A Importância de Dostoievski na Literatura
Os dois grandes monumentos do romance que o século passado (XIX) nos legou, ou seja aqueles em que poderemos reconhecer-nos, foram os erguidos por Tolstoi e por Dostoievski. Mas se a lição do primeiro foi facilmente assimilada, a do segundo levou tempo – e tanto, que só hoje acabámos de entendê-la bem. Significa isto que Tolstoi, com incidências menores de moralização, continua um Balzac, é bem do século XIX. E foi por se pretender à força ligar a esse século também um Dostoievski que ele só tarde se nos revelou, para dominar ainda hoje, diga-se o que se disser, todo o romance europeu. Para usar uma expressão que já usei, não com inteira originalidade, e a que a crítica me ligou, direi que Tolstoi continua o romance-espectáculo e que Dostoievski inaugura o romance-problema.
Dir-se-ia, e com razão, que todo o romance é problema e espectáculo, já que o espectáculo resiste num romance de Kafka ou Dostoievski, e o problema implicita-se numa qualquer narrativa, nem que seja o Amadis de Gaula. Mas é tão visível a deslocação do acento na obra de Dostoievski, que ela foi defendida, para existir, pelo que lhe é inessencial (como por um Brunetière e recentemente um Ernst Fischer,
Passagens de Vergílio Ferreira
496 resultadosO mais odioso da guerra é a paixão que por ela se tem.
Uma boa frase cria a sua verdade. É por isso que os políticos escolhem meticulosamente os seus slogans para criarem a deles.
Não queiras conhecer tudo, deixa um espaço livre para te conhecer.
Toda a virtude é uma contrariedade. É por isso que os padres não são castrados.
Jovens e nus frente ao mar, estão presentes em cada célula do seu corpo. Mas a vida que têm é demais para eles e não sabem que fazer dela. Emergem da água rutilantes e riem. Depois deitam-se na areia, gastam o dia e a noite a amar-se, a embebedar-se, a estoirar todo o prazer e forças que têm. E ficam ainda com vida por gastar. É desses sobejos já com bolor que terão de viver depois na velhice.
Se és artista, não fales em ser maior ou menor, para não confundires a tua obra com uma prova de atletismo.
Uma guerra ganha-se com a razão da força. E o vencedor conta-a depois com a força da razão.
Ser inteligente é ser desgraçado. O imbecil é feliz. Mas o animal também.
Num mundo de cegos quem tem um olho é aleijado.
O que mais importa não é o novo que se vê mas o que se vê de novo no que já tínhamos visto.
Não há uma verdade «em si». Há é uma verdade «em nós». Tudo o mais já não interessa à conversa.
O que há de pior no erro é a sua verdade. E ao contrário.
Da distracção da maioria se faz a profundeza de alguns. Ser profundo é assim não estar distraído quando todos os outros o estão.
O amor acaba quando acaba o que há nele de impossível.
Oh, a dedicação, a estima, a generosidade. A razão fundamental por que os cães são estimados é que a sua carne não é boa para comer.
O vocabulário do amor é restrito e repetitivo, porque a sua melhor expressão é o silêncio. Mas é deste silêncio que nasce todo o vocabulário do mundo.
A História é um Criar e Desfazer de Ilusões
A História é um criar e desfazer de ilusões. Em todos os domínios, sobretudo no do pensar. Admitamos que é antes um desfazer de ilusões até à verdade final. Cercados do nada, antes e depois, o indivíduo, a espécie, a própria terra, o sistema solar, o universo com a degradação da energia, que é que quer dizer uma «ilusão»? É o acordar de um sonho num sonho. Que significa o entusiasmo com o desfazer do que nos iludiu? Mas continuar a sonhar num sonho de segundo grau é não saber que se continua. Com essa ignorância se faz a grandeza do homem. Ou com o ignorar, mas como se não. A verdade perfeita é o nada que nos cerca. Mas no nada nem sequer se sabe que não há nada. Só portanto na ilusão pode haver tudo. E, nesse caso, continuemos.
Não penses que a sabedoria é feita do que se acumulou. Porque ela é feita apenas do que resta depois do que se deitou fora.
Vê se uma tua ideia se não torna um lugar-comum para te não dizerem que te serves de um lugar-comum quando por acaso a repetires.