Teus Olhos
Teus olhos de tĂŁo mĂstica elegia,
resplandecentes de penumbra viva,
Perdem-se em mim: do meu olhar deriva
A luz da mais cristĂŁ melancolia!Possa eu viver em ti, nessa harmonia
De memorante paz meditativa;
Minha alma da tua alma se cativa,
Aspira o teu silĂŞncio que inebria!Teu vulto no Ar imprime-se em debuxos
De recortada flor; visões perpassam
Nocturnamente nos teus olhos bruxos!Uma fonte discorre outonos tristes;
Caem flores do Céu; almas esvoaçam;
Estendo as mĂŁos… adeus! Já nĂŁo existes!
Sonetos sobre Vultos
47 resultadosSe De Vosso Fermoso E Lindo Gesto
Se de vosso fermoso e lindo gesto
nasceram lindas flores para os olhos,
que para o peito sĂŁo duros abrolhos,
em mim se vĂŞ mui claro e manifesto:pois vossa fermosura e vulto honesto
em os ver, de boninas vi mil molhos;
mas se meu coração tivera antolhos,
nĂŁo vira em vĂłs seu dano o mal funesto.Um mal visto por bem, um bem tristonho,
que me traz elevado o pensamento
em mil, porém diversas, fantasias,nas quais eu sempre ando, e sempre sonho;
e vĂłs nĂŁo cuidais mais que em meu tormento,
em que fundais as vossas alegrias.
O Dote que se Oferece no Horror
o dote que se oferece no horror
dessa cidade Ă© mais uma manobra difĂcil
das marés viradas em nossos pulsos
tal o esforço da visĂŁo da nĂ©voasonhos e vibrações tĂ©cnicas estĂŁo aĂ
para tudo que seja atual
em frontes douradas pois ficou vazio
o que Ă© pesado como o antigo absurdoseu desejo excepcional ainda dentro
do medo com a mudança recente de vultos
interessados na superfĂcie do arrependimentomas chegou ao fim a fĂşria da indecĂŞncia
e as unhas vistas entre os ossos podem matar
elas conhecem o que pode ser morto de novo
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
que Ă© feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol nĂŁo vem mais nada…Olho a roupa no chĂŁo: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio…Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo…Mas ninguĂ©m sonha a pressa com que nĂłs
a despimos assim que estamos sĂłs!
Venho De Longe E Trago No Perfil
Venho de longe e trago no perfil,
Em forma nevoenta e afastada,
O perfil de outro ser que desagrada
Ao meu actual recorte humano e vil.Outrora fui talvez, nĂŁo Boabdil,
Mas o seu mero Ăşltimo olhar, da estrada
Dado ao deixado vulto de Granada,
Recorte frio sob o unido anil…Hoje sou a saudade imperial
Do que já na distância de mim vi…
Eu prĂłprio sou aquilo que perdi…E nesta estrada para Desigual
Florem em esguia glĂłria marginal
Os girassĂłis do impĂ©rio que morri…
Dupla Via-Láctea
Sonhei! Sempre sonhar! No ar ondulavam
Os vultos vagos, vaporosos, lentos,
As formas alvas, os perfis nevoentos
Dos Anjos que no Espaço desfilavam.E alas voavam de Anjos brancos, voavam
Por entre hosanas e chamejamentos…
Claros sussurros de celestes ventos
Dos Anjos longas vestes agitavam.E tu, já livre dos terrestres lodos,
Vestida do esplendor dos astros todos,
Nas auréolas dos céus engrinaldadaDentre as zonas de luz flamo-radiante,
Na cruz da Via-Láctea palpitante
Apareceste entĂŁo crucificada!
8A Sombra – Ăšltimo Fantasma
Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada…
Sobre as nĂ©voas te libras vaporoso …Baixas do cĂ©u num vĂ´o harmonioso!…
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, Ăł ser misterioso! …Onde nos vimos nĂłs? És doutra esfera ?
És o ser que eu busquei do sul ao norte. . .
Por quem meu peito em sonhos desespera?Quem Ă©s tu? Quem Ă©s tu? – És minha sorte!
És talvez o ideal que est’alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!