Seria o Amor PortuguĂŞs

Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhĂŁs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
— tanto pó sobre os móveis tua ausência.

Se nĂŁo Ă©s tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam Ă  porta,
a solidĂŁo Ă© uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silĂŞncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
«Que me importa que batam Ă  porta…»
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.

Longas manhĂŁs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhĂŁs
e lhes perdi a conta, pois Ă© como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,

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