As primeiras impressões não são decisivas. Às vezes são fatais mas não decisivas.
Passagens de Agustina Bessa-Luís
140 resultadosPara se remeter ao extraordinário, o homem tem que criar a sua própria solidão repartida com os outros homens.
Disciplinar os povos é sempre a ilusão frenética dos grandes revolucionários. Falham continuamente. Não se dominam as energias sociais do mundo senão na medida em que elas tendem a uma rotina que, por sua vez, deixe tranquila a «espontaneidade negativa» do homem.
A Crítica é Menos Eficaz do que o Exemplo
A crítica é menos eficaz do que o exemplo. É de considerar se a grande sugestão para usar da crítica nos nossos tempos e que põe em causa todos os valores consagrados, não é o resultado duma anemia profunda do acto de vontade de toda uma sociedade. Todos temos consciência de como o exemplo se tornou interdito, como o indivíduo, na sua excepção perturbadora, é causa de mal-estar. Dir-se-ia que a fraqueza, a breve virtude, a mediocridade, de interesses e de condições, têm prioridade sobre o modelo e a utopia. A par desta dimensão rasa do despotismo do demérito, levanta-se uma rajada de violência. É de crer que a violência é hoje a linguagem bastarda da desilusão e o reverso do exemplo; representa a frustração do exemplo.
Não é difícil o sucesso político se tivermos em conta que é uma área pouco cobiçada e onde não há adversários muito convictos.
Acabarei como aquele que disse que pouco louvou na vida e se arrepende de não ter louvado ainda menos.
O Que é Escrever?
Escrever é isto: comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo, que é sempre experimentado nos povos como uma infusão de laboratório, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso (não de livraria, mas de indignação social profunda) é aquele que protege os homens do medo: por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração. Mas porque a poética precisão de dum acto humano não corresponde totalmente à sua evidência. Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas. Depois de tudo, escrever é um pouco corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida.
A grandeza dum espírito está na pluralidade e plenitude da sua sensibilidade. Todo o vasto espírito é sempre um tanto santo e outro tanto demoníaco. Todo o artista exagera ou dilui, aviva ou simplifica.
O mundo exige mais do que a média, para dar em troca menos do que é justo.
Mas o que são os vaidosos senão os que temem a sua nudez? Os que evitam o retrato da alma para não lhes descobrir tormento e debilidade?
A melhor prova duma real amizade está em evitar os compromissos entre aqueles que se estimam.
Mãe: profundamente cumpridora e formal, nas suas relações com os seus filhos, na sua relação com a casa e com o lar, sempre presente e movida do bem-estar material, mas com um certo puritanismo, talvez até um pouco incómodo. Um puritano quer dizer um rebelde que se ignora.
Humilde é a pessoa que não afasta de si a crença do Infinito, a realidade das suas pequenas pegadas na vida – e não aquela que se desmerece, que insulta o seu corpo e a sua alma, que se enfurece contra si mesma. Aceitar a sua humilhação é consentir na humilhação do seu próprio Deus.
A mulher, até pelo seu grande poder de insignificância, é muito menos vulnerável que o homem.
Na sabedoria há qualquer coisa de estéril.
A leitura responsabiliza muito menos que a palestra; e esta menos do que a imagem. Na imagem aparece a lógica do conteúdo com mais intensidade.
A solidão, quando é vivida na infância em completa disponibilidade, sem constrangimento, como um estado semelhante ao do primeiro homem e da primeira mulher, tem tendência a tornar-se crónica.
As cidades não são pátrias. É na província que se encontra o carácter e a mística duma nação, e os grandes escritores deixam-se amarrar ao espírito das terras nulas e sensatas a que extraem um brilho que a pedra polida da capital não tem.
O humor é, nas pessoas, um elemento terrivelmente desconhecido. Pode unir um povo inteiro como o não fazem os costumes e a própria língua.
As guerras não surgem por motivos económicos ou passionais. É uma atitude de indivíduos abandonados à razão, incluindo a razão do seu mundo interior isolada do mundo exterior.