Poemas sobre Anos

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Poemas de anos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Ante Tamanhas Mudanças

Antre tamanhas mudanças,
que cousa terei segura?
Duvidosas esperanças,
tĂŁo certa desaventura…

Venham estes desenganos
do meu longo engano, e vĂŁo,
que já o tempo e os anos
outros cuidados me dĂŁo.
Já não sou para mudanças,
mais quero ĂĽa dor segura;
vá crê-las vãs esperanças
quem nĂŁo sabe o qu’aventura!

Horas Vivas

Noite: abrem-se as flores…
Que esplendores!
CĂ­ntia sonha amores
Pelo céu.
TĂŞnues as neblinas
Ă€s campinas
Descem das colinas,
Como um véu.

MĂŁos em mĂŁos travadas,
Animadas,
VĂŁo aquelas fadas
Pelo ar;
Soltos os cabelos,
Em novelos,
Puros, louros, belos,
A voar.

— “Homem, nos teus dias
Que agonias,
Sonhos, utopias,
Ambições;
Vivas e fagueiras,
As primeiras,
Como as derradeiras
Ilusões!

— Quantas, quantas vidas
VĂŁo perdidas,
Pombas mal feridas
Pelo mal!

Anos apĂłs anos,
TĂŁo insanos,
VĂŞm os desenganos
Afinal.

— “Dorme: se os pesares
Repousares,
Vês? – por estes ares
Vamos rir;
Mortas, nĂŁo; festivas,
E lascivas,
Somos – horas vivas
De dormir!” –

A um Amigo

Fiel ao costume antigo,
Trago ao meu jovem amigo
Versos prĂłprios deste dia.
E que de os ver tĂŁo singelos,
TĂŁo simples como eu, nĂŁo ria:
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.

Que sobre a flor de seus anos
Soprem tarde os desenganos;
Que em torno os bafeje amor,
Amor da esposa querida,
Prolongando a doce vida
Fruto que suceda Ă  flor.

Recebe este voto, amigo,
Que eu, fiel ao uso antigo,
Quis trazer-te neste dia
Em poucos versos singelos.
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.

MĂŁe que Levei Ă  Terra

MĂŁe que levei Ă  terra
como me trouxeste no ventre,
que farei destas tuas artérias?
Que medula, placenta,
que lágrimas unem aos teus
estes ossos? Em que difere
a minha da tua carne?

MĂŁe que levei Ă  terra
como me acompanhaste Ă  escola,
o que herdei de ti
além de móveis, pó, detritos
da tua e outras casas extintas?
Porque guardavas
o sopro de teus avĂłs?

MĂŁe que levei Ă  terra
como me trouxeste no ventre,
vejo os teus retratos,
seguro nos teus dezanove anos,
eu não existia, meu Pai já te amava.
Que fizeste do teu sangue,
como foi possível, onde estás?

Lisboa

No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas
Subidas.
Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!

“Mas aqui”, dizia o revisor e ria baixinho como um afectado
“aqui sentam-se os polĂ­ticos”. Eu vi a fachada, a fachada, a fachada
e em cima, a uma janela, um homem,
com um binĂłculo Ă  frente dos olhos, espreitando
para além do mar.

A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscĂłpicas.
Seis anos depois, peguntei a uma dama de Lisboa:
Isto Ă© real, ou fui eu que sonhei ?

Tradução por Luís Costa

Amigo Velho

(A Martins de Carvalho num dia dos seus anos)

Uma vez encontrámo-nos os dois
Nesse mar da polĂ­tica; depois,
Como diversa bĂşssola nos guia,
Cada qual foi seu rumo: todavia,
Em certas almas nunca se oblitera
A afeição de um companheiro antigo:
Sou para vĂłs por certo o que entĂŁo era;
E eu, como entĂŁo na minha primavera,
Abraço o venerando e velho amigo!

Eternidade

A minha eternidade neste mundo
Sejam vinte anos sĂł, depois da morte!
O vento, eles passados, que, enfim, corte
A flor que no jardim plantei tĂŁo fundo.

As minhas cartas leia-as quem quiser!
Torne-se pĂşblico o meu pensamento!
E a terra a que chamei — minha mulher —
A outros dê seu lábio sumarento!

A outros abra as fontes do prazer
E teça o leito em pétalas e lume!
A outros dĂŞ seus frutos a comer
E em cada noite a outros dĂŞ perfume!

O globo tem dois pĂłlos: Ontem e hoje.
Dizemos só: — Meu pai! ou só:— Meu filho!
O resto Ă© baile que nĂŁo deixa trilho.
Rosto sem carne; fixidez que foge.

Venham beijar-me a campa os que me beijam
Agora, frágeis, frívolos e humanos!
Os que me virem, morto, ainda me vejam
Depois da morte, vivo, ainda vinte anos!

Nuvem subindo, anis que se evapora…
Assim um dia passe a minha vida!
Mas, antes, que uma lágrima sentida
Traga a certeza de que alguém me chora!

Adro!

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Sombras

A meio desta vida continua a ser
difĂ­cil, tĂŁo difĂ­cil
atravessar o medo, olhar de frente
a cegueira dos rostos debitando
palavras destinadas a morrer
no lume impaciente de outras bocas
anunciando o mel ou o vinho ou
o fel.

Calmamente sentado num sofá,
começas a entender, de vez em quando,
os condenados a prisão perpétua
entre as quatro paredes do espĂ­rito
e um esquife negro onde vĂŁo desfilando
imagens, sĂł imagens
de canal em canal, sintonizadas
com toda a angĂşstia e estupidez do mundo.

As pessoas – tu sabes – as pessoas sĂŁo feitas
de vento
e deixam-se arrastar pela mais bela
respiração das sombras,
pela morte que repete os mesmos gestos
quando o crepĂşsculo fica a sĂłs connosco
e a noite se redime com uma estrela
a prometer salvar-nos.

A meio desta vida os versos abrem
paisagens virtuais onde se perdem
as intenções que alguma vez tivemos,
o recorte obscuro de perfis
desenhados a fogo há muitos anos
numa alma forrada de espelhos
mas sempre tĂŁo vazia,

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lâmpada votiva

1. teve longa agonia a minha mĂŁe

teve longa agonia a minha mĂŁe:
seu ser tornou-se um puro sofrimento
e a sua voz apenas um lamento
sombrio e lancinante, mas ninguém

podia fazer nada, era novembro,
levou-a o sol da tarde quando a face
lhe serenou, foi como se acordasse
outra espessura dela em mim. relembro

sombras e risos, coisas pequenas, nadas,
e horas graves da infância e idade adulta
que este silĂŞncio oculta e desoculta
nessas pobres feições desfiguradas.

quanta canção perdida se procura,
quanta encontrada em lágrimas murmura.

2. e nĂŁo queria ser vista e foi envolta

e nĂŁo queria ser vista e foi envolta
num lençol branco em suas dobras leves,
pus junto dela algumas rosas breves
e a lembrança represa ficou solta

e foi Ă  desfilada. De repente,
a minha mãe já não estava morta:
era o vulto que Ă  noite se recorta
na luz do corredor, se está doente

algum de nĂłs, a mĂŁo que pousa e traz
algum sossego Ă  fronte,

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Envelhecem os Anos

Envelhecem os anos, mas nunca os meses
com seu crédito de imagens para quem morre
ou vive. É o título de quem se ergue pelos dentes
mais que o riso nesse colar de sonhos ao fim das tardes.
Aqui a coisa alheia tem a metade do já sentido
e nĂŁo pode parar no mundo.

É que alguém não dá tempo ao coração
e solitário bate na coisa dura de sempre.
Há horas antigas agora: teu destino indeclinável,
um jogo antigo de olhos com lágrimas prontas desde o início
e adiante a demora dos ausentes, o universo fechado
em sua idade. Tu te juntas e deixas a monĂłtona vida

exagerar a fé, estimular o preço num feriado
de diferenças. Então a natureza nesse dia de chuva fina,
ela e o vidro da janela que se turva,
tenta o inĂ­cio e arrasta os desejos da existĂŞncia.

Porque o Povo Diz Verdades

Porque o povo diz verdades,
Tremem de medo os tiranos,
Pressentindo a derrocada
Da grande prisĂŁo sem grades
Onde há já milhares de anos
A razĂŁo vive enjaulada.

Vem perto o fim do capricho
Dessa nobreza postiça,
Irmã gémea da preguiça,
Mais asquerosa que o lixo.

Já o escravo se convence
A lutar por sua prol
Já sabe que lhe pertence
No mundo um lugar ao sol.

Do céu não se quer lembrar,
Já não se deixa roubar,
Por medo ao tal satanás,
Já não adora bonecos
Que, se os fazem em canecos,
Nem dĂŁo estrume capaz.

Mostra-lhe o saber moderno
Que levou a vida inteira
Preso Ă quela ratoeira
Que há entre o céu e o inferno.

Revolução

Pena que as revoluções
não as façam os tiranos
se fariam bem em ordem
durariam menos anos

liberdade sairia
como verba de orçamento
e se houvesse qualquer saldo
se inventava suplemento

pagamento em dia certo
daria para isto aquilo
o que sobrasse guardado
de todo o assalto a silo

mas o que falta aos tiranos
é só imaginação
e o jeito na circunstância
é mesmo a revolução.

Breves SĂŁo os Anos

No breve nĂşmero de doze meses
O ano passa, e breves sĂŁo os anos,
Poucos a vida dura.
Que sĂŁo doze ou sessenta na floresta
Dos nĂşmeros, e quanto pouco falta
Para o fim do futuro!
Dois terços já, tão rápido, do curso
Que me Ă© imposto correr descendo, passo.
Apresso, e breve acabo.
Dado em declive deixo, e invito apresso
O moribundo passo.

Ă€ Minha Morte

Sei, que um dia fatal me espera, e talha
A minha vida o estame:
Nem Prosérpina evita uma só frente.
Sei que vivi: mas quando
Tem de soltar-se, ignoro, o vivo laço;
E se claros, ou turvos
Se hão-de erguer para mim os sóis vindouros. —
Pois, que ao sevo Destino
Me Ă© vedado fugir, fugi ao longe
Roazes Amarguras,
Que estes permeios anos minar vĂ­nheis.
Rir quero — e mui folgado,
De vos ver ir correndo, de encolhidas,
Escondendo na fuga,
As caudas dos medonhos ameaços.
Quero, entre mil saĂşdes,
De vermelha, faustĂ­ssima alegria
Ir passando em resenha,
Taça após taça, a lista dos amigos,
E o coro das formosas,
Que a vida me entreteram com agrado.
E reforçado e lesto
C’o nĂ©ctar da videira, as mĂŁos travando
Co’as engraçadas Musas,
Em dança festival, com pé ligeiro,
Na matizada relva,
Cansar de tanto jĂşbilo o meu sp’rito,
Que se vá (sem que o sinta)
Continuar o baile nos ElĂ­sios)
Entre o Garção e Horácio.
De lá, em novas Odes,

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Varanda de Pilatos

Não há tempo. Há o espaço. O sol e as nossas voltas.
Os bocejos da lua, o clĂŁ dos astros.
Os buracos negros.
Ă“ mĂŁe! Para onde foram os seres vivos de ainda
Há pouco em todo o seu esplendor?
Mortos como tu, a natureza recebe-os.
A Terra, essa criança atroz, destrói os seus brinquedos
Numa rotina mecânica.
Quantas noites me faltam? Quantos beijos no escuro?
Quanta luz me cabe ainda nas pupilas?
Os anos nĂŁo me matam, nĂŁo me ferem os meses,
As horas nĂŁo me guilhotinam.
As células vão ardendo nos seus mapas
De nervos, o sangue demora sempre mais um pouco
A chegar ao seu destino orgânico.
Devagar, devagar, a cabeça amolece.
Devagar no colo do sono.
Ă“ mĂŁe. Um ninho. Uma cama macia no teu ventre.
Uma exposição de sinais. Uma geometria
Que me liga ao saber acumulado.

Poeminha de Louvor ao Strip-tease Secular

Eu sou do tempo em que a mulher
nem mostrava o tornozelo;
que apelo!

Depois, já rapazinho
vi as primeiras pernas de mulher
por sob a curta saia;
que gandaia!

A moda avança,
a saia sobe mais,
mostrando já joelhos
lupercais!

As fazendas com os anos,
se fazem mais leves,
e surgem figurinhas, pelas ruas,
mostrando as lindas formas quase nuas.

E a mania do sport
trouxe o short.

O short amigo,
que trouxe consigo,
o maiô de duas peças.

E logo, de audácia em audácia,
a natureza, ganhando terreno,
sugeriu o biquini,
o maiĂ´, de pequeno, ficando mais pequeno
nĂŁo se sabendo mais,
até onde um corpo branco,
pode ficar moreno.

Deus, a graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

Tragédia

Foi para a escola e aprendeu a ler
e as quatro operações, de cor e salteado.
Era um menino triste:
nunca brincou no largo.
Depois, foi para a loja e pĂ´s a uso
aquilo que aprendeu
— vagaroso e sério,
sem um engano,
sem um sorriso.
Depois, o pai morreu
como estava previsto.
E o Senhor AntĂłnio
(tĂŁo novinho e já era «o Senhor AntĂłnio»!…)
ficou dono da loja e chefe da famĂ­lia…
Envelheceu, casou, teve meninos,
tudo como quem soma ou faz multiplicação!…
E quando o mais velhinho
já sabia contar, ler, escrever,
o Senhor António deu balanço à vida:
tinha setenta anos, um nome respeitado…
— que mais podia querer?
Por isso,
num meio-dia de VerĂŁo,
sentiu-se mal.
Decentemente abriu os braços
e disse: — Vou morrer.
E morreu!, morreu de congestĂŁo…

Fragmento Terceiro

I

Campos de ira, tĂŁo vasto sentimento
vos afasta. Ă­ris morta! Os actos radicais
constroem, em projeto, um frágil
universo – a tinta, o espaço óptico.
Descansam os sentidos sobre prĂłdigas
defesas: os filtros turvos, as precauções
na sua cura. Os nervos tersos
da análise da vida e da matéria.

II

Desviam-se dos livros. Hoje escreve
contra a morte dos olhos, a existĂŞncia
passĂ­vel de leitura. Ineptos, os sons
perdem-se na encosta. o vento fere
ainda? Inscrito
na área da cabeça, é esse rastro
ainda vivo. Domino a sua queda, os seus poderes
punitivos, a sua força hereditária.

III

Persistir no imĂłvel. Preencher
os anos que nos moldam
no vigor da fibra, no duro movimento
interior — a que destino, a que imaturo
ritmo, sem preço? Pois é o caro
prémio deste dorso
de o cumprir, pensar, até ao fim.
Ou de saber adestrá-lo até que,
exausto, sĂł impulso
vigore — a morte lida
num prĂłximo sentido, ainda vivo.

IV

Como contacto Ăşnico,

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Portugal

Maior do que nĂłs, simples mortais, este gigante
foi da glĂłria dum povo o semideus radiante.
Cavaleiro e pastor, lavrador e soldado,
seu torrĂŁo dilatou, inĂłspito montado,
numa pátria… E que pátria! A mais formosa e linda
que ondas do mar e luz do luar viram ainda!
Campos claros de milho moço e trigo loiro;
hortas a rir; vergéis noivando em frutos de oiro;
trilos de rouxinĂłis; revoadas de andorinhas;
nos vinhedos, pombais: nos montes, ermidinhas;
gados nédios; colinas brancas olorosas;
cheiro de sol, cheiro de mel, cheiro de rosas;
selvas fundas, nevados pĂ­ncaros, outeiros
de olivais; por nogais, frautas de pegureiros;
rios, noras gemendo, azenhas nas levadas;
eiras de sonho, grutas de génios e de fadas:
riso, abundância, amor, concórdia, Juventude:
e entre a harmonia virgiliana um povo rude,
um povo montanhĂŞs e herĂłico Ă  beira-mar,
sob a graça de Deus a cantar e a lavrar!
Pátria feita lavrando e batalhando: aldeias
conchegadinhas sempre ao torreĂŁo de ameias.
Cada vila um castelo. As cidades defesas
por muralhas, bastiões, barbacãs, fortalezas;
e, a dar fé, a dar vigor,

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Quero-te de Branco, Meu Amor

Quero-te de branco,
ou antes, modelada
nas roupas que cosesses
das bonecas, nos saltos,
nos baloiços, nos degraus
de uma porta qualquer donde saĂ­sses.
Quero-te de branco e intocada,
carregada porém dos anos buliçosos
e das vidas ausentes.
De branco, meu amor,
e de tĂŁo branco
que me desses o mundo em luz de sol.