Frases sobre SilĂȘncio de JosĂ© LuĂ­s Peixoto

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Frases de silĂȘncio de JosĂ© LuĂ­s Peixoto. As mais belas frases e mensagens de JosĂ© LuĂ­s Peixoto para ler e compartilhar.

Faço perguntas Ă s minhas prĂłprias dĂșvidas e lembro-me de um filme antigo quando percebo que nĂŁo respondem: silĂȘncio a preto e branco.

A outra pessoa nĂŁo Ă© apenas uma imagem. É um silĂȘncio morno, monstro, a explodir significados que nĂŁo somos capazes de entender, mas que distinguimos atĂ© ao centro do nevoeiro mais sĂłlido e que, se for preciso, defendemos atĂ© a nossa pele se gastar, atĂ© gastarmos a pele e, claro, morrermos.

Sei agora, o fim e o desespero sĂŁo a serenidade de uma solidĂŁo eterna e irremediĂĄvel, sĂŁo uma mĂĄgoa que Ă© um sofrimento eterno e irremediĂĄvel, tudo eterno e tudo irremediĂĄvel, sĂŁo o silĂȘncio de quem chora sozinho numa noite inteira.

Assistirmos ao sofrimento do nosso filho Ă© estarmos em carne viva por dentro, Ă© nĂŁo termos pele, Ă© um incĂȘndio a arder no mundo inteiro, mesmo no mundo inteiro. E cada som do nosso filho a sofrer Ă© silĂȘncio em brasa, Ă© a cabeça cheia de silĂȘncio em brasa, o peito cheio, incandescente, o mundo inteiro em brasa.

Os livros, esses animais opacos por fora, essas donzelas. Os livros caem do cĂ©u, fazem grandes linhas rectas e, ao atingir o chĂŁo, explodem em silĂȘncio. Tudo neles Ă© absoluto, atĂ© as contradiçÔes em que tropeçam. E estĂŁo lĂĄ, aqui, a olhar-nos de todos os lados, a hipnotizar-nos por telepatia. Devemos-lhes tanto, atĂ© a loucura, atĂ© os pesadelos, atĂ© a esperanças em todas as suas formas.

HĂĄ livros a serem escritos, paixĂ”es a animarem-se e silĂȘncio em tantos lugares. A vida parece ter o tamanho do sol e eu, que tenho sempre tanto em que pensar, perco-me no meu prĂłprio alcatrĂŁo.

Tenho medo que os meus filhos nunca cheguem a entender aquilo que lhes conto quando ficamos em silĂȘncio, quando o tempo passa e estamos juntos, no mesmo lugar, eu a conduzir em viagens longas com horizonte e eles, ao meu lado, a olharem pela janela, ou quando Ă© fim da tarde, tambĂ©m com horizonte, em silĂȘncio.

A dor: um silĂȘncio de sentido sobre todos os gestos, um abismo a calar o significado de todas as palavras, um vĂ©u a tornar o tempo inĂștil.

O silĂȘncio Ă© como a recordação da mĂŁe para um ĂłrfĂŁo. O silĂȘncio Ă© como a recordação da mĂŁe para qualquer filho. O mundo Ă© pĂĄlido perante o silĂȘncio.

Os segredos estĂŁo dento de nĂłs. Como tudo o que sabemos, tambĂ©m os segredos nos constituem. Quando os seguramos, quando somos mais fortes e os contemos, alastram-se em nĂłs. Desde dentro, chegam Ă  nossa pele. Depois, avançam atĂ© sermos capazes de os distinguir Ă  nossa volta. E, no silĂȘncio, somos capazes de os reconhecer. EntĂŁo, nesse momento, jĂĄ nĂŁo sĂŁo apenas os segredos que estĂŁo dentro de nĂłs, somos tambĂ©m nĂłs que estamos dentro dos segredos.

Nenhuma tempestade tem força suficiente para arrancar um nome. Aquilo que carregas irĂĄ acompanhar-te sempre, farĂĄ parte atĂ© do teu silĂȘncio. Repara em ti, repara em quanto do que te constitui Ă© eterno e imortal.