Frases sobre Vida de Miguel Torga

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Frases de vida de Miguel Torga. As mais belas frases e mensagens de Miguel Torga para ler e compartilhar.

O mal de quem apaga as estrelas é não se lembrar de que não é com candeias que se ilumina a vida.

A intimidade desta vida de aldeia é um espectáculo ao mesmo tempo repugnante e maravilhoso. Estrume da cabeça aos pés. Entre o porco e o dono não há destrinça. Mas, ao cabo, esta animalidade toda, de tão natural, acaba por ser pura e limpa como a bosta de boi.

O mal é ninguém ter ainda percebido que o problema para mim consiste apenas em saber de que lado estão os valores da vida. Se os meus valores estivessem trocados, e eu o percebesse, seria eu o primeiro a destrocá-los. Mas não vejo que estejam. E não mudo.

O que é pena é que neste areal da vida, onde cada um segue o seu caminho, não haja nem tolerância nem humildade para respeitar o norte que o vizinho escolheu.

É espantosa a tendência do português para a promiscuidade! Chega a umas termas, senta-se, volta-se para o vizinho da direita e, sem dizer água-vai, conta-lhe a vida.

A vida à beira-mar, para um escritor, tem a desvantagem de o fazer esquecer o mundo. É tão absorvente e tão embalador este ritmo contínuo das ondas, que se perde a memória do resto.

Mais um ano, mais um palmo a separar-me dos outros, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento de tudo e de todos, que a morte remata.

Uma história triste agrada sempre. No seu sentido mais profundo, a vida é bela e alegre. Todos nós tivemos já a experiência disso milhares de vezes. Provas sobre provas de que não há primavera sem flores, nem outono sem frutos. Mas, apegados como estamos à aparência de tudo, esquecemos a voz do profundo, e ouvimos deliciados o som da superfície. Temos o vício da tristeza.

A vida afetiva é a única que vale a pena. A outra apenas serve para organizar na consciência o processo da inutilidade de tudo.

Os antigos tinham razão em pintar anjos nos tectos dos quartos. Parte da vida passa-se a olhar para eles.

O que eu queria da vida era um pouco de saúde, a ver se conseguia acabar de compor com livros meus uma travesseira capaz, onde um dia pudesse encostar a cabeça e morrer…

Não posso. Passar a vida assim, a jogar a bisca com o prior, a levantar-me às tantas da madrugada para ir ver um doente ao Gandramás, a ouvir e a contar histórias de caça o resto do tempo, valha eu o que valer, é um destino que não mereço.

Só havia três coisas sagradas na vida: a infância, o amor e a doença. Tudo se podia atraiçoar no mundo, menos uma criança, o ser que nos ama e um enfermo. Em todos esses casos a pessoa está indefesa.

Aqui na minha frente a folha branca do papel, à espera; dentro de mim esta angústia, à espera: e nada escrevo. A vida não é para se escrever. A vida — esta intimidade profunda, este ser sem remédio, esta noite de pesadelo que nem se chega a saber ao certo porque foi assim — é para se viver, não é para se fazer dela literatura.

Mais um ano. Mais um palmo a separar-me dos outros, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento de tudo e de todos, que a morte remata.

Creio que a vida não tem sombra de interesse, concebida e vivida em termos de mentira e de conveniência. As sociedades que já só assentam em tais fundamentos, estão por pouco. Julgo, antes, que a própria natureza aviva de quando em quando as suas arestas para que os seres e as coisas saibam claramente que a cada verdade corresponde um fruto, e a cada mentira uma desilusão.