Poemas sobre Ninguém de José Régio

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Poemas de ninguém de José Régio. Leia este e outros poemas de José Régio em Poetris.

Sabedoria

Desde que tudo me cansa,
Comecei eu a viver.
Comecei a viver sem esperança…
E venha a morte quando
Deus quiser.

Dantes, ou muito ou pouco,
Sempre esperara:
Ă€s vezes, tanto, que o meu sonho louco
Voava das estrelas Ă  mais rara;
Outras, tĂŁo pouco,
Que ninguém mais com tal se conformara.

Hoje, Ă© que nada espero.
Para quĂŞ, esperar?
Sei que já nada é meu senão se o não tiver;
Se quero, Ă© sĂł enquanto apenas quero;
SĂł de longe, e secreto, Ă© que inda posso amar. . .
E venha a morte quando Deus quiser.

Mas, com isto, que tĂŞm as estrelas?
Continuam brilhando, altas e belas.

Cântico Negro

“Vem por aqui” – dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…

A minha glĂłria Ă© esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
– Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre Ă  minha mĂŁe

NĂŁo, nĂŁo vou por aĂ­! SĂł vou por onde
Me levam meus prĂłprios passos…

Se ao que busco saber nenhum de vĂłs responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aĂ­…

Se vim ao mundo, foi
SĂł para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vĂłs
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre,

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