Para mim, ser-me-ia impossível viver fora de Lisboa. Falta-me a língua, falta-me este meu povo, feio, pequenino, com mau gosto, malcriado, não sei quê, mas do qual tenho umas saudades loucas quando estou no meio de gente limpa.
Frases de António Lobo Antunes
114 resultadosNo amor podemos substituir uma pessoa por outra, mas não na amizade, porque cada amigo tem o seu lugar e não podemos substitui-lo.
O escritor é um neurótico, e escrever é provavelmente a única forma que tem de exprimir os seus afectos, e de neles ser retribuído. É complexo, porque é misturado com uma grande dose de narcisismo.
No fundo, um escritor é um bocado um ladrão, um gatuno de sentimentos, de emoções, de rostos, de situações.
Não sei o que é o ódio. Ou gosto das pessoas ou não existem para mim.
A verdade não é só uma; para mim você é de uma maneira, para outro é de outra.
Não tenho pensamentos abstractos quando estou a escrever. Estou tão preocupado a fazer o livro que nem sequer me pergunto o que é que isto quer dizer, nem sequer pergunto o que estou a escrever. Às vezes nem sequer sabemos se estamos a acertar no papel. Só quando se começa a trabalhar é que se vê se acertámos ou não.
Só há grupos onde existem fraquezas individuais.
Não há honestidades possíveis. Ou há honestidade ou não há.
Quando lês um livro de uma pessoa que conheces, o livro fica diferente. Quando leste vários livros de um escritor que não conheces e depois conhece-lo, sejas ou não amigo dele, o livro fica diferente.
Quem lê é a classe média.
Os livros permitiram-me conhecer pessoas melhores do que nós. Que têm um calibre humano que eu não tenho.
Realmente, toda a nossa vida é uma luta e uma fuga constante à depressão e ao receio da morte, não é? E ao mecanismo que nós arranjamos para nos defendermos disso. Se a gente esgravata um bocadinho em nós próprios ou nos outros, é aquilo que acaba por encontrar, o enorme receio da solidão, do abandono (que é aquilo que as pessoas suportam pior) e da morte.
Todos nós, homens e mulheres, não somos, de facto, tão diferentes, senão aquilo que escrevemos ou pintamos não teria nenhum impacto nos outros.
A loucura é qualquer coisa que existe em todos nós, é mais um receio que uma realidade. No fundo, o que é enlouquecer? É sair de uma determinada norma, não é? É preciso muita coragem para se ser realmente louco.
Nunca aguento muito tempo numa casa. Passado uns tempos, começo a ficar cansado. Não sei o que é e, sobretudo, não sei até que ponto é que quando estou a dizer que estou farto desta casa, não posso estar a dizer ‘estou farto de mim’.
Não quero que me respeitem a mim, quero que respeitem a honestidade do meu trabalho.
Eu penso que aquilo que faz com que nós continuemos vivos e capazes de criar é isso mesmo, uma inquietação constante. Sem ela não pode haver criação, quem não põe, sempre, tudo em causa, arrisca-se a ter uma vida interior de três assoalhadas.
Eu não sinto prazer em escrever – sinto prazer, sim, na leitura. Mas se não escrever sinto-me pior, não sei, começo a fica impaciente.
A gente não pode compreender os sentimentos sem o contrário deles.