Poemas sobre Amantes

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Poemas de amantes escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Poema de Amor

Teu rosto, no meu rosto, descansado.
Meu corpo, no teu corpo, adormecido.
Bater de asas, tĂŁo longe, noutro tempo,
sem relógio nem espaço proibido.

Oh, que atĂłnitos olhos nos contemplam,
nos sorriem, nos dizem: Sossegai!
Românticos amantes, viajantes eternos,
olham por nĂłs na hora que se esvai!

Que mĂşsica de prados e de fontes!
Que riso de águas vem para nos levar?
Meu rosto, no teu rosto de horizontes,
Meu corpo, no teu corpo, a flutuar.

DispersĂŁo

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida…

Para mim Ă© sempre ontem,
NĂŁo tenho amanhĂŁ nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:

Porque um domingo Ă© familia,
É bem-estar, é singeleza,
E os que olham a beleza
NĂŁo tĂŞm bem-estar nem familia).

O pobre moço das ânsias…
Tu, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que te abismaste nas ânsias.

A grande ave dourada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traĂ­u a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projecto:
Se me olho a um espelho,

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Pronto para Receber a Felicidade

Estava tudo pronto para receber a felicidade,
e tu nĂŁo vinhas.

Amei-te muito antes de te amar. Éramos o que
os amantes eram e nem precisávamos de
corpo para isso, porque o que dizĂ­amos nos
satisfazia, e sempre que a vida acontecia era um
ao outro que tínhamos de falar. Se há coisa que
temo no mundo Ă© o teu fim. Passo horas a sentir-me
indestrutĂ­vel, a ter a certeza de que nada me
toca, de que nada me poderá doer o suficiente para
me fazer recuar, e depois vens tu. Tu e a tua imagem
a perder de vista, os teus olhos quando me olhas, a
tua boca quando me falas, e Ă© entĂŁo que percebo
que sou finito, pobre humano, e desato a chorar Ă 
procura do telefone e de uma palavra tua que
me convença de que ainda existes. É na possibilidade
do teu fim que encontro a humildade.

Era o dia mais lindo de sempre na terra onde eu estava,
e tu nĂŁo vinhas.

NĂŁo se sabe onde acaba o mundo mas eu sei que
a vida acaba no fundo dos teus lábios.

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Os Amantes de Novembro

Ruas e ruas dos amantes
Sem um quarto para o amor
Amantes sĂŁo sempre extravagantes
E ao frio também faz calor

Pobres amantes escorraçados
Dum tempo sem amor nenhum
Coitados tĂŁo engalfinhados
Que sendo dois parecem um

De pé imóveis transportados
Como uma estátua erguida num
Jardim votado ao abandono
De amor juncado e de outono.

Canção porque (não) Morres

Este Ă© o Ăşltimo livro, prometia
como alguém que tivesse esquecido
que assim sempre tinha sido – aquele
era o último e depois que alguém viesse
fechar a porta contra o som do mar.
– Pagava por jogar no escuro
e por aqueles ardis já gastos
com que pensava e nĂŁo pensava
enganar a morte branca e vermelha.
– Ah e nĂŁo esqueças: – deitar fora a chave

Canção como não morres
se é a morte que em ti sobe até à fonte
do sangue, até à flor do sal queimando
os dedos; até à boca que por te cantar
se acende negra; até à copa
das árvores que distribuem o sol
sobre o corpo morto do amor
amante e desamado?

Ou antes: de que morres, por que morres
tu, canção já sem voz, já
sem o canto,
– já sem outro assunto
de momento, me despeço de todos vós-
quem falou agora? – Que importa quem falou?
– Que importa? Nada e nonada. E, sim, tudo
Ă© tudo o que importa, para quem veio
mandado a que chamasses quem
tivesse chamado.

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NĂŁo!

Tenho-te muito amor,
E amas-me muito, creio:
Mas ouve-me, receio
Tomar-te desgraçada:
O homem, minha amada,
NĂŁo perde nada, goza;
Mas a mulher Ă© rosa…
Sim, a mulher Ă© flor!

Ora e a flor, vĂŞ tu
No que ela se resume…
Faltando-lhe o perfume,
Que Ă© a essĂŞncia dela,
A mais viçosa e bela
VĂŞ-a a gente e… basta.
SĂŞ sempre, sempre, casta!
Terás quanto possuo!

Terás, enquanto a mim
Me alumiar teu rosto,
Uma alma toda gosto,
Enlevo, riso, encanto!
Depois terás meu pranto
Nas praias solitárias…
Ondas tumultuárias
De lágrimas sem fim!

Ă€ noite, que o pesar
Me arrebatar de cada,
Irei na campa rasa
Que resguardar teus ossos,
Ah! recordando os nossos
TĂŁo venturosos dias,
Fazer-te as cinzas frias
Ainda palpitar!

Mil beijos, doce bem,
Darei no pĂł sagrado,
Em que se houver tornado
Teu corpo tĂŁo galante!
Com pena, minha amante,
De nĂŁo ter a morte
CaĂ­do a mim em sorte…
Caído em mim também!

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Cantata de Dido

Já no roxo oriente branqueando,
As prenhes velas da troiana frota
Entre as vagas azuis do mar dourado
Sobre as asas dos ventos se escondiam.
A misérrima Dido,
Pelos paços reais vaga ululando,
C’os turvos olhos inda em vĂŁo procura
O fugitivo Eneias.
Só ermas ruas, só desertas praças
A recente Cartago lhe apresenta;
Com medonho fragor, na praia nua
Fremem de noite as solitárias ondas;
E nas douradas grimpas
Das cĂşpulas soberbas
Piam nocturnas, agoureiras aves.
Do marmĂłreo sepulcro
AtĂłnita imagina
Que mil vezes ouviu as frias cinzas
De defunto Siqueu, com débeis vozes,
Suspirando, chamar: – Elisa! Elisa!
D’Orco aos tremendos numens
SacrifĂ­cios prepara;
Mas viu esmorecida
Em torno dos turĂ­cremos altares,
Negra escuma ferver nas ricas taças,
E o derramado vinho
Em pélagos de sangue converter-se.
Frenética, delira,
Pálido o rosto lindo
A madeixa subtil desentrançada;
Já com trémulo pé entra sem tino
No ditoso aposento,
Onde do infido amante
Ouviu, enternecida,
Magoados suspiros, brandas queixas.
Ali as cruéis Parcas lhe mostraram
As ilĂ­acas roupas que,

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O Amor Limitado

Algum homem indigno de ser possuidor
De amor velho ou novo, sendo ele prĂłprio falso ou fraco,
Pensou que a sua dor e vergonha seriam menores
Se a sua ira sobre as mulheres descarregasse.
E entĂŁo uma lei nasceu:
Que cada uma um sĂł homem conhecesse.
Mas sĂŁo assim as outras criaturas?

SĂŁo o sol, a lua, as estrelas proibidos por lei
De sorrir para onde lhes apetece, ou de esbanjar a sua luz?
Divorciam-se os pássaros, ou são censurados
Se abandonam o seu par, ou dormem fora uma noite?
Os animais não perdem as suas pensões
Ainda que escolham novos amantes,
Mas nós fizémo-nos piores do que eles.

Quem já armou belos navios para ancorar nos portos,
Em vez de buscar novas terras, ou negociar com todos?
Ou construiu belas casas, plantou árvores e arbustos,
Apenas para as trancar, ou então deixá-los cair?
O Bom nĂŁo Ă© bom, a nĂŁo ser
Que mil coisas possua,
Mas arruĂ­na-se com a avidez.

Tradução de Helena Barbas

Quando Analiso a Conquistada Fama

Quando analiso
a conquistada fama dos herĂłis
e as vitĂłrias dos grandes generais,
nĂŁo sinto inveja desses generais
nem do presidente na presidĂŞncia
nem do rico na sua vistosa mansĂŁo;
mas quando eu ouço falar
do entendimento fraterno entre dois amantes,
de como tudo se passou com eles,
de como juntos passaram a vida
através do perigo, do ódio, sem mudança
por longo e longo tempo atravessando
a juventude e a meia-idade e a velhice
sem titubeios, de como leais
e afeiçoados se mantiveram
— aí então é que eu me ponho pensativo
e saio de perto Ă  pressa
com a mais amarga inveja.

Aquella Orgia

NĂłs eramos uns dez ou onze convidados,
– Todos buscando o gozo e achando o abatimento,
E todos afinal vencidos e quebrados
No combate da Vida inutil e incruento.

Tocava o termo a ceia – e ia surgindo o alvor
Da madrugada vaga, etherea e crystallina,
A alguns trazendo a vida, e enchendo outros de horor,
Branca como uma flor de prata florentina.

Todos riam sem causa. – A estolida batalha
Da Materia e da Luz travara-se afinal,
E eram já côr de vinho os risos e a toalha,
– E arrojavam-se ao ar os copos de crystal.

Crusavam-se no ar ditos como facadas;
Escandalos de amor, historias sensuaes…
– Rolavam nos divans caindo, ás gargalhadas,
Sujos como truões, torpes como animaes.

Um agitando o ar com risos desmanchados,
Recitava canções, farças, Hamlet e Ophelia;
– Outro perdido o olhar, e os braços encruzados,
De bruços, n’um divan, roia uma camelia!

Outros fingindo a dĂ´r, fallavam dos ausentes,
Das amantes, dos paes, com gritos d’afflicção,
– Um brandia um punhal, com ditos incoherentes;

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O Abraço

(excerto)

NĂŁo vĂŞs inda, de gosto sufocados,
Um noutro nossos peitos esculpidos?
NĂŁo sentes nossos rostos tĂŁo chegados
E ainda mais os corações unidos?
Oh! Mais, mais do que unidos!
Tu fizeste, Doce encanto, que eu fosse mais que teu.
Lembra, lembra-te quando me disseste:
– Meu bem, eu nĂŁo sou tu?… Tu nĂŁo Ă©s eu?

Goza, de todo goza o teu amante;
E unidos ambos… -Oh!… e estás tĂŁo perto!…
Meu bem, deliro, sonho ou estou desperto?
Ambos unidos em mimoso laço,
Faces, bocas unidas… Ah! que faço?…
É ar… Quando que a abraço me parece,
A mim me abraço e em ar se desvanece.
Mas que duvido com abraço estreito
Cingir-me?… Dize, nĂŁo Ă©s seu, meu peito?…
[…]
Goza, meu bem (enquanto a Sorte avara
Com tanta crueldade nos separa)
Goza do alĂ­vio, que nos concedeu,
De dizer com certeza: É minha! – É meu!…

Rosa Pálida

Rosa pálida, em meu seio
Vem, querida, sem receio
Esconder a aflita cor.
Ai!, a minha pobre rosa!
Cuida que Ă© menos formosa
Porque desbotou de amor.

Pois sim… quando livre, ao vento,
Solta de alma e pensamento,
Forte de tua isenção,
Tinhas na folha incendida
O sangue, o calor e a vida
Que ora tens no coração.

Mas nĂŁo eras, nĂŁo, mais bela,
Coitada, coitada dela,
A minha rosa gentil!
Coravam-na entĂŁo desejos,
Desmaiam-na agora os beijos…
Vales mais mil vezes, mil.

Inveja das outras flores!
Inveja de quĂŞ, amores?
Tu, que vieste dos CĂ©us,
Comparar tua beleza
Ă€s filhas da natureza!
Rosa, nĂŁo tentes a Deus.

E vergonha!… de quĂŞ, vida?
Vergonha de ser querida,
Vergonha de ser feliz!
PorquĂŞ?… porquĂŞ em teu semblante
A pálida cor da amante
A minha ventura diz?

Pois, quando eras tĂŁo vermelha
Não vinha zângão e abelha
Em torno de ti zumbir?
NĂŁo ouvias entre as flores
HistĂłrias dos mil amores
Que nĂŁo tinhas,

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Lisboa

De certo, capital alguma n’este mundo
Tem mais alegre sol e o ceu mais cavo e fundo,
Mais collinas azues, rio d’aguas mais mansas,
Mais tristes procissões, mais pallidas creanças,
Mais graves cathedraes – e ruas, onde a esteira
Seja em tardes d’estio a flor de larangeira!

A Cidade Ă© formosa e esbelta de manhĂŁ! –
É mais alegre então, mais limpida, mais sã;
Com certo ar virginal ostenta suas graças,
Ha vida, confusão, murmurios pelas praças;
– E, ás vezes, em roupĂŁo, uma violeta bella
Vem regar o craveiro e assoma na janella.

A Cidade Ă© beata – e, ás lucidas estrellas,
O Vicio á noute sae ás ruas e ás viellas,
Sorrindo a perseguir burguezes e estrangeiros;
E á triste e dubia luz dos baços candieiros,
– Em bairos sepulchraes, onde se dĂŁo facadas –
Corre ás vezes o sangue e o vinho nas calçadas!

As mulheres sĂŁo vĂŁs; mas altas e morenas,
D’olhos cheios de luz, nervosas e serenas,
Ebrias de devoções, relendo as suas Horas;
– Outras fortes, crueis, os olhos cĂ´r d’amoras,

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Já quasi até Morria

Já quasi até morria
C’os olhos nos da amada.
E ela que se sentia
NĂŁo menos abrasada:
– “Ai, caro Atfes! – dizia –
NĂŁo morras inda, espera
Que eu contigo morrer também quisera”
A ânsia com que acabava
A vida, Atfes, refreia,
E, enquanto a dilatava,
Morte maior o anseia.
Os olhos nĂŁo tirava
Dos do Ă­dolo querido,
Nos quais bebia o NĂ©ctar diluĂ­do.

Quando a gentil Pastora,
Sentindo já chegada
Do doce gosto a hora,
Com a vista perturbada
Disse, tremendo: – “Agora
Morre, que eu morro, amor”
– “E eu – disse ele – contigo”
Viram-se desta sorte
Os dois finos amantes
Mortos ambos de um tal corte;
E os golpes penetrantes
Desta casta de morte
Tanto lhe agradaram,
Que para mais morrer recuscitaram.

Agora Mesmo

Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a morrer e nós também

Está gente a despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já passou Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
Tu prĂłprio te despedes de ti prĂłprio
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele

Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a
[despedir-se

A Terra gira e nós também A Terra morre e nós
Também
NĂŁo Ă© possĂ­vel parar o turbilhĂŁo
Há um ciclone invisível em cada instante
Os pássaros voam sobre a própria despedida
As folhas vĂŁo-se e nĂłs
Também
Não é vento É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Amen

Amor Sem Fruto, Amor Sem Esperança

Amor sem fruto, amor sem esperança
É mais nobre, mais puro,
Que o que, domando a ríspida esquivança,
Jaz dos agrados nas prisões seguro.
Meu leal coração, constante e forte,
Vendo a teu lado acesos,
Flérida ingrata, os ódios, os desprezos,
O rigor, a tristeza, a raiva, a morte,
Forjando contra mim, por ordem tua,
Mil setas venenosas,
Em prémio destas lágrimas saudosas,
Inda assim continua
A abrasar-se em teus olhos… Vis amantes,
Corações inconstantes,
De sórdidas paixões envenenados,
VĂłs, a cujos ardores,
A cujos desbocados
Infames apetites
A Virtude, a Razão não põe limites,
Suspirai por ilĂ­citos favores,
Cevai-vos em torpĂ­ssimos desejos,
Tratai, tratai de louco um amor casto,
Que eu nos grilhões que arrasto;
TĂŁo limpos como o Sol, darei mil beijos.
Peçonhenta aliança,
Vergonhoso prazer, de vĂłs nĂŁo curo;
De ti, sim, porque Ă©s puro,
Amor sem fruto, amor sem esperança.

A um Mosquito

InvencĂ­vel mosquito,
Émulo do mais livre pensamento,
Sem corpo, e de todo espĂ­rito,
Que deste fim a um tĂŁo alto intento,
Quando precipitado
O céu de Délia acometeste ousado.

As portas de diamante
Cerradas ao clamor de tanta gente
Abriste triunfante,
Zombando da esperança impertinente,
Que entre temor, e espanto
Nunca acabou comigo esperar tanto.

Cupido, que inquieta
DĂ©lia sentiu ferida,
Espera, que o sinta,
A lança, que tiraste em sangue tinta,
Que o peito endurecido
É prova das setas de Cupido.

Porém de nada disto
Te mostres tĂŁo soberbo, e presumido,
Que podes sem ser visto
Passar a mais ferir, sem ser sentido,
E para castigar-te,
NĂŁo ocupas lugar nalguma parte.

Foras de amor ferido,
Se tivera o teu erro algum desconto,
Ou se achara Cupido
Aonde a ponta da seta pĂ´r o ponto.
Condolação bastante;
Pois nĂŁo picaste a DĂ©lia como amante.

Buscaste a noite escura
Por cometer a DĂ©lia mais oculto;
Quem medo te afigura,
Se nĂŁo faz o teu corpo nenhum vulto,

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A Ultima Serenada do Diabo

No tempo em que elle, nas lendas,
Era amante e cortezĂŁo,
Jogava, e tinha contendas,
Cantava assim em MilĂŁo:

……………………………………
……………………………………
……………………………………

Ă“ flores meigas, Ăł Bellas!
Para prender os toucados,
Eu dar-vos-hia as estrellas:
– Os alfinetes dourados!

SĂł pelo amor quebro lanças! –
A Rainha de Navarra
Enleou um dia as tranças
No braço d’esta guitarra!

Sou um heroe perseguido!…
Mas inda ha luz nos meus rastros;
A lança que me ha ferido
Foi feita do ouro dos astros!

Mas um dia, Ăł bem amadas!
Eu tornaria ás alturas…
Subindo pelas escadas
Das vossas tranças escuras!

O amor que em meu peito cabe
NĂŁo conta diques, Ăł bellas!
SĂł minha guitarra o sabe,
E aquellas velhas estrellas!

Ă“ batalhas amorosas!
– Era d’aventuras cheia!
Ă“ brancas noutes saudosas
Que eu andei pela Judea!

Ă“ flores apetecidas!
Livros escriptos com beijos!
Ă“ brancas aves fugidas
Dos jardins dos meus desejos!

NĂŁo me deixeis no abandono
Ă“ tristes olhos leaes!

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Bailados do Luar

PĂ©talas de rosas
tombam lentamente, silenciosas…
E de vagar
vem entrando
a farândola rítmica
e silente
dos gĂłticos bailados do luar!…

Sobre as dobras macias
e assediantes
da seda do meu leito desmanchado,
esguias sombras
adelgaçando afagos,
poisam no meu peito desvestido…
E a boca hipnĂłtica e algente
do meu luarento amante,
vai esculpindo o meu corpo
pálido e vencido!…

No espaço azul e vago,
esvoaça subtiltmente
a cálida lembrança
da tua voz!

Busco a verdade viva do teu beijo
e encontro apenas
esta estranha heresia,
crispando o alvo recorte
do meu corpo magoado!…

Estilhaçam-se, vibrando
numa ânsia doentia,
os meus nervos nostálgicos,
irreverentes
empalidecendo
em dolĂŞncias inocentes
o rubor do meu desejo
insaciado…

As rosas vĂŁo tombando lentamente,
devagar,
sobre a carĂ­cia dormente
e embruxada…
dos espásmicos beijos do luar…
Oiço a tua voz
em toda a parte!

E perco-me dentro dos meus próprios braços,
tumultuosos e exigentes,

a procurar-te!

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Cavalo Ă  solta

Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.

Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denĂşncia do que pensa
do que sente a gente certa.

Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo Ă  solta
pela margem do teu corpo.

Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.

Por isso digo
canção castigo
amĂŞndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.

Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.