Poemas sobre Asas de Olavo Bilac

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Poemas de asas de Olavo Bilac. Leia este e outros poemas de Olavo Bilac em Poetris.

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Chove. Que mágoa lá fora!
Que mágoa! Embruscam-se os ares
Sobre este rio que chora
Velhos e eternos pesares.

E sinto o que a terra sente
E a tristeza que diviso,
Eu, de teus olhos ausente,
Ausente de teu sorriso…

As asas loucas abrindo,
Meus versos, num longo anseio,
MorrerĂŁo, sem que, sorrindo,
Possa acolhĂŞ-los teu seio!

Ah! quem mandou que fizesses
Minh’alma da tua escrava,
E ouvisses as minhas preces,
Chorando como eu chorava?

Por que Ă© que um dia me ouviste,
Tão pálida e alvoroçada,
E, como quem ama, triste,
Como quem ama, calada?

Tu tens um nome celeste…
Quem é do céu é sensível!
Por que Ă© que me nĂŁo disseste
Toda a verdade terrĂ­vel?

Por que, fugindo impiedosa,
Desertas o nosso ninho?
– Era tĂŁo bela esta rosa!…
Já me tardava este espinho!

Fora melhor, porventura,
Ficar no antigo degredo
Que conhecer a ventura
Para perdĂŞ-la tĂŁo cedo!

Por que me ouviste, enxugando
O pranto das minhas faces?

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Sacrilégio

Como a alma pura, que teu corpo encerra,
Podes, tĂŁo bela e sensual, conter?
Pura demais para viver na terra,
Bela demais para no céu viver.

Amo-te assim! – exulta, meu desejo!
É teu grande ideal que te aparece,
Oferecendo loucamente o beijo,
E castamente murmurando a prece!

Amo-te assim, Ă  fronte conservando
A parra e o acanto, sob o alvor do véu,
E para a terra os olhos abaixando,
E levantando os braços para o céu.

Ainda quando, abraçados, nos enleva
O amor em que me abraso e em que te abrasas,
Vejo o teu resplandor arder na treva
E ouço a palpitação das tuas asas.

Em vão sorrindo, plácidos, brilhantes,
Os céus se estendem pelo teu olhar,
E, dentro dele, os serafins errantes
Passam nos raios claros do luar:

Em vĂŁo! – descerras Ăşmidos, e cheios
De promessas, os lábios sensuais,
E, Ă  flor do peito, empinam-se-te os seios,
Ameaçadores como dois punhais.

Como Ă© cheirosa a tua carne ardente!
Toco-a, e sinto-a ofegar, ansiosa e louca.

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Mater

Tu, grande MĂŁe!… do amor de teus filhos escrava,
Para teus filhos Ă©s, no caminho da vida,
Como a faixa de luz que o povo hebreu guiava
Ă€ longe Terra Prometida.

Jorra de teu olhar um rio luminoso.
Pois, para batizar essas almas em flor,
Deixas cascatear desse olhar carinhoso
Todo o JordĂŁo do teu amor.

E espalham tanto brilho as asas infinitas
Que expandes sobre os teus, carinhosas e belas,
Que o seu grande dano sobe, quando as agitas,
E vai perder-se entre as estrelas.

E eles, pelos degraus da luz ampla e sagrada,
Fogem da humana dor, fogem do humano pé,
E, Ă  procura de Deus, vĂŁo subindo essa escada,
Que Ă© como a escada de JacĂł.

Sonho

Quantas vezes, em sonho, as asas da saudade
Solto para onde estás, e fico de ti perto!
Como, depois do sonho, Ă© triste a realidade!
Como tudo, sem ti, fica depois deserto!

Sonho… Minha alma voa. O ar gorjeia e soluça.
Noite… A amplidĂŁo se estende, iluminada e calma:
De cada estrela de ouro um anjo se debruça,
E abre o olhar espantado, ao ver passar minha alma.

Há por tudo a alegria e o rumor de um noivado.
Em torno a cada ninho anda bailando uma asa.
E, como sobre um leito um alvo cortinado,
Alva, a luz do luar cai sobre a tua casa.

Porém, subitamente, um relâmpago corta
Todo o espaço… O rumor de um salmo se levanta
E, sorrindo, serena, apareces Ă  porta,
Como numa moldura a imagem de uma Santa…