A globalização começou com o primeiro homem.
Frases de Mia Couto
354 resultadosTalvez seja necessário assaltar um último reduto de racismo que é a arrogância de um único saber e a incapacidade de estar disponível para filosofias que chegam das nações empobrecidas.
Faça como o galo que mostra as penas do rabo. Quanto mais belas as penas, menos você cai na panela.
Os europeus, quando caminham, parecem pedir licença ao mundo. Pisam o chão com delicadeza mas, estranhamente, produzem muito barulho.
Um homem salva-se se é vontade da sua vida. Os outros são só o alimento dessa vontade.
A fortuna dela estava espalhada pelo chão: tigelas, cestas, pilão. Em volta era o nada, mesmo o vento estava sozinho.
Tenho de viver já, senão esqueço-me.
Quem amamos nasce antes de haver o tempo.
De facto, nenhum sonho pode ser reescrito, um sonho pede uma linguagem que não há, que é a linguagem dos sonhos, e para se ter acesso a essa linguagem só há uma via, uma porta, que é a porta da poesia.
Eu me abria e confessava antigas lembranças ao estrangeiro. Vantagem de um estranho é que confiamos essa mentira de termos uma só alma.
O pranto desoculta a nossa mais íntima nudez. Pela lágrima nos despimos.
Uma casa morre, se não é habitada com amor.
Nós temos olhos que se abrem para dentro, esses que usamos para ver os sonhos.
O segredo é demorar o sofrimento, cozinhá-lo em lentíssimo fogo, até que ele se espalhe, diluto, no infinito do tempo.
Cada coisa tem direito a ser uma palavra. Cada palavra tem o dever de não ser nenhuma coisa.
Por estranho complexo de inferioridade, estamos sempre receosos de que os outros nos venham influenciar. E não reparamos no movimento inverso. Hoje, os maiores escritores ingleses são oriundos da Ásia, a maior fadista portuguesa vem de Moçambique e uma das maiores cantoras de flamengo espanhol é uma negra da Guiné Equatorial.
Uns sabem e não acreditam. Esses não chegam nunca a ver. Outros não sabem e acreditam. Esses não vêem mais que um cego.
Só quem reza, em total entrega da alma, sabe desse acender e tombar da palavra nos abismos.
O que dói na morte é a falsidade. A morte apenas existe por uma brevíssima troca de ausências. Em outro ser, o morto irá renascer. A nossa dor é a de não sabermos ser imortais.
Quero morar numa cidade onde se sonha com chuva. Num mundo onde chover é a maior felicidade. E onde todos chovemos.