Sonetos sobre Retos

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Sonetos de retos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Ă€ Revolta

A Cassiano César

O sĂ©culo Ă© de revolta — do alto transformismo,
De Darwin, de LittrĂ©, de Spencer, de Laffite —
Quem fala, quem dá leis é o rubro niilismo
Que traz como divisa a bala-dinamite!…

Se é força, se é preciso erguer-se um evangelho,
Mais reto, que instrua — estĂ©tico — mais novo
Esmaguem-se do trono os dogmas de um Velho
E lance-se outro sangue aos mĂşsculos do povo!…

O vício azinhavrado e os cérebros raquíticos,
É pô-los ao olhar dos sérios analíticos,
Na ampla, social e esplĂŞndida vitrine!…

Ă€ frente!… — Trabalhar a luz da idĂ©ia nova!…
— Pois bem! Seja a idĂ©ia, quem lance o vĂ­cio Ă  cova,
— Pois bem! — Seja a idĂ©ia, quem gere e quem fulmine!…

Douto, Prudente, Nobre, Humano, Afável

Ao desembargador Belchior da Cunha Brochado, casado com uma filha de Sebastião Barbosa, Capitão de infantaria do III da Praça da Bahia.

Douto, prudente, nobre, humano, afável.
Reto, ciente, benigno e aprazĂ­vel.
Ăšnico, singular, raro, inflexĂ­vel.
Magnífico, preclaro, incomparável.

Do mundo grave juiz. Inimitável.
Admirado, gozais aplauso incrĂ­vel,
Pois a trabalho tanto e tĂŁo terrĂ­vel,
Dais pronto execução sempre incansável.

Vossa fama, senhor, seja notĂłria
Lá no clima onde nunca chega o dia.
Onde do Erebo sĂł se tem memĂłria

Para que garbo tal, tanta energia!
Pois de toda esta terra Ă© gentil glĂłria,
Da mais remota seja uma alegria.

JuĂ­zo

Quando, nos quatro ângulos da Terra,
Troarem as trombetas ressurgentes,
Despertadoras dos mortais dormentes,
Por onde um Deus irado aos homens berra:

Prontos, num campo, em apinhada serra,
Todos nus assistir devem viventes
Ao JuĂ­zo Final e ver, patentes,
Seus delitos, que um livro eterno encerra.

Então, aberto o Céu, e o Inferno aberto,
Todos ali verĂŁo: e a sorte imensa
Duma mágoa sem fim, dum gozo certo.

VerĂŁo recto juiz pesar a ofensa
Na balança integral, e o justo acerto,
Dando da vida e morte igual sentença.

Contrastes

A antĂ­tese do novo e do obsoleto,
O Amor e a Paz, o Ăłdio e a Carnificina,
O que o homem ama e o que o homem abomina,
Tudo convém para o homem ser completo!

O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto,
Uma feição humana e outra divina
SĂŁo como a eximenina e a endimenina
Que servem ambas para o mesmo feto!

Eu sei tudo isto mais do que o Eclesiastes!
Por justaposição destes contrastes,
junta-se um hemisfério a outro hemisfério,

As alegrias juntam-se as tristezas,
E o carpinteiro que fabrica as mesas
Faz tambĂ©m os caixões do cemitĂ©rio!…

ParaĂ­so

Sala imensa de luz, que o pavimento
Uma esmeralda Ă© sĂł, que tem por tecto
Inteiriça safira, que o Arquitecto
Supremo abobadou, com sábio invento.

Trono dum sĂł diamante, em trino assento,
De que Ă© amplo dossel rubim selecto,
Onde se assenta um Deus piedoso e recto,
Sem começo nem fim, tempo ou momento.

Junto ao sidério sólio está Maria,
Sentada numa pérola formosa
E, em torno dela, a excelsa jerarquia.

Toda a celeste corte venturosa
Em perpétuo Te Deum hinos envia,
Ao Trino Rei da GlĂłria luminosa.

Colar De Pérolas

A F’licidade Ă© um colar de pĂ©rolas,
Pérolas caras, de valor pujante,
Belas estrofes de Petrarca e Dante
Mais cintilantes que as manhãs mais cérulas.

Para que enfim esse colar bendito,
Perdure sempre, inteiramente egrégio,
Como uma tela do pintor Correggio,
Sem resvalar no lodaçal maldito:

Faz-se preciso umas paixões bem retas,
Cheias de uns tons de muito sol — completas…
Faz-se preciso que do amor na febre,

Nos grandes lances de vigor preclaro,
Desse colar esplendoroso e raro,
Nem uma pĂ©rola, uma sĂł se quebre!…