Textos sobre Cancro de Antoine de Saint-Exupéry

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Textos de cancro de Antoine de Saint-Exupéry. Leia este e outros textos de Antoine de Saint-Exupéry em Poetris.

MiserĂĄveis Macabros

É que nĂŁo foram tĂŁo poucas como isso as vezes que vi a piedade enganar-se. NĂłs, que governamos os homens, aprendemos a sondar-lhes os coraçÔes, para sĂł ao objecto digno de estima dispensarmos a nossa solicitude. Mais nĂŁo faço do que negar essa piedade Ă s feridas de exibição que comovem o coração das mulheres. Assim como tambĂ©m a nego aos moribundos, e alĂ©m disso aos mortos. E sei bem porquĂȘ.
Houve uma altura da minha mocidade em que senti piedade pelos mendigos e pelas suas Ășlceras. AtĂ© chegava a apalavrar curandeiros e a comprar bĂĄlsamos por causa deles. As caravanas traziam-me de uma ilha longĂ­nqua unguentos derivados do ouro, que tĂȘm a virtude de voltar a compor a pele ao cimo da carne. Procedi assim atĂ© descobrir que eles tinham como artigo de luxo aquele insuportĂĄvel fedor. Surpreendi-os a coçar e a regar com bosta aquelas pĂșstulas, como quem estruma uma terra para dela extrair a flor cor de pĂșrpura. Mostravam orgulhosamente uns aos outros a sua podridĂŁo e gabavam-se das esmolas recebidas.
Aquele que mais ganhara comparava-se a si prĂłprio ao sumo sacerdote que expĂ”e o Ă­dolo mais prendado. Se consentiam em consultar o meu mĂ©dico, era na esperança de que o cancro deles o surpreendesse pela pestilĂȘncia e pelas proporçÔes.

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Não Hå Comunicação Sem Envolvimento

SĂł atravĂ©s de um cerimonial consegues comunicar. Se ouvires distraĂ­do essa mĂșsica e considerares distraĂ­damente esse templo, nĂŁo nascerĂĄ nada em ti, nem serĂĄs alimentado. O Ășnico meio de que disponho para te explicar a vida a que te convido Ă©, por conseguinte, que tu te comprometas pela força e te deixes amamentar por ela. Como te havia eu de explicar essa mĂșsica que ouvi-la nĂŁo basta, se nĂŁo te achas preparado para te deixares formular por ela? TĂŁo prestes vejo a morrer em ti a imagem da propriedade, que dela pouco mais resta do que gravatos. A palavra irĂłnica Ă© prĂłpria mas Ă© do cancro; um sono mau, um barulho que perturba, e aĂ­ estĂĄs tu privado de Deus. E recusado. Vejo-te sentado no portal, tendo atrĂĄs de ti a porta da tua casa fechada, totalmente separado do mundo, que nĂŁo passa do somatĂłrio de objectos vazios. Porque tu nĂŁo comunicas com os objectos, mas com os laços que os ligam.