O Amor PortuguĂŞs nĂŁo Ă© um FenĂłmeno Ternurento
Do carinho e do mimo, toda a gente sabe tudo o que há a saber — e mais um bocado. Do amor, ninguĂ©m sabe nada. Ou pensa-se que se sabe, o que Ă© um bocado menos do que nada. O mais que se pode fazer Ă© procurar saber quem se ama, sem querer saber que coisa Ă© o amor que se tem, ou de que sĂtio vem o amor que se faz.
Do amor Ă© bom falar, pelo menos naqueles intervalos em que nĂŁo Ă© tĂŁo bom amar. Todos os paĂses hĂŁo-de ter a sua prĂłpria cultura amorosa. A portuguesa Ă© excepcional. Nas culturas mais parecidas com a nossa, Ă© muito maior a diferença que se faz entre o amor e a paixĂŁo. Faz-se de conta que o amor Ă© uma coisa — mais tranquila e pura e duradoura — e a paixĂŁo Ă© outra — mais doĂda e complicada e efĂ©mera. Em Portugal, porĂ©m, nĂŁo gostamos de dizer que nos «enamoramos», e o «enamoramento» e outras palavras que contenham a palavra «amor» sĂŁo-nos sempre um pouco estranhas. Quando nĂłs nos perdemos de amores por alguĂ©m, dizemos (e nitidamente sentimos) que nos apaixonamos. Aqui, sabe-se lá por que atavismos atlânticos,
Textos sobre Carinho de Miguel Esteves Cardoso
2 resultadosO Machismo Português e as Traições Amorosas
Na gĂria portuguesa, os palitos sĂŁo a versĂŁo econĂłmica, e mais moderna, dos cornos. Os cornos, Ă semelhança do que aconteceu com os automĂłveis e os computadores, tornaram-se demasiado volumosos e pesados para as exigĂŞncias do homem de hoje. DaĂ a crescente popularidade dos mais portáteis e menos onerosos palitos. Contudo, visto que se vive presentemente um perĂodo de transição, em que os novos palitos ainda se vĂŞem lado a lado com os tradicionais cornos, continuam a existir algumas sobreposições. Uma delas, herdada do antigamente, deve-se ao facto dos palitos nĂŁo se saldarem numa diminuição proporcional de sofrimento. Ou seja, nĂŁo dĂŁo uma mera dor de palito — dĂŁo Ă mesma, incontrovertivelmente, dor de corno. NĂŁo Ă© mais carinhoso, por isso, pĂ´r os «palitos» a alguĂ©m — continua a ser exactamente o mesmo que pĂ´r os outros.
Tudo isto vem a propĂłsito da forma atĂpica, entre os povos latinos, que assume o machismo portuguĂŞs. NĂŁo se trata do machismo triunfalmente dominador, gĂ©nero «Aqui quem manda sou eu!», do brutamontes que nĂŁo dá satisfações Ă mulher. NĂŁo — o machismo portuguĂŞs, imortalizado pelo fado «NĂŁo venhas tarde», Ă© um machismo apologĂ©tico, todo «desculpa lá Ăł Mafalda», que alcança os seus objectivos de uma maneira mais eficaz.