Passagens sobre EvidĂȘncia

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Caridade HipĂłcrita

Nos Ășltimos tempos, preocupava-o sobretudo as misĂ©rias das classes – por sentir que nestas democracias industriais e materialistas, furiosamente empenhadas na luta pelo pĂŁo egoĂ­sta, as almas cada dia se tornavam mais secas e menos capazes de piedade.
«A Fraternidade (dizia ele numa carta de 1886, que conservo) vai-se sumindo, principalmente nestas vastas colmeias de cal e pedra onde os homens teimam em se amontoar e lutar; e, atravĂ©s do constante deperecimento dos costumes e das simplicidades rurais, o Mundo vai rolando a um egoĂ­smo feroz. A primeira evidĂȘncia deste egoĂ­smo Ă© o desenvolvimento ruidoso da filantropia. Desde que a caridade se organiza e se consolida em instituição, com regulamentos, relatĂłrios, comitĂ©s, sessĂ”es, um presidente e uma campainha, e do sentimento natural passa a função oficial – Ă© porque o homem, nĂŁo contando jĂĄ com os impulsos do seu coração, necessita obrigar-se publicamente ao bem pelas prescriçÔes dum estatuto.Com os coraçÔes assim duros e os Invernos tĂŁo longos, que vai ser dos pobres?…»

A Génese de um Poema

A maior parte dos escritores, sobretudo os poetas, preferem deixar supor que compĂ”em numa espĂ©cie de esplĂȘndido frenesim, de extĂĄtica intuição; literalmente, gelar-se-iam de terror Ă  ideia de permitir ao pĂșblico que desse uma espreitadela por detrĂĄs da cena para ver os laboriosos e incertos partos do pensamento, os verdadeiros planos compreendidos sĂł no Ășltimo minuto, os inĂșmeros balbucios de ideias que nĂŁo alcançaram a maturidade da plena luz, as imaginaçÔes plenamente amadurecidas e, no entanto, rejeitadas pelo desespero de as levar a cabo, as opçÔes e as rejeiçÔes longamente ponderadas, as tĂŁo difĂ­ceis emendas e acrescentas, numa palavra, as rodas e as empenas, as mĂĄquinas para mudança de cenĂĄrio, as escadas e os alçapĂ”es, o vermelhĂŁo e os postiços que em 99% dos casos constituem os acessĂłrios do histriĂŁo literĂĄrio.
(…) No que a mim diz respeito, nĂŁo compartilho da repugnĂąncia de que falei e nunca senti a mĂ­nima dificuldade em rememorar a marcha progressiva de todas as minhas obras. Escolho O Corvo por ser a mais conhecida. Proponho-me demonstrar claramente que nenhum pormenor da sua composição se pode explicar pelo acaso ou pela intuição, que a obra se desenvolveu, a par e passo, atĂ© Ă  sua conclusĂŁo com a precisĂŁo e o rigor lĂłgico de um problema matemĂĄtico.

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O Que Ă© Escrever?

Escrever Ă© isto: comover para desconvocar a angĂșstia e aligeirar o medo, que Ă© sempre experimentado nos povos como uma infusĂŁo de laboratĂłrio, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso (nĂŁo de livraria, mas de indignação social profunda) Ă© aquele que protege os homens do medo: por audĂĄcia, delĂ­rio, fantasia, piedade ou desfiguração. Mas porque a poĂ©tica precisĂŁo de dum acto humano nĂŁo corresponde totalmente Ă  sua evidĂȘncia. Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silĂȘncio em que foram criadas. Depois de tudo, escrever Ă© um pouco corrigir a fortuna, que Ă© cega, com um jĂșbilo da Natureza, que Ă© precavida.

NĂŁo Ă© Preciso

NĂŁo Ă© preciso que a realidade exista
para acreditarmos nela. Na verdade,
se nĂŁo existir tudo Ă© mais luminoso.
Mundo, evidĂȘncia submissa e soberana.

É muito mais fĂĄcil desenvolver um Eu com “defeitos” estruturais: radical, extremista, automatizado, fĂłbico, obsessivo, tĂ­mido, inseguro, omisso, dissimulador, intolerante, impulsivo, ansioso, hipersensĂ­vel, insensĂ­vel, controlador, punitivo, autopunitivo, com uma necessidade neurĂłtica de poder, de evidĂȘncia social, de estar sempre certo. Quem nĂŁo tem alguns destes defeitos, ainda que minimamente? Que psiquiatra, psicĂłlogo, mĂ©dico nĂŁo tem avarias no seu arcabouço psĂ­quico? O problema nĂŁo Ă© tĂȘ-las, mas reconhecĂȘ-las. A questĂŁo nĂŁo Ă© sĂł reconhecĂȘ-las, mas saber o que fazer com elas.