As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas possam ir embora. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Passagens de Fernando Pessoa
1382 resultadosPorque dar valor ao próprio sofrimento põe-lhe o ouro de um sol do orgulho. Sofrer muito pode dar a ilusão de ser o Eleito da Dor.
Do indivíduo temos que partir, ainda que seja para o abandonar.
Sentir é criar. Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o universo não tem ideias.
A verdade é um erro de perspectiva.
Dentro da capoeira de onde irá a matar, o galo canta hinos à liberdade porque lhe deram dois poleiros.
Não sou assediado pela consciência, mas sim pela consciência do ser.
O que é preciso é cada um multiplicar-se por si próprio.
O facto divino de existir não deve ser entregue ao facto satânico de coexistir.
Quer pouco: terás tudo. Quer nada: serás livre
Nunca fui mais que um boémio isolado, o que é um absurdo; ou um boémio místico, o que é uma coisa impossível.
Os Deuses são a encarnação do que nunca poderemos ser.
A Individualidade das Nossas Sensações
Nesta era metálica dos bárbaros só um culto metodicamente excessivo das nossas faculdades de sonhar, de analisar e de atrair pode servir de salvaguarda à nossa personalidade, para que se não desfaça ou para nula ou para idêntica às outras.
O que as nossas sensações têm de real é precisamente o que têm de não nossas. O que há de comum nas sensações é que forma a realidade. Por isso a nossa individualidade nas nossas sensações está só na parte errónea delas. A alegria que eu teria se visse um dia o sol escarlate.
A inspiração poética é um delírio equilibrado (mas sempre «um delírio»).
Tudo que existe existe talvez porque outra coisa existe. Nada é, tudo coexiste: talvez assim seja certo.
O que sou essencialmente – por trás das máscaras involuntárias do poeta, do raciocinador e do que mais haja – é dramaturgo.
Confessa, sim; mas confessa o que não sentes.
Há sensações que são sonos, que ocupam como uma névoa toda a extensão do espírito, que não deixam pensar, que não deixam agir, que não deixam claramente ser.
Rala Cai Chuva. O Ar Não É Escuro. A Hora
Rala cai chuva. O ar não é escuro. A hora
Inclina-se na haste; e depois volta.
Que bem a fantasia se me solta!
Com que vestígios me descobre agora!Tédio dos interstícios, onde mora
A fazer de lagarto. – O muro escolta
A minha eterna angústia de revolta
E esse muro sou eu e o que em mim chora.Não digas mais, pois te ignorei cativo…
Teus olhos lembram o que querem ser,
Murmúrio de águas sobre a praia, e o esquivoLangor do poente que me faz esquecer.
Que real que és! Mas eu, que vejo e vivo,
Perco-te, e o som do mar faz-te perder.
A experiência direta é o subterfúgio, ou o esconderijo, daqueles que são desprovidos de imaginação.