Passagens de Walmir Ayala

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Protesto

NĂŁo Ă© no teu corpo que se imola
para a ceia dos meus sentidos
a vĂ­tima nĂșbil, a ĂĄurea mola
que cinge o amor recente aos idos.

Mas é também no teu corpo que corre
o sangue que o meu sangue socorre.

NĂŁo Ă© no teu corpo que se ergue
a guerra fria dos meus nervos.

nem nasceram tuas transparĂȘncias
para a cegueira dos meus dedos.

Mas é também no teu corpo insano
que perscruto meu desconforto humano.

NĂŁo Ă© no teu corpo, nos teus olhos
de fauno, que colho as minhas ditas,
nem o jasmim de tua boca flore
para a visĂŁo que me solicita.

Mas Ă© tambĂ©m no teu corpo Ășnico
que o amor Ă  forma do Amor reĂșno.

NĂŁo Ă© no teu corpo que concentro
minha sede (esta sede ferina
que morre de seu farto alimento
e vive de quanto se elimina)

Mas é também teu corpo a medida
destas ĂĄguas sobre a minha ferida.

NĂŁo Ă© no teu corpo, mas Ă© tanto
no teu corpo meu Ășltimo refĂșgio,

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Até o Fim

Até o fim com esta garganta
e estes olhos
líquidos, até o fim
com estas mĂŁos
trémulas.

Até o fim com estes pés exaustos
e estes lĂĄbios costurados
ao pé da noite. Até o fim
sem dizer nada.

Até o fim estes canais premindo
o sangue.
Até o fim o obrigatório oxigénio
sobrevivĂȘncia
no abstracto
difĂ­cil ar.

Até o fim a tinta ilesa do amor
na alma,
até que quebrem as epidermes
desta mentira,
e o fim prossiga
até o fim.

Amor, se te Repito

Amor, se te repito, se te clamo
se te exijo e te cravo em mim, se espero
sabendo que nĂŁo vens, e se te gero
em cada instante meu, e se te amo,

amor, se te reservo o que mais quero,
se te acredito exacto e te reclamo,
se te adivinho e sonho e te proclamo
Deus, coração e påtria, o que venero.

Amor, se te situo necessĂĄrio,
se me unifico em ti, eu que fui vĂĄrio
e fraco para todas as batalhas,

em nome de que glĂłria irei firmado
a conquistar-te, amor, se nem me Ă© dado
pedir no instante extremo que me valhas?

Viola

Ai, nĂŁo morras de amor, de amor nĂŁo morre
o amor que mata amor morosamente.
NĂŁo creias no que te arma de descrente
e sendo anti-socorro te socorre.

Naquela simples gala, justamente,
Ă© inĂ­cio da pobreza — isto que morre
sendo amor que te mata e te socorre
no amor que mata amor, morosamente.

HĂĄ uma pressa escondida e inata nessa
morosa perda, amor, que de repente
te instiga a dar medida ao que nĂŁo cessa.

Se te apraz dar socorro ao que socorre,
aceita o que te mata eternamente
e nĂŁo morras de amor, que amor nĂŁo morre.

Noite Escura

Noite escura do amor, em que me deito
com teu corpo de luz, eu assombrado
deste fantasma de repente alado
amplificando a jaula do meu peito.

Deixando-o infinito, maculado
de sangue e espuma (Ă© mar este fantasma?
ou pĂĄssaro de mar que em onda espalma
seu corpo que é de luz e céu desfeito).

E a noite escura que era o amor se ajunta
em feixes de silĂȘncio e de desmaio
para a festa defunta

de ver ressurreiçÔes: tempo em que caio
para em sombras cantar mais docemente
este sol que me pÔe preso e demente.