Textos sobre Pombos

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Textos de pombos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Meu Bebé para Dar Dentadas

Meu Bebé pequeno e rabino:
CĂĄ estou em casa, sozinho, salvo o intelectual que estĂĄ pondo o papel nas paredes (pudera! havia de ser no tecto ou no chĂŁo!); e esse nĂŁo conta. E, conforme prometi, vou escrever ao meu Bebezinho para lhe dizer, pelo menos, que ela Ă© muito mĂĄ, excepto numa cousa, que Ă© na arte de fingir, em que vejo que Ă© mestra.
Sabes? Estou-te escrevendo mas «nĂŁo estou pensando em ti». Estou pensando nas saudades que tenho do meu tempo da «caça aos pombos»; e isto Ă© uma cousa, como tu sabes, com que tu nĂŁo tens nada…
Foi agradĂĄvel hoje o nosso passeio — nĂŁo foi? Tu estavas bem-disposta, e eu estava bem-disposto, e o dia estava bem-disposto tambĂ©m. (O meu amigo, Sr. A.A. Crosse estĂĄ de saĂșde — uma libra de saĂșde por enquanto, o bastante para nĂŁo estar constipado.)
NĂŁo te admires de a minha letra ser um pouco esquisita. HĂĄ para isso duas razĂ”es. A primeira Ă© a de este papel (o Ășnico acessĂ­vel agora) ser muito corredio, e a pena passar por ele muito depressa; a segunda Ă© a de eu ter descoberto aqui em casa um vinho do Porto esplĂȘndido,

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Amor Comparado

Queres ter uma ideia do amor, vĂȘ os pardais do teu jardim; vĂȘ os teus pombos; contempla o touro que se leva Ă  tua vitela; olha esse orgulhoso cavalo que dois valetes teus conduzem Ă  Ă©gua em paz que o espera, e que desvia a cauda para recebĂȘ-lo; vĂȘ como os seus olhos cintilam; ouve os seus relinchos; contempla os seus saltos, camabalhotas, orelhas eriçadas, boca que se abre com pequenas convulsĂ”es, narinas que se inflam, sopro inflamado que delas sai, crinas que se revolvem e flutuam, movimento imperioso com o qual o cavalo se lança para o objecto que a natureza lhe destinou; mas nĂŁo tenhas inveja, e pensa nas vantagens da espĂ©cie humana: elas compensam com amor todas as que a natureza deu aos animais, força, beleza, ligeireza, rapidez. HĂĄ atĂ© mesmo animais que nĂŁo sabem o que Ă© o gozo. Os peixes escamados sĂŁo privados dessa doçura: a fĂȘmea lança no lodo milhĂ”es de ovos; o macho que os encontra passa sobre eles e fecunda-os com a sua semente, sem saber a que fĂȘmea eles pertencem. A maior parte dos animais que copulam sĂł tĂȘm prazer por um sentido; e, assim que esse apetite Ă© satisfeito, tudo se extingue.

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Vivemos numa Paz de Animais Domésticos

Uma cobra de ågua numa poça do choupal, a gozar o resto destes calores, e umas meninas histéricas aos gritinhos, cheias de saber que o bicho era tão inofensivo como uma folha.
Por fidelidade a um mandato profundo, o nosso instinto, diante de certos factos, ainda quer reagir. Mas logo a razão acode, e o uivo do plasma acaba num cacarejo convencional. Todos os tratados e todos os preceptores nos explicaram jå quantas espécies de ofídios existem e o soro que neutraliza a mordedura de cada um. Herdamos um mundo jå quase decifrado, e sabemos de cor as ervas que não devemos comer e as feras que nos não podem devorar. Vivemos numa paz de animais domésticos, vacinados, com os dentes caninos a trincar pastéis de nata, tendo aos pés, submissos, os antigos pesadelos da nossa ignorùncia. Passamos pela terra como espectros, indo aos jardins zoológicos e botùnicos ver, pacata e sàbiamente, em jaulas e canteiros, o que jå foi perigo e mistério. E, por mais que nos custe, não conseguimos captar a alma do brinquedo esventrado. O homem selvagem, que teve de escolher tudo, de separar o trigo do joio, de mondar dos seus reflexos o que era manso e o que era bravo,

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