As ideias envelhecem dentro dos livros, da mesma forma que envelhecem dentro da cabeça. Na cabeça, antes do mundo, e nos livros, depois do mundo, as ideias podem envelhecer e morrer ou, tantas vezes, podem envelhecer e só nesse momento serem reconhecidas como ideias, só nesse momento nascerem de facto.
Frases de JosĂ© LuĂs Peixoto
176 resultadosHá livros a serem escritos, paixões a animarem-se e silêncio em tantos lugares. A vida parece ter o tamanho do sol e eu, que tenho sempre tanto em que pensar, perco-me no meu próprio alcatrão.
Tu Ă©s aquilo que eu sei sobre a ternura. Tu Ă©s tudo aquilo que eu sei. Mesmo quando nĂŁo estavas lá, mesmo quando eu nĂŁo estava lá, aprendĂamos o suficiente para o instante em que nos encontrámos.
Ă€s vezes, tenho medo de estar a criar uma distância insuperável entre mim e as pessoas que me sĂŁo queridas. O perigo nĂŁo Ă© a distância fĂsica, os milhares de quilĂłmetros que muitas vezes nos separam, o perigo Ă© deixarmos de nos entender. Mesmo ausentes, continuamos a existir em todos os momentos.
Já diziam os antigos que há duas maneiras de procurar: uma Ă© andar Ă s voltas Ă procura daquilo que se perdeu, outra Ă© ficar num sĂtio Ă espera que aquilo que se perdeu nos encontre.
Tenho medo que os meus filhos nunca cheguem a entender aquilo que lhes conto quando ficamos em silêncio, quando o tempo passa e estamos juntos, no mesmo lugar, eu a conduzir em viagens longas com horizonte e eles, ao meu lado, a olharem pela janela, ou quando é fim da tarde, também com horizonte, em silêncio.
A vida é um tempo indiviso. Nenhuma provação pode ser recusada sem que se recuse a própria vida.
Havemos sempre de lamentar o tanto que esquecemos, o tanto que perdemos quando aquilo que procurávamos era o caminho em frente, era seguir, crescer, construir.
Para a escrita de um texto literário, ter uma ideia é tão importante como ter um computador. Conseguir uma mesa é facultativo mas tem a sua importância. Uma folha de papel de nada serve sem uma esferográfica ou um lápis. Para escrever um texto literário, é absolutamente essencial escrevê-lo.
NĂŁo sei distinguir o possĂvel do impossĂvel, mas sou capaz de imaginá-los a ambos. E talvez a verdade esteja espalhada ou escondida em alguma parte desse infinito. Se isso nĂŁo Ă© extraordinário, desisto.
Penso: um castigo é a vida, um castigo sem falta ou pecado, um castigo sem salvação; a vida é um castigo que não se impede e que não se consente.
Para cada um existe uma morte, e essa morte que é diferente de homem para homem, como é diferente a vida, faz-nos caminhar entre tudo o que é negro para nós, entre toda a solidão, gritando para ninguém tudo o que podemos amar.
Nem eu nem tu compreendemos o medo. Nunca consegui entender a razĂŁo por que, nos filmes e nos desenhos animados, está implĂcito o medo de fantasmas que apenas pairam e que, Ă s vezes, fazem buu. Compreendo o susto, nĂŁo compreendo o medo.
Nunca dês demasiado a um poeta, arrepender-te-à s. São sempre os últimos a encontrar estacionamento para o carro, mas quando chove não se molham, passam entre as gotas da chuva. Não por serem mágicos, ou serem magros, mas por serem parvos. A falta de sentido prático dos poetas não tem graça.
A liberdade, por si sĂł, Ă© um conceito vago e amoral.
Resolvem-se mais provas pela ciência e pela arte do que pela força de pernas e braços.
Considero-me prático e funcional. Respondi sempre pelo lado do senso comum. Dizer que estava tudo bem era a minha maneira de dizer que não estava doente, que não tinha sido preso e que contava regressar a casa como combinado.
Os homens são uma parte pequena do mundo, e eu não compreendo os homens. Sei o que fazem e as razões imediatas do que fazem, mas saber isso é saber o que está à vista, é não saber nada. Penso: talvez os homens existam e sejam, e talvez para isso não haja qualquer explicação; talvez os homens sejam pedaços de caos sobre a desordem que encerram, e talvez seja isso que os explique.
NĂŁo sei o que Ă© a loucura ou a normalidade. Para escrever Ă© importante fugir da norma, mas duvido que isso seja a loucura.
Existe aquele tempo parado. Aquela dor que nĂŁo tem nome. Todos os dias entramos e saĂmos por portas, todos os dias respiramos, todos os dias erguemos a memĂłria do mundo: manhĂŁs de sol. Ă€s vezes, duvidamos do tempo. Sabemos rir. Tentamos planos como crianças que dĂŁo os primeiros passos.