Noite Escura
Noite escura do amor, em que me deito
com teu corpo de luz, eu assombrado
deste fantasma de repente alado
amplificando a jaula do meu peito.Deixando-o infinito, maculado
de sangue e espuma (Ă© mar este fantasma?
ou pĂĄssaro de mar que em onda espalma
seu corpo que é de luz e céu desfeito).E a noite escura que era o amor se ajunta
em feixes de silĂȘncio e de desmaio
para a festa defuntade ver ressurreiçÔes: tempo em que caio
para em sombras cantar mais docemente
este sol que me pÔe preso e demente.
Passagens de Walmir Ayala
5 resultadosProtesto
NĂŁo Ă© no teu corpo que se imola
para a ceia dos meus sentidos
a vĂtima nĂșbil, a ĂĄurea mola
que cinge o amor recente aos idos.Mas é também no teu corpo que corre
o sangue que o meu sangue socorre.NĂŁo Ă© no teu corpo que se ergue
a guerra fria dos meus nervos.nem nasceram tuas transparĂȘncias
para a cegueira dos meus dedos.Mas é também no teu corpo insano
que perscruto meu desconforto humano.NĂŁo Ă© no teu corpo, nos teus olhos
de fauno, que colho as minhas ditas,
nem o jasmim de tua boca flore
para a visĂŁo que me solicita.Mas Ă© tambĂ©m no teu corpo Ășnico
que o amor Ă forma do Amor reĂșno.NĂŁo Ă© no teu corpo que concentro
minha sede (esta sede ferina
que morre de seu farto alimento
e vive de quanto se elimina)Mas é também teu corpo a medida
destas ĂĄguas sobre a minha ferida.NĂŁo Ă© no teu corpo, mas Ă© tanto
no teu corpo meu Ășltimo refĂșgio,
Até o Fim
Até o fim com esta garganta
e estes olhos
lĂquidos, atĂ© o fim
com estas mĂŁos
trémulas.Até o fim com estes pés exaustos
e estes lĂĄbios costurados
ao pé da noite. Até o fim
sem dizer nada.Até o fim estes canais premindo
o sangue.
Até o fim o obrigatório oxigénio
sobrevivĂȘncia
no abstracto
difĂcil ar.AtĂ© o fim a tinta ilesa do amor
na alma,
até que quebrem as epidermes
desta mentira,
e o fim prossiga
até o fim.
Amor, se te Repito
Amor, se te repito, se te clamo
se te exijo e te cravo em mim, se espero
sabendo que nĂŁo vens, e se te gero
em cada instante meu, e se te amo,amor, se te reservo o que mais quero,
se te acredito exacto e te reclamo,
se te adivinho e sonho e te proclamo
Deus, coração e påtria, o que venero.Amor, se te situo necessårio,
se me unifico em ti, eu que fui vĂĄrio
e fraco para todas as batalhas,em nome de que glĂłria irei firmado
a conquistar-te, amor, se nem me Ă© dado
pedir no instante extremo que me valhas?
Viola
Ai, nĂŁo morras de amor, de amor nĂŁo morre
o amor que mata amor morosamente.
NĂŁo creias no que te arma de descrente
e sendo anti-socorro te socorre.Naquela simples gala, justamente,
Ă© inĂcio da pobreza â isto que morre
sendo amor que te mata e te socorre
no amor que mata amor, morosamente.HĂĄ uma pressa escondida e inata nessa
morosa perda, amor, que de repente
te instiga a dar medida ao que nĂŁo cessa.Se te apraz dar socorro ao que socorre,
aceita o que te mata eternamente
e nĂŁo morras de amor, que amor nĂŁo morre.