Aspectos da Virtude
O que tomamos por virtudes muitas vezes nĂŁo passa de um conjunto de acçÔes diversas e de diversos interesses que o acaso e a nossa indĂșstria sabem ajustar; e nem sempre Ă© por valentia e por castidade que os homens sĂŁo valentes e as mulheres castas.
A virtude nĂŁo iria longe se a vaidade nĂŁo lhe fizesse companhia.
(…) Os vĂcios entram na composição das virtudes como os venenos na dos remĂ©dios. A prudĂȘncia mistura-os, tempera-os, e serve-se deles eficazmente contra os males da vida.
Textos sobre Mulheres de François de La Rochefoucauld
2 resultadosSobre o Falso
Somos falsos de maneiras diferentes. HĂĄ homens falsos que querem parecer sempre o que nĂŁo sĂŁo. Outros hĂĄ de melhor fĂ©, que nasceram falsos, se enganam a si prĂłprios o nunca vĂȘem as coisas tal como sĂŁo. HĂĄ alguns cujo espĂrito Ă© estreito e o gosto falso. Outros tĂȘm o espĂrito falso, mas alguma correcção no gosto. E ainda hĂĄ outros que nĂŁo tĂȘm nada de falso, nem no gosto nem no espĂrito. Estes sĂŁo muito raros, jĂĄ que, em geral, nĂŁo hĂĄ quase ninguĂ©m que nĂŁo tenha alguma falsidade algures, no espĂrito ou no gosto.
O que torna essa falsidade tĂŁo universal, Ă© que as nossas qualidades sĂŁo incertas e confusas e a nossa visĂŁo tambĂ©m: nĂŁo vemos as coisas tal como sĂŁo, avaliamo-las aquĂ©m ou alĂ©m do que elas valem e nĂŁo as relacionamos connosco da forma que lhes convĂ©m e que convĂ©m ao nosso estado e Ă s nossas qualidades. Esse erro de cĂĄlculo traz consigo um nĂșmero infinito de falsidades no gosto e no espĂrito: o nosso amor-prĂłprio lisonjeia-se como tudo que se nos apresenta sob a aparĂȘncia de bem; mas como hĂĄ vĂĄrias formas de bem que sensibilizam a nossa vaidade ou o nosso temperamento,