O Tempo e o Tédio
Com respeito à natureza do tédio encontram-se frequentemente conceitos erróneos. Crê-se em geral que a novidade e o carácter interessante do seu conteúdo “fazem passar” o tempo, quer dizer, abreviam-no, ao passo que a monotonia e o vazio estorvam e retardam o seu curso. Mas não é absolutamente verdade. O vazio e a monotonia alargam por vezes o instante ou a hora e tornam-nos “aborrecidos”; porém, as grandes quantidades de tempo são por elas abreviadas e aceleradas, a ponto de se tornarem um quase nada. Um conteúdo rico e interessante é, pelo contrário, capaz de abreviar uma hora ou até mesmo o dia, mas, considerado sob o ponto de vista do conjunto, confere amplitude, peso e solidez ao curso do tempo, de tal maneira que os anos ricos em acontecimentos passam muito mais devagar do que aqueles outros, pobres, vazios, leves, que são varridos pelo vento e voam. Portanto, o que se chama de tédio é, na realidade, antes uma simulação mórbida da brevidade do tempo, provocada pela monotonia: grandes lapsos de tempo quando o seu curso é de uma ininterrupta monotonia chegam a reduzir-se a tal ponto, que assustam mortalmente o coração; quando um dia é como todos, todos são como um só;
Passagens sobre Gente
1211 resultadosNo fim a gente acaba descobrindo que até a imaginação tem um teto. E muito baixo até.
Vou afastar-me de toda a gente até ao ponto de perder a consciência. Fazer de todos um inimigo, não falar com ninguém.
A Coragem do Sonhador
Sempre que nos assumimos como “sonhadores”, ficamos mais perto de tornar qualquer sonho em realidade e de inspirar quem quer que seja com essa nossa conquista, como tal, é de louvar quem carrega esta palavra na boca e o seu significado no peito. Sonhar está ao alcance de todos, é um facto, mas poucos o fazem pois poucos são aqueles que o assumem como uma extensão de si mesmos. Quantas pessoas afirmam que têm um sonho? Poucas, muito poucas, e muitas dessas poucas nem chegam a fazer nada para concretizá-lo, ou seja, sobrevivem uma vida inteira sem sonhar, agarrados à miséria a que a preguiça os obriga. Admiro, particularmente, quem se assume como um sonhador, quem admite que o sonho é uma realidade na sua vida, quem se permite levantar os pés do chão e enveredar por caminhos desconhecidos. Nenhum sonho se encontra no fim de um caminho feito por muita gente; o caminho para o teu sonho está cândido, à espera das tuas primeiras pegadas, por isso uma coisa te garanto, quanto mais verbalizares esta palavra, mais a tua mente se desmente e se entrega, mais o corpo acredita, mais forma ele ganha e mais sentido encontrarás nesta experiência.
Nunca se vence uma guerra lutando sozinho. Você sabe que a gente precisa entrar em contato com toda essa força contida que vive guardada. O eco de suas palavras não repercutem em nada.
A Felicidade não Tem Medida
Não duvidas de que a vida feliz seja o supremo bem; logo, se a vida possui o supremo bem, então é sumamente feliz. E tal como o supremo bem não pode receber qualquer acréscimo (o que haveria acima do supremo?!), também a vida feliz o não pode, pois a felicidade não existe sem o supremo bem. Repara: se disseres que alguém é “mais” feliz, tornarás possível que se diga também “muito mais”; e assim irás fazendo inúmeras gradações no supremo bem, quando por “sumo bem” eu entendo tudo o que não tem valor algum acima de si. Se alguém é menos feliz do que um outro, segue-se que preferirá a vida desse outro (por ser mais feliz) à sua própria; ora, um homem feliz não considera nada preferível à sua vida.
Qualquer destas duas situações é inaceitável: existir algo que o homem feliz preferiria ter em lugar daquilo que tem, ou não preferir ter algo que seja melhor do que aquilo que tem. De facto, quanto mais um homem é avisado, tanto mais se procurará chegar ao que há de melhor, e ambicionará alcançá-lo seja de que modo for. Ora, como pode ser feliz alguém que pode, que deve mesmo,
-Ainda bem que a gente só visita museus na lua-de-mel. Depois, nunca mais!
Viver em Estado de Amor
Respirar, viver não é apenas agarrar e libertar o ar, mecanicamente: é existir com, é viver em estado de amor. E, do mesmo modo, aderir ao mistério é entrar no singular, no afetivo. Deus é cúmplice da afetividade: omnipotente e frágil; impassível e passível; transcendente e amoroso; sobrenatural e sensível. A mais louca pretensão cristã não está do lado das afirmações metafísicas: ela é simplesmente a fé na ressurreição do corpo.
O amor é o verdadeiro despertador dos sentidos. As diversas patologias dos sentidos que anteriormente revisitámos mostram como, quando o amor está ausente, a nossa vitalidade hiberna. Uma das crises mais graves da nossa época é a separação entre conhecimento e amor. A mística dos sentidos, porém, busca aquela ciência que só se obtém amando. Amar significa abrir-se, romper o círculo do isolamento, habitar esse milagre que é conseguirmos estar plenamente connosco e com o outro. O amor é o degelo. Constrói-se como forma de hospitalidade (o poeta brasileiro Mário Quintana escreve que «o amor é quando a gente mora um no outro»), mas pede aos que o seguem uma desarmada exposição. Os que amam são, de certa maneira, mais vulneráveis. Não podem fazer de conta. Se apetece cantar na rua,
Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu.
A Raiz do Vício
Um vício, apesar de ser uma terrível dependência e um péssimo hábito, é um escape maravilhoso e uma profunda ilusão acerca do «sentir bem». Quando não tens nada para fazer ou não sabes como te acalmar fumas uns cigarros ou coisas do género, entopes-te de comida, bebes uns copos e assim andas sempre ocupado e falsamente tranquilo, pois após o efeito seja do que for voltas ao mesmo estado em que te encontravas. Perdão, não me fiz entender bem: fumas sem vontade de fumar, comes sem vontade de comer e bebes sem vontade de beber. Isto é ser viciado, é pura poluição, sobretudo quando não existe um desejo natural de fazê-lo. Esclarecido? Ótimo. Já percebeste o teu desafio? Não, não é deixares de ser um viciado, isso não é um problema porque tens consciência que o és, logo, podes mudar quando entenderes apaixonar-te por ti, o problema é outro e, se queres saber, bem mais sério. Consegues descobri-lo? Era excelente se o dissesses antes de me leres: significaria que também já estarias consciente disso e, nesse sentido, deixaria de ser mais um problema na tua vida. Os problemas são, única e exclusivamente, fruto da inconsciência, pois quando se tem consciência do que se passa já não é um problema,
Tenho debaixo da língua
O princípio duma trova
Hei-de encontrar uma rima
Dedicada à gente nova.
Não é que pensei outra coisa de gente grande? Esta é assim: tudo que parece meio bobo é sempre muito bonito, porque não tem complicação. Coisa simples é lindo. E existe muito pouco.
Fazer Cumprir quem não Cumpre
Sistemáticamente usados, o adiamento, a prorrogação, a isenção, a dispensa dos preceitos legais têm a tal ponto deseducado o espírito público que a maior parte da gente não acredita que a lei venha a ser cumprida ao menos «tão inteiramente como nela se contém». Do uso e abuso de tais processos resulta que no nosso País quem se apressa a cumprir a lei, a cumpri-la rigorosamente, lisamente, a fazer uma declaração exacta e em devido tempo, fica sempre em condições inferiores a todos os outros que não fizeram o mesmo. Pois é absolutamente preciso, «por uma questão de educação e de ordem», que comecemos de vez a praticar o sistema inverso e a fazer com que quem não cumpre — por mais razoável que seja o motivo da falta —- fique em situação pior que os que cumprem.
Um Século de Discursos sem Resultados
O eterno «deficit»; o mistério tenebroso das contas e da dívida pública; o espectro da bancarrota; a quebra da moeda; o «deficit» da balança comercial; a insuficiência económica; a miséria agrícola; a irrigação do Alentejo; o repovoamento florestal; as estradas; os portos; o analfabetismo; o abandono das populações rurais; a pesca; a marinha mercante ; a administração colonial; a instrução e rearmamento do Exército; a reconstrução da marinha de guerra; a viciosa educação da gente portuguesa; a emigração; o quadro das nossas relações internacionais; a questão religiosa — tudo isto absorveu literalmente um século de discursos, toneladas de artigos e não deu um passo, salvo sempre o respeito pelos esforços honestos e realizações parciais úteis, entre as quais se destacam o fomento das comunicações e a ocupação colonial.
Imprevidência
Vamos seguindo assim, desprevenidamente
a brincar com o Destino… e a pensar que brincamos…
quando, na realidade, ele brinca com a gente,
e trama qualquer coisa que não suspeitamos…Julgamos dominá-lo… e, que somos ? – dois ramos
arrastado por ele ao sabor da corrente…
Bem que percebemos quando nos amamos
mas teimamos, seguindo assim, inutilmente…Prolongamos em vão um traiçoeiro dilema:
– ou tu te entregarás um dia, com ternura,
ou teremos criado um eterno problema…Fora disto, há o recuo, bem sei… Mas assim
– tua vida há de ser um remorso sem cura!
– minha vida há de ser uma angústia sem fim!
Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.
Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas…
Nós Somos Vida das Gentes
Sempre é morto quem do arado
há-de viver.Nós somos vida das gentes,
e morte de nossas vidas;
a tiranos pacientes
que a unhas e a dentes
nos têm as almas roídas.
Pera que é parouvelar?
Que queira ser pecador
o lavrador,
não tem tempo nem lugar
nem somente d’alimpar
as gotas do seu suor.N’ergueija bradam co’ele,
porque assoviou a um cão;
e logo excomunhão na pele,
o fidalgo, maçar nele,
atá o mais triste rascão.
Se não levam torta a mão,
não lhe acham nenhum dereito.
Muito atribulados são!
Cada um pela o vilão
per seu jeito.Trago a prepósito isto,
perque veio a bem de fala.
Manifesto está e visto
que o bento Jesu Cristo
deve ser homem de gala.
E é rezão que nos valha
neste serão glorioso,
que é gram refúgio sem falha.
Isto me faz forçoso,
e não estou temeroso
nemigalha.(excerto)
Agrada-te a Ti
Nunca conseguirás agradar a todos, mas podes sempre agradar-te a ti.
Querer agradar a toda a gente é o primeiro passo para o desrespeito e o caminho mais rápido para a perdição.
É, aliás, tão perigoso e letal que chega a ofuscar toda a luz que nos alimenta e dizimar todo e qualquer sentido de vida com o qual tenhamos nascido. Quem escolhe essa via nunca passará de um pássaro de asas partidas, frágil e desesperado, que a qualquer momento pode ser pisado, caçado, esmagado ou morto por qualquer um. E o que não falta aí é gente que precisa cilindrar, torturar e macerar alguém para sentir algum bem-estar na sua vida.
Não te podes permitir isso.
Não podes querer ser o par de sapatos de toda a gente.
Tens de ser as tuas pernas, o teu próprio coração e a orientação da tua cabeça.
De que te adianta agradar a todos se isso pode ser desagradável para ti?
As pessoas só vão gostar todas de ti depois de morreres ou se escolheres ficar calado para sempre, o que, e na minha opinião, é apenas outra forma de estar morto,
Solidão
Ó solidão! À noite, quando, estranho,
Vagueio sem destino, pelas ruas,
O mar todo é de pedra… E continuas.
Todo o vento é poeira… E continuas.
A Lua, fria, pesa… E continuas.
Uma hora passa e outra… E continuas.
Nas minhas mãos vazias continuas,
No meu sexo indomável continuas,
Na minha branca insónia continuas,
Paro como quem foge. E continuas.
Chamo por toda a gente. E continuas.
Ninguém me ouve. Ninguém! E continuas.
Invento um verso… E rasgo-o. E continuas.
Eterna, continuas… Mas sei por fim que sou do teu tamanho!