Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho.
Passagens de Fernando Pessoa
1382 resultadosPara viajar basta existir.
É o Que a Gente Leva Desta Vida…
A persistência instintiva da vida através da aparência da inteligência é para mim uma das contemplações mais íntimas e mais constantes. O disfarce irreal da consciência serve somente para me destacar aquela inconsciência que não disfarça.
Da nascença à morte, o homem vive servo da mesma exterioridade de si mesmo que têm os animais. Toda a vida não vive, mas vegeta em maior grau e com mais complexidade. Guia-se por normas que não sabe que existem, nem que por elas se guia, e as suas ideias, os seus sentimentos, os seus actos, são todos inconscientes – não porque neles falte a consciência, mas porque neles não há duas consciências.
Vislumbres de ter a ilusão – tanto, e não mais, tem o maior dos homens.
Sigo, num pensamento de divagação, a história vulgar das vidas vulgares. Vejo como em tudo são servos do temperamento subconsciente, das circunstâncias externas alheias, dos impulsos de convívio e desconvívio que nele, por ele e com ele se chocam como pouca coisa.
Quantas vezes os tenho ouvido dizer a mesma frase que simboliza todo o absurdo, todo o nada, toda a insciência falada das suas vidas. É aquela frase que usam de qualquer prazer material: «é o que a gente leva desta vida»…
Há qualquer coisa de longínquo em mim neste momento. Estou de fato à varanda da vida, mas não é bem desta vida. (…) Sou todo eu uma vaga saudade, nem do passado, nem do futuro: sou uma saudade do presente, anônima, prolixa e incompreendida.
O universo é o sonho de si mesmo.
Felizes aqueles que dizendo Matéria dizem tudo.
Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer.
Eu sou aquilo que perdi.
Deixei De Ser Aquele Que Esperava
Deixei de ser aquele que esperava,
Isto é, deixei de ser quem nunca fui…
Entre onda e onda a onda não se cava,E tudo, em ser conjunto, dura e flui.
A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que a futura paz seu rastro obstrui.Tudo depende do que não existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.Nada me explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence.
Põe tudo o que és na mais pequena coisa que faças
Nunca Aprendi a Existir
Tenho as opiniões desmentidas, as crenças mais diversas – É que nunca penso nem falo nem ajo… Pensa, fala, age por mim sempre um sonho qualquer meu em que me encarno no momento.
Vem a fala e falo-eu-outro. De meu, só sinto uma incapacidade enorme, um vácuo imenso, uma incompetência ante tudo o que é a vida. Não sei os gestos a acto nenhum real.
Nunca aprendi a existir.
A beleza de um corpo nu só o sentem as raças vestidas.
Que fiz de mim? Encontrei-me Quando estava já perdido, Impaciente deixei-me Como a um louco que teime No que lhe foi desmentido
Cada um de nós é vários, é muitos, é uma prolixidade de si mesmos.
A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação.
Tudo quanto buscamos, buscamo-lo por uma ambição, mas essa ambição ou não se atinge, e somos pobres, ou julgamos que a atingimos, e somos loucos ricos.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos, Mas nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência, Nunca ao defeito de exigir do Mundo Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo.
Não escrevo em português. Escrevo eu mesmo.
Lamento dizer que detecto em mim a indicação de que se tivesse nascido em Espanha há uns (…) séculos, poderia ter dado um excelente inquisidor.
Como tudo dói se o pensamos como conscientes de pensar, como seres espirituais em que se deu aquele desdobramento da consciência pelo qual sabemos que sabemos!