e o céu.
Se um homem criar o hábito de se julgar inteligente, não obterá com isso, é certo, um grau de inteligência que não tem; mas fará mais da inteligência que tem do que se julgar estúpido.
Pobre Velha Música!
Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
O que desloca a vulgar saudação – “como está?” – de ser uma indesculpável grosseria é o ser ela em geral absolutamente oca e insincera.
O Amor pede Identidade com Diferença
O amor pede identidade com diferença, o que é impossível já na lógica, quanto mais no mundo. O amor quer possuir, quer tornar seu o que tem de ficar fora para ele saber que se torna seu e não é. Amar é entregar-se. Quanto maior a entrega, maior o amor. Mas a entrega total entrega também a consciência do outro. O amor maior é por isso a morte, ou o esquecimento, ou a renúncia – os amores todos que são os absurdiandos do amor.
(…) O amor quer a posse, mas não sabe o que é a posse. Se eu não sou meu, como serei teu, ou tu minha? Se não possuo o meu próprio ser, como possuirei um ser alheio? Se sou já diferente daquele de quem sou idêntico, como serei idêntico daquele de quem sou diferente? O amor é um misticismo que quer praticar-se, uma impossibilidade que só é sonhada como devendo ser realizada.
Em certos casos, quanto mais nobre é o génio, menos nobre é o destino. Um pequeno génio ganha fama, um grande génio ganha descrédito, um génio ainda maior ganha desespero; um deus ganha crucificação.
A Arte de Representar
A base da representação é a falsidade. A arte do ator consiste em servir-se do drama do autor para mostrar por meio dele a sua capacidade de interpretação. A peça é como uma barra onde o actor mostra as suas habilidades ginásticas. É apenas limitado pelas condições necessárias de uma barra: pode fazer com ela apenas um número limitado de coisas, mas pode fazer de mil formas individuais.
A representação, repito, tem todo o atractivo de uma falsificação. Todos adoramos um falsificador. É um sentimento muito humano e completamente instintivo. Todos adoramos a trapaça e a imitação. A representação une e intensifica, por meio do carácter material e vital das suas manifestações, todos os baixos instintos do instinto artístico — o instinto do enigma, o instinto do trapézio (…). É popular e apreciado por estas razões, ou antes, por esta razão.
A sede de glória do artista é feita carne na sede de aplauso do actor. Todo o aparecimento em público é baixo. Todas as assembleias são multidões, e se não suadas de corpo, pelo menos suadas de emoções.
Todos os espíritos grosseiros adoram falar. Ser falador é já por si vulgar. A única coisa que torna a verbosidade interessante é a profanidade e a obscenidade,
Tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Saber interpor-se constantemente entre si próprio e as coisas é o mais alto grau de sabedoria e prudência.
Alague o seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
E então vem-me o desejo transbordante, absurdo, de uma espécie de satanismo que precedeu Satã, de que um dia […] se encontre uma fuga para fora de Deus e o mais profundo de nós deixe, não sei como, de fazer parte do ser ou do não ser.
O povo nunca é humanitário. O que há de mais fundamental na criatura do povo é a atenção estreita aos seus interesses, e a exclusão cuidadosa, praticada sempre que possível, dos interesses alheios.
Eu mesmo, que sufoco onde estou e porque estou, onde respiraria melhor, se a doença é dos meus pulmões e não das coisas que me cercam?