Sonetos sobre GĂ©nios

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Sonetos de génios escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Aqui, Onde O Talento Verdadeiro

Aqui, onde o talento verdadeiro
NĂŁo nega o povo o merecido preito;
Aqui onde no pĂșblico respeito
Se conquista o brasĂŁo mais lisonjeiro.

Aqui onde o gĂȘnio sobranceiro
E, de torpes calĂșnias, ao efeito,
JesuĂ­na, dos zoilos a despeito,
És tu que ocupas o lugar primeiro!

Repara como o povo te festeja…
VĂȘ como em teu favor se manifesta,
Mau grado a mĂŁo, que, oculta, te apedreja!

Fazes bem desprezar quem te molesta;
Ser indif’rente ao regougar da inveja,
“Das almas grandes a nobreza Ă© esta.”

Nocturno

EspĂ­rito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu sĂł entendes bem o meu tormento…

Como um canto longĂ­nquo – triste e lento-
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento…

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visÔes, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!

Erros Meus, MĂĄ Fortuna, Amor Ardente

Erros meus, mĂĄ Fortuna, Amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a Fortuna sobejaram,
Que para mim bastava Amor somente.

Tudo passei; mas tenho tĂŁo presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que jĂĄ as frequĂȘncias suas me ensinaram
A desejos deixar de ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa a que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De Amor nĂŁo vi senĂŁo breves enganos.
Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

I

Para cantar de amor tenros cuidados,
Tomo entre vĂłs, Ăł montes, o instrumento;
Ouvi pois o meu fĂșnebre lamento;
Se Ă©, que de compaixĂŁo sois animados:

JĂĄ vĂłs vistes, que aos ecos magoados
Do trĂĄcio Orfeu parava o mesmo vento;
Da lira de AnfiĂŁo ao doce acento
Se viram os rochedos abalados.
Bem sei, que de outros gĂȘnios o Destino,
Para cingir de Apolo a verde rama,
Lhes influiu na lira estro divino:

O canto, pois, que a minha voz derrama,
Porque ao menos o entoa um peregrino,
Se faz digno entre vós também de fama.

GĂȘnio Das Trevas LĂșgubres, Acolhe-me

GĂȘnio das trevas lĂșgubres, acolhe-me,
Leva-me o esp’rito dessa luz que mata,
E a alma me ofusca e o peito me maltrata,
E o viver calmo e sossegado tolhe-me!

Leva-me, obumbra-me em teu seio, acolhe-me
N’asa da Morte redentora, e Ă  ingrata
Luz deste mundo em breve me arrebata
E num pallium de tĂȘnebras recolhe-me!

Aqui hĂĄ muita luz e muita aurora,
HĂĄ perfumes d’amor – venenos d’alma –
E eu busco a plaga onde o repouso mora,

E as trevas moram, e, onde d’ĂĄgua raso
O olhar nĂŁo trago, nem me turba a calma
A aurora deste amor que Ă© o meu ocaso!

Inscrição

Dos vastos horizontes me invocaram,
Noutras formas artĂ­sticas imersos,
Revoltos pensamentos que formaram
Todo o amor e pureza dos meus versos.

Melodias que os ventos orquestraram
Foram verbo dos ĂĄtomos dispersos:
Palavras que meus olhos soletraram
Num indizĂ­vel sonho de universos.

Foram aromas das fecundas messes:
Como se tu, Ăł Terra, mos dissesses
Numa profunda comunhĂŁo de mĂĄgoas.

Geraram-mos os génios das Montanhas
Na sua fé de catedrais estranhas,
Na panteísta devoção das Águas.

Agonia De Um FilĂłsofo

Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto
Rig-Veda. E, ante obras tais, me nĂŁo consolo…
O Inconsciente me assombra e eu nĂȘle tolo
Com a eĂłlica fĂșria do harmatĂŁ inquieto!

Assisto agora Ă  morte de um inseto!…
Ah! todos os fenĂŽmenos do solo
Parecem realizar de pĂłlo a pĂłlo
O ideal de Anaximandro de Mileto!

No hierĂĄtico areopago heterogĂȘneo
Das idĂ©as, percorro como um gĂȘnio
Desde a alma de Haeckel Ă  alma cenobial!…

Rasgo dos mundos o velĂĄrio espesso;
E em tudo, igual a Goethe, reconheço
O império da substùncia universal!

O Fim Das Coisas

Pode o homem bruto, adstricto Ă  ciĂȘncia grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!

Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
SĂŽfrego, o solo sĂĄxeo; e, na Ăąnsia ardente
De perscrutar o Ă­ntimo do orbe, invente
A limpada aflogĂ­stica de Davy!

Em vĂŁo! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio …

E quando, ao cabo do Ășltimo milĂȘnio,
A humanidade vai pesar seu gĂȘnio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!

1A Sombra – Marieta

Como o gĂȘnio da noite, que desata
O véu de , rendas sobre a espådua nua,
Ela solta os cabelos… Bate a lua
Nas alvas dobras de um lençol de prata

O seio virginal que a mĂŁo recata,
Embalde o prende a mĂŁo… cresce, flu
Sonha a moça ao relento… AlĂ©m na
Preludia um violĂŁo na serenata!…

… Furtivos passos morrem no lajedo…
Resvala a escada do balcĂŁo discreta…
Matam lĂĄbios os beijos em segredo…

Afoga-me os suspiros, Marieta!
Oh surpresa! oh palor! oh pranto! oh medo!
Ai! noites de Romeu e Julieta…