Ser Pontual
NĂŁo sou pontual, porque nĂŁo sinto os sofrimentos da espera. Espero que nem um boi. Porque se eu sinto uma finalidade na minha existĂȘncia actual, mesmo que seja muito incerta, sinto-me na minha fraqueza tĂŁo vaidoso que era capaz de aguentar tudo sĂł para ter esta finalidade Ă minha frente. Mesmo se estivesse apaixonado, o que eu entĂŁo nĂŁo faria! Quanto tempo nĂŁo esperei, hĂĄ anos, debaixo das arcadas do Ring atĂ© M. passar, mesmo para a ver andar com o namorado. Tenho chegado atrasado a encontros em parte por descuido, em parte pela minha ignorĂąncia dos sofrimentos da espera, mas tambĂ©m em parte para obter novas e complicadas finalidades atravĂ©s de uma busca renovada e incerta da pessoa com quem tinha combinado o encontro, e assim conseguir a possibilidade de uma espera incerta e longa. Pelo facto de eu em criança ter um medo terrĂvel de esperar por alguĂ©m, poderia concluir-se que estava destinado a qualquer coisa melhor e que previa o meu futuro.
Passagens sobre Busca
306 resultadosà preciso buscar o amor onde estiver, mesmo que isso signifique horas, dias, semanas de decepção e tristeza. Porque ao momento em que partimos em busca do amor, ele também parte ao nosso encontro.
Soneto X
Vendo da peste o bĂĄrbaro flagelo
Mil vidas a ceifar a cada instante,
D’Ăfrica deixa o solo distante
E veio no Brasil curar Otelo.O semblante imposto negro-amarelo
Cresta do orgulho a chama crepitante,
Traz cheia de vidrinhos o turbante,
E buĂdo punhal por escalpelo.Homeopata Ă©, e o albergue puro
Do puro Martins busca e diz-lhe ardido:
“Doutor, eu quero ter vosso futuro.”â Bravo! grita o Martins enternecido;
Pelas cinzas de Hahnemann te juro
Que nĂŁo hĂĄs de morrer desconhecido.
A estima consegue-se menos quanto mais se busca; depende do respeito alheio e assim ninguém a pode adquirir sem a merecer dos outros e sem a aguardar.
O que busca a verdade corre o risco de encontrĂĄ-la.
Julieta
A loura Julieta enamorada,
Triste, lĂąnguida, pĂĄlida, abatida,
Aparece radiante na sacada
Dos raios brancos do luar ferida.Engolfa o olhar na sombra condensada,
Perscruta, busca em torno… e na avenida
Surge Romeu; da valerosa espada
Esplende a clara lĂąmina polida…Sente-se o arfar de sĂŽfregos desejos,
Estoura no ar um turbilhĂŁo de beijos,
Mas o dia reponta!… Ă indiscretaDa cotovia matinal garganta!
Ă perigo do amor, que o amor quebranta!
Ă noites de Verona! Ă Julieta!