Sonetos sobre Peregrinos de Luís de Camões

5 resultados
Sonetos de peregrinos de Luís de Camões. Leia este e outros sonetos de Luís de Camões em Poetris.

Cara Minha Inimiga, Em Cuja MĂŁo

Cara minha inimiga, em cuja mĂŁo
pĂ´s meus contentamentos a ventura,
faltou te a ti na terra sepultura,
porque me falte a mim consolação.

Eternamente as águas lograrão
a tua peregrina fermosura;
mas, enquanto me a mim a vida dura,
sempre viva em minh’alma te acharĂŁo.

E se meus rudos versos podem tanto
que possam prometer te longa histĂłria
daquele amor tĂŁo puro e verdadeiro,

celebrada serás sempre em meu canto;
porque enquanto no mundo houver memĂłria,
será minha escritura teu letreiro.

De TĂŁo Divino Acento E Voz Humana

De tĂŁo divino acento e voz humana,
de tĂŁo doces palavras peregrinas,
bem sei que minhas obras nĂŁo sĂŁo dinas,
que o rudo engenho meu me desengana.

Mas de vossos escritos corre e mana
licor que vence as águas cabalinas;
e convosco do Tejo as flores finas
farĂŁo enveja Ă  cĂłpia mantuana.

E pois, a vĂłs de si nĂŁo sendo avaras,
as filhas de MnemĂłsine fermosa
partes dadas vos tem, ao mundo caras,

a minha Musa e a vossa tĂŁo famosa,
ambas posso chamar ao mundo raras:
a vossa d’alta, a minha d’envejosa.

Quem presumir, Senhora, de louvar-vos

Quem presumir, Senhora, de louvar-vos
Com humano saber, e nĂŁo divino,
Ficará de tamanha culpa dino
Quamanha ficais sendo em contemplar-vos.

Não pretenda ninguém de louvor dar-vos,
Por mais que raro seja, e peregrino:
Que vossa fermosura eu imagino
Que Deus a ele sĂł quis comparar-vos.

Ditosa esta alma vossa, que quisestes
Em posse pĂ´r de prenda tĂŁo subida,
Como, Senhora, foi a que me destes.

Melhor a guardarei que a prĂłpria vida;
Que, pois mercĂŞ tamanha me fizestes,
De mim será jamais nunca esquecida.

Cara Minha Inimiga

Cara minha inimiga, em cuja mĂŁo
PĂ´s meus contentamentos a ventura,
Faltou-te a ti na terra sepultura,
Por que me falte a mim consolação.

Eternamente as águas lograrão
A tua peregrina formosura:
Mas enquanto me a mim a vida dura,
Sempre viva em minha alma te acharĂŁo.

E, se meus rudos versos podem tanto,
Que possam prometer-te longa histĂłria
Daquele amor tĂŁo puro e verdadeiro,

Celebrada serás sempre em meu canto:
Porque, enquanto no mundo houver memĂłria,
Será a minha escritura o teu letreiro.

Que o Rudo Engenho Meu me Desengana

De tĂŁo divino acento em voz humana,
De elegâncias que são tão peregrinas,
Sei bem que minhas obras nĂŁo sĂŁo dignas,
Que o rudo engenho meu me desengana.

Porém da vossa pena ilustre mana
Licor que vence as águas Cabalinas;
E convosco do Tejo as flores finas
FarĂŁo inveja Ă  cĂłpia Mantuana.

E pois a vĂłs, de si nĂŁo sendo avaras,
As filhas de MnemĂłsine fermosa
Partes dadas vos tĂŞm ao mundo claras;

A minha Musa, e a vossa tĂŁo famosa,
Ambas se podem nele chamar raras,
A vossa de alta, a minha de invejosa.