Frases sobre Sempre de Miguel Esteves Cardoso

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Frases de sempre de Miguel Esteves Cardoso. As mais belas frases e mensagens de Miguel Esteves Cardoso para ler e compartilhar.

A base de uma cultura gastronómica é sempre a pobreza – bem dizem os ingleses que a necessidade é mãe da invenção. Ou alguma vez o nosso receituário de bacalhau seria tão rico como é se o bacalhau, durante os séculos em que estimulou a criatividade caseira, estivesse ao preço que está hoje? Quem inventaria as iscas se pudesse comer sempre bifes do lombo?

Não é pela cara que se topam os portugueses. É pela expressão. Os portugueses têm sempre cara de caso. É gente aflita. É um povo que exterioriza o que lhe vai nas entranhas, como um daqueles modelos médicos com pele de plástico transparente. Os portugueses têm cara de preocupados.

Tanto a ciência como a religião estão muito atrasadas e são, desproporcionalmente, arrogantes e ambiciosas de mais, querendo ou sonhando explicar tudo o que é, sempre foi e manter-se-á incompreensível. Para o nosso bem ou mal: não somos capazes de fazer ideia.

Para se ser feliz é preciso ser-se um bocado parvo. Eu, por exemplo, sou. A felicidade é inversamente proporcional a uma série de coisas de boa fama, como a sabedoria, a verdade e o amor. Quando se sabe muito, não se pode ser muito feliz. A verdade é quase sempre triste.

Porque é que é sempre nos momentos em que estamos mais cansados ou mais felizes que sentimos mais a falta das pessoas de quem amamos? O cansaço faz-nos precisar delas. Quando estamos assim, mais ninguém consegue tomar conta de nós. O cansaço é uma coisa que só o amor compreende. A minha mãe. O meu amor. E a felicidade. A felicidade faz-nos sentir pena e culpa de não a podermos participar. É por estarmos de uma forma ou de outra sozinhos que a saudade é maior.

O grande amor nunca pode acabar bem. Mesmo que ambos morram ao mesmo tempo, num desastre, será sempre uma tragédia. Assim é com todos os amores que temos: morremos enquanto os amamos. Morre quem amamos e, ao mesmo tempo, quem nos amava.

A tentação de quem desespera de Portugal comparando-o a um outro Portugal melhor, situado num passado irrecuperável ou num futuro impossível, é de deixar, eventualmente, de pensar em Portugal. No entanto, é esse o verdadeiro perigo: Portugal deixar de ser, para os portugueses, o problema doloroso e difícil que sempre foi, para passar a ser um mero paradeiro, um sítio onde se vive.