Textos sobre Sentir de Florbela Espanca

2 resultados
Textos de sentir de Florbela Espanca. Leia este e outros textos de Florbela Espanca em Poetris.

Tremo por Ti que És o Meu Único Amigo

AntĂłnio,

Tenho imensas coisas que te dizer e não sei o que hei-de dizer, tão arreliada estou e tão sem cabeça para pensar a coisa mais insignificante deste mundo. Que linda noite, tu vais passar, Amigo querido! E eu? A pensar que a maldade e a estupidez desta vida que no nosso desgraçado país é um horror, me pode fazer o mal maior que a alguém se pode fazer. Tenho medo, tenho medo, meu amor. Este desassossego contínuo pÔe-me doente e faz-me doida.

Então eu hei-de passar a minha triste vida a tremer por ti? Eu tenho pouca sorte, e quando enfim encontro no meu caminho alguém que gosta de mim, por mim, como se deve gostar, que pensa na minha felicidade, no meu sossego, alguém que se digna ver que eu tenho alma a sentir, quando encontro enfim no mundo o que julgara não encontrar nunca, hei-de andar como o avarento a tremer pelo tesoiro que levou anos, uma vida inteira a conquistar e que lhe podem roubar num momento. Eu tenho pouca sorte! Que Deus tenha piedade de mim.

Quereria dizer-te muitas coisas mas nem sei o que; sĂł tenho vontade de chorar e de gritar desesperadamente,

Continue lendo…

O Sucesso para um Grande Amor

Estou contente porque a minha querida nĂŁo tem ainda o afecto exclusivo e Ășnico que hĂĄ-de sentir um dia por um homem, apesar de todas as suas teorias que hĂĄ-de ver voar, voar para tĂŁo longe ainda!… E no entanto, elas sĂŁo tĂŁo verdadeiras! Ainda assim, minha querida JĂșlia, uma das coisas melhores da nossa vida de tĂŁo prosaico sĂ©culo, Ă© o amor, o grande e discutido amor, o nosso encanto e o nosso mistĂ©rio; as nossas pĂ©talas de rosa e a nossa coroa de espinhos. O amor Ășnico, doce e sentimental da nossa alma de portugueses, o amor de que fala JĂșlio Dantas, «uma ternura casta, uma ternura sã» de que «o peito que o sente Ă© um sacrĂĄrio estrela­do», como diz Junqueiro; o amor que Ă© a razĂŁo Ășnica da vida que se vive e da alma que se tem; a paixĂŁo delicada que dĂĄ beijos ao luar e alma a tudo, desde o olhar ao sorriso, — Ă© ainda uma coisa nobre, bela e digna! Digna de si, do seu sentir, do seu grande coração, ao mesmo tempo violento e calmo. Esse amor que «em sendo triste, canta, e em sendo alegre, chora», esse amor hĂĄ-de senti-lo um dia,

Continue lendo…