Textos sobre Esforço

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Textos de esforço escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Deliciosa Solidão dos Anos de Maturidade

O que é significativo na existência de cada um é algo de que dificilmente temos consciência e não deve seguramente incomodar os outros. O que sabe um peixe acerca da água na qual nada durante toda a vida?
A amargura e a doçura vêm do exterior, as dificuldades do interior, dos nossos próprios esforços. Na maior parte das vezes faço as coisas que a minha própria natureza me compele a fazer. É embaraçador ganhar tanto respeito e amor por isso. Também me foram atiradas setas de ódio, mas nunca me atingiram, porque de algum modo pertencem a outro mundo, com o qual não tenho qualquer tipo de ligação.
Vivo naquela solidão que é penosa na juventude, mas deliciosa nos anos de maturidade.

Os Grandes Forjam-se na Adversidade

Todo o ambiente é favorável ao forte; de um modo ou de outro ele o ajuda a cumprir a missão que se impôs e a conseguir ir porventura mais além das barreiras marcadas. A derrota deve mais atribuir-se à invalidez do impulso interior do que aos obstáculos que lhe ponham diante, mais à alma incapaz de se bater com vigor e tenazmente do que às resistências, às invejas e às dificuldades que o mundo possa levantar perante Hércules que luta.
O mal que se vê é aguilhão para o bem que se deseja; e quanto mais duro, quanto mais agressivo, se bate em peito de aço, tanto mais valioso auxiliar num caminho de progresso; o querer se apura, a visão do futuro nos surge mais intensa a cada golpe novo; o contentamente e a mansa quietude são estufa para homens; por aí se habituaram a ser escravos de outros homens, ou da cega Natureza; e eu quero a terra povoada de rijos corações que seguem os calmos pensamentos e a mais nada se curvam.
Mais custa quebrar rochar do que escavar a terra; mais sólido, porém, o edifício que nela se firmou. A grandeza da obra é quase sempre devida à dificuldade que se encontra nos meios a empregar,

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O Homem não Foge da Dor

Não é verdade que o homem procure o prazer e fuja da dor. São de tomar em conta os preconceitos contra os quais invisto. O prazer e a dor são consequências, fenómenos concomitantes. O que o homem quer, o que a menor partícula de um organismo vivo quer, é o aumento de poder: é em consequência do esforço em consegui-lo que o prazer e a dor se efectivam; é por causa dessa mesma vontade que a resistência a ela é procurada, o que indica a busca de alguma coisa que manifeste oposição.
A dor, sendo entrave à vontade de poder do homem, é portanto um acontecimento normal – a componente normal de qualquer fenómeno orgânico. E o homem não procura evitá-la, pois tem necessidade dela, já que qualquer vitória implica uma resistência vencida.
Tome-se como exemplo o mais simples dos casos, o da nutrição de um organismo primário; quando o protoplasma estende os pseudópodes para encontrar resistências, não é impulsionado pela fome, mas pela vontade de poder; acima de tudo, ele intenta vencer, apropriar-se do vencido, incorporá-lo a si. O que se designa por nutrição é pois um fenómeno consecutivo, uma aplicação da vontade original de devir mais forte.

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Combater a Opressão

É certamente admirável o homem que se opõe a todas as espécies de opressão, porque sente que só assim se conseguirá realizar a sua vida, só assim ela estará de acordo com o espírito do mundo; constitui-lhe suficiente imperativo para que arrisque a tranquilidade e bordeje a própria morte o pensamento de que os espíritos nasceram para ser livres e que a liberdade se confunde, na sua forma mais perfeita, com a razão e a justiça, com o bem; a existência passou a ser para ele o meio que um deus benevolente colocou ao seu dispor para conseguir, pelo que lhe toca, deixar uma centelha onde até aí apenas a treva se cerrara; é um esforço de indivíduo que reconheceu o caminho a seguir e que deliberadamente por ele marcha sem que o esmoreçam obstáculos ou o intimide a ameaça; afinal o poderíamos ver como a alma que busca, após uma luta de que a não interessam nem dificuldades nem extensão.

O Segredo dos Dias

Quando há muito para fazer, que é sempre, o melhor é fazer como se nada houvesse para fazer e deixar tudo para o pouco tempo – que infelizmente tem de ser medido – que resta para fazê-lo.
Nos dias de maior trabalho, permita-se o maior luxo. Não depois, mas antes. Ou melhor: antes para quem sente que roubou um pecado e tem de pagá-lo e depois para quem sente que merece uma recompensa por ter trabalhado tanto.

Os seres humanos dividem-se entre os castigadores e os recompensadores. Talvez os primeiros sejam mais judeus e católicos e os segundos mais islâmicos e protestantes.
Para os castigadores o trabalho é o preço que se paga pelo prazer, pelo adiamento, pelo facto de não ter investido o tempo bastante para tentar urdir um resultado perfeito.
Para os recompensadores primeiro trabalha-se e depois celebra-se o ter trabalhado.

Só agora me ocorre, tarde na vida, que ambas as atitudes são oprimentes, tornando-nos em porquinhos-da-índia que comem conforme põem a roda que está na jaula em movimento.
É um erro equiparar o trabalho ao prazer, seja anterior ou posterior. O trabalho é sempre um sofrimento, um esforço, uma coisa que,

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As Horas

Damos festas, abandonamos as nossas famílias para vivermos sós no Canadá, batalhamos para escrever livros que não mudam o mundo apesar das nossas dádivas e dos nossos imensos esforços, das nossas absurdas esperanças. Vivemos as nossas vidas, fazemos seja o que for que fazemos e depois dormimos: é tão simples e tão normal como isso. Alguns atiram-se de janelas, ou afogam-se, ou tomam comprimidos; um número maior morre por acidente, e a maioria, a imensa maioria é lentamente devorada por alguma doença ou, com muita sorte, pelo próprio tempo. Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos, embora todos, excepto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis. Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã, mesmo assim desejamos, acima de tudo, mais.

Vontade de Mudança

Se achas que a situação da tua vida é insatisfatória ou até mesmo intolerável, só te rendendo primeiro conseguirás quebrar o padrão de resistência inconsciente que perpetua essa situação. Render-se é perfeitamente compatível com tomar providências, com iniciar uma mudança ou alcançar metas. Mas no estado de rendição há uma energia totalmente diferente, uma qualidade diferente que corre no que fizeres. Ao renderes-te, ligas-te novamente com a energia da fonte do Ser e, se o que fizeres estiver infuso do Ser, tornar-se-á numa celebração rejubilante da energia da vida, que te levará mais profundamente para dentro do Agora. Através da não-resistência, a qualidade da tua consciência e, por conseguinte, a qualidade de tudo o que fizeres ou criares, será incomensuravelmente realçada. Os resultados tomarão então conta de si próprios e reflectirão essa qualidade. Poderíamos chamar-lhe “acção rendida”. Não é o trabalho tal como o conhecemos desde há milhares de anos. À medida que mais seres humanos forem despertando, a palavra trabalho desaparecerá do nosso vocabulário, e talvez se crie uma palavra nova em sua substituição.

É a qualidade da tua consciência desse momento que é o factor determinante do tipo de futuro que vivenciarás, pelo que render-te é a coisa mais importante que podes fazer para provocar uma mudança positiva.

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A Esterilidade da Crítica

Personagem que Deus não cuidou de convocar quando criou o mundo, o crítico faz questão de estabelecer uma hierarquia nas obras de criação e nas obras do espírito humano. Assim geram-se inveja e desprezo, e o desânimo dos maiores, ante injustiças; assim ficam eles à mercê dos seus inferiores, os estéreis. A única estética sadia é a que não cogita de medir impressões produzidas por tipos diferentes, a que coloca no mesmo plano todos os grandes esforços intelectuais da humanidade, fundindo-os no génio humano, como as cores se fundem na luz sem sobressair nenhuma.

Dificuldade de Leitura

Quando encontro alguma dificuldade no curso da leitura, não fico a roer as unhas; passo adiante, depois de ter feito uma ou duas tentativas de resolvê-la.
Se insistisse nela, iria perder-me, e ao meu tempo, pois tenho espírito resoluto e impaciente. O que não vejo da primeira vez, menos o vejo se insistir. Nada faço sem alegria; o esforço por demais seguido e obstinado ofusca, aflige e fatiga o meu entendimento. A minha vista confunde-se e cansa-se. É-me mister dar-lhe alguma distracção, do mesmo modo por que, para avaliar o lustro do escarlate, recomendam-nos que lhe passemos os olhos de relance, e que voltemos a fazê-lo diversas vezes, de modo súbito e reiterado.

O Mérito da Monotonia

A capacidade para suportar uma vida mais ou menos monótona deve ser adquirida desde a infância. A este respeito, os pais modernos são bastante censuráveis; proporcionam aos filhos demasiados prazeres passivos, tais como espectáculos e guloseimas, e não compreendem a importância que tem para uma criança um dia ser igual a outro dia, excepto, é claro, nalgumas raras ocasiões. Em geral, os prazeres da infância deveriam ser aqueles que a própria criança descobrisse no seu ambiente por meio de algum esforço e imaginação.
Os prazeres que excitam e ao mesmo tempo não implicam qualquer exercício físico, o teatro por exemplo, só lhes seriam facultados muito raramente. A excitação é da mesma natureza dos narcóticos que cada vez se tornam mais exigentes, e a passividade física durante a excitação é contrária ao instinto. Uma criança desenvolve-se melhor quando, tal como uma jovem planta, a deixam tranquila no mesmo solo. Demasiadas viagens, demasiadas variedades de impressões, não são boas para as crianças e tornam-nas mais tarde, quando forem crescidas, incapazes de suportar uma monotonia fecunda. Não quero dizer que a monotonia tenha algum mérito em si mesma; quero sómente afirmar que algumas coisas boas não são possíveis senão quando há um certo grau de monotonia.

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Virtude Representa Muito Mais que Bondade

Parece-me que a virtude é coisa diferente e mais nobre do que as inclinações para a bondade que nascem em nós. As almas bem ajustadas por si mesmas e bem nascidas seguem o mesmo andamento e apresentam nas suas ações a mesma aparência que as virtuosas. Porém a virtude significa não sei quê de maior e mais activo do que, por uma índole favorecida, deixar-se conduzir docemente e tranquilamente na esteira da razão. Aquele que com uma doçura e complacência naturais menosprezasse as ofensas recebidas faria coisa mui bela e digna de louvor; mas aquele que, espicaçado e ultrajado até o âmago por uma ofensa, se armasse com as armas da razão contra o furio­so apetite de vingança e após um grande conflito finalmen­te o dominasse, sem a menor dúvida seria muito mais. Aquele agiria bem, e este virtuosamente: uma acção poder-­se-ia dizer bondade; a outra, virtude, pois parece que o nome de virtude pressupõe dificuldade e oposição, e que ela não pode se exercer sem combate. Talvez seja por isso que chamamos Deus de bom, forte e liberal, e justo; mas não O chamamos de virtuoso: Os Seus actos são todos natu­rais e sem esforço.
Metelo, o único de todos os senadores romanos a se ter proposto,

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Compreender e Unir

Já são em número demasiado os que vieram ao mundo para combater e separar; o progresso e valor de cada seita e de cada grupo dependeram talvez desta atitude descriminadora e intransigente; aceitemos como o melhor que foi possível tudo o que nos apresenta o passado; mas procuremos que seja outra a atitude que tomarmos; lancemos sobre a terra uma semente de renovação e de íntimo aperfeiçoamento.
Reservemos para nós a tarefa de compreender e unir; busquemos em cada homem e em cada povo e em cada crença não o que nela existe de adverso, para que se levantem as barreiras, mas o que existe de comum e de abordável, para que se lancem as estradas da paz; empreguemos toda a nossa energia em estabelecer um mútuo entendimento; ponhamos de lado todo o instinto de particularismo e de luta, alarguemos a todos a nossa simpatia.
Reflitamos em que são diferentes os caminhos que toma cada um para seguir em busca da verdade, em que muitas vezes só um antagonismo de nomes esconde um acordo real. Surja à luz a íntima corrente tanta vez soterrada e nela nos banhemos. Aprendamos a chamar irmão ao nosso irmão e façamos apelo ao nosso maior esforço para que se não quebre a atitude fraternal,

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A Falta de Cultura Ética da Nossa Civilização

Creio que o exagero da atitude puramente intelectual, orientando, muitas vezes, a nossa educação, em ordem exclusiva ao real e à prática, contribuiu para pôr em perigo os valores éticos. Não penso propriamente nos perigos que o progresso técnico trouxe directamente aos homens, mas antes no excesso e confusão de considerações humanas recíprocas, assentes num pensamento essencialmente orientado pelos interesses práticos que vem embotando as relações humanas.
O aperfeiçoamento moral e estético é um objectivo a que a arte, mais do que a ciência, deve dedicar os seus esforços. É certo que a compreensão do próximo é de grande importância. Essa compreensão, porém, só pode ser fecunda quando acompanhada do sentimento de que é preciso saber compartilhar a alegria e a dor. Cultivar estes importantes motores de acção é o que compete à religião, depois de libertada da superstição. Nesse sentido, a religião toma um papel importante na educação, papel este que só em casos raros e pouco sistematicamente se tem tomado em consideração.
O terrível problema magno da situação política mundial é devido em grande parte àquela falta da nossa civilização. Sem «cultura ética» , não há salvação para os homens.

A Imagem é Sempre Fruto da Vaidade

O aplauso é o ídolo da vaidade, por isso as acções heróicas não se fazem em segredo, e por meio delas procuramos que os homens formem de nós o mesmo conceito, que nós temos de nós mesmos. Raras vezes somos generosos, só pela generosidade, nem valerosos só pelo valor. A vaidade nos propõe, que o mundo todo se aplica em registar os nossos passos; para este mundo é que obramos; por isso há muita diferença de um homem, a ele mesmo: posto no retiro é um homem comum, e muitas vezes ainda com menos talento que o comum dos homens; porém posto em parte donde o vejam, todo é acção, movimento, esforço.
Nunca mostramos o que somos, senão quando entendemos que ninguém nos vê, e isto porque não exercitamos as virtudes pela excelência delas, mas pela honra do exercício, nem deixamos de ser maus por aversão ao mal, mas pelo que se segue de o ser. O vício pratica-se ocultamente, porque cremos que a ignomínia só consiste em se saber; de sorte que se somos bons, é por causa dos mais homens, e não por nossa causa; haja quem nos assegure, que não há-de saber-se um desacerto, e logo nos tem certo,

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Medida e Moderação

A mocidade é romântica, sempre dominada pelo sentimento; a velhice é clássica nos seus gostos, mais amiga da ordem e da restrição que da paixão e da liberdade; a idade madura paira entre os dois extremos, e com a vontade disciplinada, o espírito claro e os desejos coordenados, pacientemente constrói. A regra do conhecimento, disse Descartes, é pensar com clareza; só o que é claramente compreendido é verdade; só assim os desejos se fundem no carácter e na vontade.
A grande qualidade dos anos maduros está na moderação; e o grande defeito, na mediocridade. Nada mais fácil do que fugir ao esforço para cair na rotina, passando da vida vertical para a horizontal. Este perigo ameaça a maior parte dos homens; a sesta durante a tarde é um símbolo e um começo. Mas moderação de nenhum modo implica mediocridade; pode significar força e profundidade de espírito. A acção resoluta combina-se com a moderação no desejar e no falar. O próprio Nietzsche, tão imoderado, dizia que poucos conhecem a força e a significação de duas coisas muito altas – medida e moderação.

Preguiça Corporal e Preguiça Espiritual

Há um trabalho servil, que é do corpo e para o corpo, embora a mente ajude, e um trabalho régio, que é da alma e para a alma, e quase ninguém exige às mãos. Há, portanto, uma preguiça corporal e outra espiritual, uma ou outra senhora de todos.
A primeira é dominada – não destruída – pela necessidade e pelo tédio; a outra, reforçada pela arrogância, raramente é vencida. Os homens são indolentes que trabalham contra a vontade com os braços e a inteligência para fugir ao trabalho mais difícil da alma.
As actividade imoderadas de muitos não passam de pretextos da ociosidade espiritual. Em vez de se afadigarem para conseguir a renúncia dos bens materiais, sujeitam-se a um trabalho totalmente exterior que por vezes se converte, devido a inércia ou embriaguez, em frenesim.
Mas reformar a natureza doente e transviada, abandonar a senda da concupiscência e alcançar a liberdade serena dos filhos da luz representa um trabalho incomparavelmente mais duro do que dirigir uma empresa, fábrica ou banco. A maioria, por cáclculo de indolência, prefere o trabalho servil, embora penoso, ao real, mais áspero e duro – torna-se escravo das coisas terrestres para evitar o esforço que o tornaria dono do espírito.

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Só o Presente é Verdadeiro e Real

Um ponto importante da sabedoria de vida consiste na proporção correcta com a qual dedicamos a nossa atenção em parte ao presente, em parte ao futuro, para que um não estrague o outro. Muitos vivem em demasia no presente: são os levianos; outros vivem em demasia no futuro: são os medrosos e os preocupados. É raro alguém manter com exactidão a justa medida. Aqueles que, por intermédio de esforços e esperanças, vivem apenas no futuro e olham sempre para a frente, indo impacientes ao encontro das coisas que hão-de vir, como se estas fossem portadoras da felicidade verdadeira, deixando entrementes de observar e desfrutar o presente, são, apesar dos seus ares petualentes, comparáveis àqueles asnos da Itália, cujos passos são apressados por um feixe de feno que, preso por um bastão, pende diante da sua cabeça. Desse modo, os asnos vêem sempre o feixe de feno bem próximo, diante de si, e esperam sempre alcançá-lo.
Tais indivíduos enganam-se a si mesmos em relação a toda a sua existência, na medida em que vivem ad interim [interinamente], até morrer. Portanto, em vez de estarmos sempre e exclusivamente ocupados com planos e cuidados para o futuro, ou de nos entregarmos à nostalgia do passado,

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A Única Qualidade Específica do Homem

Esforça-te por que não te suceda o mesmo que a mim: começar os estudos na velhice. E esforça-te tanto mais quanto enveredaste por um estudo que dificilmente chegarás a dominar mesmo na velhice. «Até que ponto poderei progredir?» – perguntas-me. Até ao ponto onde chegarem os teus esforços. De que estás à espera? O saber não se obtém por obra do acaso. O dinheiro pode cair-te em sorte, as honras serem-te oferecidas, os favores e os altos cargos poderão talvez acumular-se sobre ti: a virtude, essa, não virá ter contigo! Não é sem custo, sem grandes esforços, que chegamos a conhecê-la; mas vale bem a pena o esforço, porquanto de uma só vez se obtêm todos os bens possíveis. De facto, o único bem é aquele que é conforme à moral; nos valores aceites pela opinião comum não encontrarás a mínima parcela de verdade ou de certeza.
(…) Cada coisa é avaliada por uma qualidade específica. O valor da videira está na sua produtividade, o do vinho no seu sabor, o do veado na sua rapidez; o que nos interessa nas bestas de carga é a sua força, pois elas apenas servem para isso mesmo: transportar carga. Num cão a primeira qualidade é o faro,

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O Mal em Mim

Não sou capaz de explicar a sensação do mal em mim; representava, nesse período da minha vida de que falo, a fonte de uma angústia inexprimível. Os homens constroem teorias estranhas sobre o bem e o mal, sobre os castigos e as recompensas; procuram assim a verdade que nunca em vida poderão saber.
Foi muito bom para mim e para a minha família o facto de eu ter sempre ficado em casa e conservado sem esforço o meu antigo modo de ser calmo até aos quinze anos. Nessa altura, porém, mandaram-me para uma escola longe da minha casa, onde o ser latente em mim que tanto temia despertou e começou a agir e a insinuar-se na vida humana.
Quando digo que sentia haver muito mal dentro de mim, não quero dizer que estivesse desde sempre condenado a uma vida de infâmia ou de vício. Quero dizer, porém, isto — que havia em mim uma forte atracção por todas as coisas censuráveis que assediam o homem: podia controlar ou podia satisfazer esta atracção, mas uma vez satisfeita, mesmo só um pouco, era provável que eu nunca mais me pudesse controlar. Resolvi satisfazer essa atracção, e a partir desse momento,

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