Antigamente os animais falavam. Hoje escrevem.
Passagens de Camilo Castelo Branco
285 resultadosAmar é sentir de dentro para fora; apaixonar-se é sentir de fora para dentro.
A escala dos sofrimentos humanos é infinita.
As ações de cada pessoa são boas ou más consoante a maneira como as outras as comentam.
O amor nascente é tão melindroso, pueril e tímido, que receia desagradar até com o pensamento ao ídolo da sua concentrada adoração.
O Valor do que Se Ama
O homem que ama apaixonadamente, não cura de saber o valor que os outros dão à mulher que ama. (…) Se o amor, por qualquer condescendência, declina, o amante, cego ontem, abre hoje um olho, e duvida se ela efectivamente é aquillo que lhe parecia ontem. Na dúvida, pergunta aos outros: «Que vos parece aquela mulher?» Se a delicadeza, ou boa fé responde: «é uma excelente mulher», a cristalização continua. Se a má fé, ou a grosseria responde: «não presta», o amador indeciso odeia a indiscreta resposta, e persiste na dúvida, que é sempre de pior partido para a mulher, sujeita á alta e baixa do mercado.
É na solidão que as almas doentes convalescem e se fortificam.
A lógica das multidões é a dos jurados.
É preciso ter chorado para imortalizar o riso no livro, na estrofe, na sentença, na palavra.
Quando a eloquência, inspirada do íntimo da alma, regurgita em jorros dos lábios de uma amante, é certo o triunfo.
A sabedoria é o trabalho incessante do espírito sobre a ciência.
A verdade é expansiva; a mentira retrai-se, esconde-se até aos olhos dos depravados.
O homem traído uma vez pode ouvir dos lábios da mulher um juramento de alma, animado com a santa inocência de um anjo, mas nunca mais lhe franqueará o coração, onde goteja sangue, uma chaga incurável.
O último amor que desampara o homem é o combinado com o orgulho.
Devido ao amor-próprio, tem-se mais vergonha de um amigo, que de um indiferente, quando se tem de confessar humilhamentos, vexames de vaidade.
A morte emenda todos os atos da vida.
A caridade é a felicidade dos que dão e dos que recebem.
Quando se ama uma mulher, ou ela se deixa erguer um trono de domínio na alma, e então o homem ama por desejo e gratidão; ou ela repele os afectos do que a requesita, e então é nobre o deixá-la na livre escolha de quem lhe apraz.
A mulher não tem valor determinado como uma pérola. Abstracta como os espíritos, espiritual como os anjos, não há teólogo, nem matemático, que a defina pelo dogma, ou a calcule pelas operações infalliveis. Sabe-se que vale muito; mas não é ela que o sabe. Sabem-o aqueles que sofreram por ela, embora as flores do triunfo pendam murchas na sua coroa de martírio.
Os poetas fazem monopólio dos suspiros, mas, honra lhes seja feita, não encarecem o género; barateiam-no de modo que não há consumidora que tenha razão de queixa.