Passagens de Walmir Ayala

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Noite Escura

Noite escura do amor, em que me deito
com teu corpo de luz, eu assombrado
deste fantasma de repente alado
amplificando a jaula do meu peito.

Deixando-o infinito, maculado
de sangue e espuma (Ă© mar este fantasma?
ou pĂĄssaro de mar que em onda espalma
seu corpo que é de luz e céu desfeito).

E a noite escura que era o amor se ajunta
em feixes de silĂȘncio e de desmaio
para a festa defunta

de ver ressurreiçÔes: tempo em que caio
para em sombras cantar mais docemente
este sol que me pÔe preso e demente.

Protesto

NĂŁo Ă© no teu corpo que se imola
para a ceia dos meus sentidos
a vĂ­tima nĂșbil, a ĂĄurea mola
que cinge o amor recente aos idos.

Mas é também no teu corpo que corre
o sangue que o meu sangue socorre.

NĂŁo Ă© no teu corpo que se ergue
a guerra fria dos meus nervos.

nem nasceram tuas transparĂȘncias
para a cegueira dos meus dedos.

Mas é também no teu corpo insano
que perscruto meu desconforto humano.

NĂŁo Ă© no teu corpo, nos teus olhos
de fauno, que colho as minhas ditas,
nem o jasmim de tua boca flore
para a visĂŁo que me solicita.

Mas Ă© tambĂ©m no teu corpo Ășnico
que o amor Ă  forma do Amor reĂșno.

NĂŁo Ă© no teu corpo que concentro
minha sede (esta sede ferina
que morre de seu farto alimento
e vive de quanto se elimina)

Mas é também teu corpo a medida
destas ĂĄguas sobre a minha ferida.

NĂŁo Ă© no teu corpo, mas Ă© tanto
no teu corpo meu Ășltimo refĂșgio,

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Até o Fim

Até o fim com esta garganta
e estes olhos
líquidos, até o fim
com estas mĂŁos
trémulas.

Até o fim com estes pés exaustos
e estes lĂĄbios costurados
ao pé da noite. Até o fim
sem dizer nada.

Até o fim estes canais premindo
o sangue.
Até o fim o obrigatório oxigénio
sobrevivĂȘncia
no abstracto
difĂ­cil ar.

Até o fim a tinta ilesa do amor
na alma,
até que quebrem as epidermes
desta mentira,
e o fim prossiga
até o fim.

Amor, se te Repito

Amor, se te repito, se te clamo
se te exijo e te cravo em mim, se espero
sabendo que nĂŁo vens, e se te gero
em cada instante meu, e se te amo,

amor, se te reservo o que mais quero,
se te acredito exacto e te reclamo,
se te adivinho e sonho e te proclamo
Deus, coração e påtria, o que venero.

Amor, se te situo necessĂĄrio,
se me unifico em ti, eu que fui vĂĄrio
e fraco para todas as batalhas,

em nome de que glĂłria irei firmado
a conquistar-te, amor, se nem me Ă© dado
pedir no instante extremo que me valhas?

Viola

Ai, nĂŁo morras de amor, de amor nĂŁo morre
o amor que mata amor morosamente.
NĂŁo creias no que te arma de descrente
e sendo anti-socorro te socorre.

Naquela simples gala, justamente,
Ă© inĂ­cio da pobreza — isto que morre
sendo amor que te mata e te socorre
no amor que mata amor, morosamente.

HĂĄ uma pressa escondida e inata nessa
morosa perda, amor, que de repente
te instiga a dar medida ao que nĂŁo cessa.

Se te apraz dar socorro ao que socorre,
aceita o que te mata eternamente
e nĂŁo morras de amor, que amor nĂŁo morre.