Frases de Mia Couto

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Frases de Mia Couto. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.

O culto de uma sabedoria livresca pode contrariar o propósito da cultura e do livro que é o da descoberta da alteridade.

O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento.

O respirar dos adormecidos é um ruído que inquieta. Como se neles soasse uma outra alma.

Os nossos endinheirados dão uma imagem infantil de quem somos. Parecem crianças que entraram numa loja de rebuçados. Derretem-se perante o fascínio de uns bens de ostentação. Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal. Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura, o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza.

Vou contar a estória. Nem isso, pedaços da estória. Pedaços rasgados como as nossas vidas. Juntamos os bocados, mas nunca completa.

Os pobres não sentem o seu próprio cheiro. Não é a magreza mas o olfacto que distingue os miseráveis dos mais ricos.

Vivemos hoje uma atabalhoada preocupação em exibirmos falsos sinais de riqueza. Criou-se a ideia de que o estatuto do cidadão nasce dos sinais que o diferenciam dos mais pobres.

O coração de um homem ou de uma mulher não obedece a imperativos de consciência. Ninguém namora por dever.

Nenhum sonho se pode contar. Seria preciso uma língua sonhada para que o devaneio fosse transmissível. Não há essa ponte. Um sonho só pode ser contado num outro sonho.

As palavras que movem e que constituem perigo são as palavras que não podem ser ditas em nenhuma língua: as palavras dos sonhos. (…) Quando não se fecha uma estória, a multidão fica contaminada pela doença de sonhar.

É que em todo o lado, mesmo no invisível, há uma porta. Longe ou perto, não somos donos, mas simples convidados. A vida, por respeito, requer licença.

Podemos ser diversas coisas. O erro é quando queremos ser apenas uma. O erro é quando queremos negar que somos diversas coisas ao mesmo tempo.

A felicidade só cabe no vazio da mão fechada. A felicidade é uma coisa que os poderosos criaram para ilusão dos mais pobres.

Talvez seja necessário assaltar um último reduto de racismo que é a arrogância de um único saber e a incapacidade de estar disponível para filosofias que chegam das nações empobrecidas.

Faça como o galo que mostra as penas do rabo. Quanto mais belas as penas, menos você cai na panela.

Os europeus, quando caminham, parecem pedir licença ao mundo. Pisam o chão com delicadeza mas, estranhamente, produzem muito barulho.

Um homem salva-se se é vontade da sua vida. Os outros são só o alimento dessa vontade.

A fortuna dela estava espalhada pelo chão: tigelas, cestas, pilão. Em volta era o nada, mesmo o vento estava sozinho.