Sonetos sobre Rigor de Luís de Camões

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Sonetos de rigor de Luís de Camões. Leia este e outros sonetos de Luís de Camões em Poetris.

Quem diz que Amor Ă© falso ou enganoso

Quem diz que Amor Ă© falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vĂŁo desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor Ă© brando, Ă© doce, e Ă© piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

Se males faz Amor em mim se vĂŞem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras sĂŁo de Amor;
Todos os seus males sĂŁo um bem,
Que eu por todo outro bem nĂŁo trocaria.

Sempre a RazĂŁo vencida foi de Amor

Sempre a RazĂŁo vencida foi de Amor;
Mas, porque assim o pedia o coração,
Quis Amor ser vencido da RazĂŁo.
Ora que caso pode haver maior!

Novo modo de morte e nova dor!
Estranheza de grande admiração,
Que perde suas forças a afeição,
Por que nĂŁo perca a pena o seu rigor.

Pois nunca houve fraqueza no querer,
Mas antes muito mais se esforça assim
Um contrário com outro por vencer.

Mas a RazĂŁo, que a luta vence, enfim,
Não creio que é Razão; mas há-de ser
Inclinação que eu tenho contra mim.