Jamais perca a sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe a alma.
Passagens de Clarice Lispector
1250 resultadosPorque na pobreza de corpo e espírito eu toco na santidade, eu que quero sentir o sopro do meu além. Para ser mais do que eu, pois tão pouco sou.
Vou continuar, é exatamente da minha natureza nunca me sentir ridícula, eu me aventuro sempre, entro em todos os palcos
…Eu que me perdoei tudo o que foi grave e maior em mim…
Vocês não sabem nada de mim. Nunca te disse e nunca te direi quem sou. Eu sou vós mesmos.
A loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente.
Toda mulher leva um sorriso no rosto e mil segredos no coração.
Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por que dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma.
Aos olhos nus, não passava de um chuva repentina, mas aqui dentro soava como uma tempestade.
Todos os hábitos são suspeitos.
Não Sei Dizer quem Sou
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Ou pelo menos o que me faz agir não é o que eu sinto mas o que eu digo. Sinto quem sou e a impressão está alojada na parte alta do cérebro, nos lábios — na língua principalmente —, na superfície dos braços e também correndo dentro, bem dentro do meu corpo, mas onde, onde mesmo, eu não sei dizer. O gosto é cinzento, um pouco avermelhado, nos pedaços velhos um pouco azulado, e move–se como gelatina, vagarosamente. As vezes torna-se agudo e me fere, chocando-se comigo. Muito bem, agora pensar em céu azul, por exemplo. Mas sobretudo donde vem essa certeza de estar vivendo? Não, não passo bem. Pois ninguém se faz essas perguntas e eu… Mas é que basta silenciar para só enxergar, abaixo de todas as realidades, a única irredutível, a da existência. E abaixo de todas as dúvidas — o estudo cromático — sei que tudo é perfeito, porque seguiu de escala a escala o caminho fatal em relação a si mesmo.
Quero que me deem isto: não a explicação, mas a compreensão.
Mas se eu não prestava, eu fora tudo o que aquele homem tivera naquele momento. Pelo menos uma vez ele teria que amar, e sem ser a ninguém..
O mal é que minha esperança ou é inexistente ou forte demais – esperança forte demais é infantil.
No meu temperamento tem um pouco de pimenta: não é todo mundo que gosta? Nem todo mundo que aguenta?
O medo me leva ao perigo. E tudo que eu amo é arriscado.
Sou forte mas também destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente.
Quanto eu devia ter vivido presa para sentir-me agora mais livre somente por não recear mais a falta de estética…
Tem certas coisas que é melhor que a gente nunca tenha a oportunidade de dizer, certas coisas que ficam fatais depois que se disse, e antes pelo menos era a vida de um modo geral.
Meu deus, só agora me lembrei que a gente morre. mas – mas eu também?! não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. sim.