E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistĂ©rio. Sou uma sĂł… Sou um ser. E deixo que vocĂŞ seja. Isso lhe assusta? Creio que sim. Mas vale a pena. Mesmo que doa. DĂłi sĂł no começo.
Frases Interrogativas de Clarice Lispector
121 resultadosEstrelas sĂŁo os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, ?sempre? nĂŁo acaba nunca.
Quem, como eu, estava chamando o medo de amor? E querer, de amor? E precisar, de amor?
Gastar a vida é usá-la ou não usá-la? Que é que estou exactamente querendo saber?
E dizer que nunca, nunca dei isto que estou sentindo a ninguém e a nada. Dei a mim mesma?
Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranquila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra «monumento». E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.
Deus, o que nos prometei em troca de morrer? Pois o cĂ©u e o inferno nĂłs já os conhecemos – cada um de nĂłs em segredo quase de sonho já viveu um pouco do prĂłprio apocalipse. E a prĂłpria morte.
Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu nĂŁo falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia. O que nĂŁo sei dizer Ă© mais importante do que o que eu digo.
Nunca houve ? em todo o passado do mundo ? alguém que fosse como ela. E depois, em três trilhões de trilhões de anos ? não haveria uma moça exatamente como ela.
Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu? Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim – enfim, mas que medo – de mim mesma.
Não há pessoas que costuram para fora? Eu costuro para dentro.
Para vermos o azul, olhamos para o céu. A Terra é azul para quem a olha do céu. Azul será uma cor em si, ou uma questão de distância? Ou uma questão de grande nostalgia? O inalcançável é sempre azul.
Me mato? NĂŁo. Vivo como bruta resposta. Estou aĂ para quem me quiser…
Para falar a verdade, nunca estive tĂŁo bem. Por quĂŞ? NĂŁo quero saber por quĂŞ.
Às vezes possui-se o mais alto e no fim da vida tem-se a impressão de que se está morrendo virgem. É que as coisas não são talvez mais altas e mais baixas. De qualidade diferente, entende?
Será que Deus sabe que existe? Acho que Deus não sabe que existe. Tenho quase a certeza de que não. E daà vem a sua veemente força.
Porque eu insisto em querer o mais difĂcil ? O que Ă© mais difĂcil me atrai.
Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa? Quero antes afiançar que essa moça não se conhece senão através de ir vivendo à toa.
Se eu esperar compreender para aceitar as coisas – nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se sabe andar e – milagre – se anda.
A raiva é a minha revolta mais profunda de ser gente? Ser gente me cansa. Há dias que vivo da raiva de viver.