Quem não tem quem ama tende a encontrar as mais improváveis ocupações.
Passagens de Pedro Chagas Freitas
270 resultadosA vida vale muito pela qualidade das separações que nos dá, pela profundidade das saudades, por exemplo, quem nunca chorou que nem um maluco nunca amou que nem um maluco.
As lágrimas também acontecem para dignificar o prazer, as pessoas que nunca amaram assim são equilibradas mas provavelmente não são pessoas.
Ninguém espera uma vida toda por algo que não possa valer por toda uma vida.
É importante sonhar cansado, desgastar as oportunidades, dar-lhes dia-a-dia, rotina, consistência, uma lua que se possa tocar, é isso, é importante sonhar cansado, sonhar é amar por dentro.
Éramos proibidos mas amámo-nos à maneira de Deus, até que a morte nos separasse, claro está, o problema é que havia várias mortes para experimentar e é por isso que ainda aqui estamos, quantas vezes é possível amar-te pela primeira vez?
Só quem nunca deixa de ser completamente de si consegue ser completamente de outra pessoa.
Há que amar por inteiro mas apenas aos pedaços.
Altura: medição do medo. Sabes que é altura de quando tens medo de.
O mundo existe quando existe o amor, o resto é qualquer coisa que nunca tornou ninguém inesquecível, é de quem ama que se faz a história, um país, uma mulher, um homem, um ideal.
Amar é guardar com o outro o segredo que partilhamos com ele.
A Subfelicidade
O que mais dói não é – desengana-te – a infelicidade. A infelicidade dói. Magoa. Martiriza. É intensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar. Mas a infelicidade não é o que mais dói. A infelicidade é infeliz – mas não é o que mais dói.
O que mais dói é a subfelicidade. A felicidade mais ou menos, a felicidade que não se faz felicidade, que fica sempre a meio de se ser. A quase felicidade. A subfelicidade não magoa – vai magoando; a subfelicidade não martiriza – vai martirizando. Não é intensa – mas é imensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar – mas em silêncio, em surdina, em anonimato. Como se não fosse. Mas é: a subfelicidade é. A subfelicidade faz-te ficar refém do que tens – mas nem assim te impede de te sentires apeado do que não tens e gostarias de ter. Do que está ali, sempre ali, sempre à mão de semear – e que, mesmo assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade é o piso -1 da felicidade. E não há elevador algum que te leve a subir de piso. Tens de ser tu a pegar nas tuas perninhas e a subir as escadas. Anda daí.
O amor serve para muitas coisas mas nunca para receber.
O amor sabe ao começo das férias grandes, o calor a aparecer e possibilidades infinitas à frente, o dia acaba quando adormecemos, mas quando adormecemos adormecemos juntos, e então não acaba nada.
O amor é bem capaz de ser a melhor maneira de nos encontrarmos connosco. Preciso de ti para saber de mim.
Os livros não se lêem, lêem-nos.
Não tenhas dúvidas: quem se dá bem com toda a gente não se dá, em essência, a ninguém.
A verdadeira fusão não é a de duas pessoas que se amam – é a de duas pessoas que se exploram.
Janela: medição do ângulo de queda da dor. Só penas por aquilo que podes ver.
O amor é bem capaz de ser a sensação de que podemos cair e nem isso nos fazer parar.