O prazer da crítica nos tira aquele de sentir vivamente coisas muito belas.
Passagens de Jean de La Bruyère
161 resultadosO Espírito da Conversação
Há pessoas que falam um momento antes de pensar; há outras que prestam fraca atenção ao que dizem, e com as quais sofremos, na conversação, todo o trabalho que a sua inteligência tem; estão como amassados de frases e jeitos de expressão, concertados nos gestos e em toda a sua atitude.
O espírito da conversação consiste muito menos em mostrar muito espírito que em fazer com que os outros o achem: quem sai de uma palestra contente consigo mesmo e com o seu espírito, sai perfeitamente contente com o orador. Os homens não gostam de admirar; querem agradar: procuram menos ser instruídos, e mesmo satisfeitos, que serem apreciados e aplaudidos; e o prazer mais delicado que há é o de causar o dos outros.
A corte é como um edifício de mármore: quero dizer que é composta de homens bastante polidos, mas muito duros.
Mil modos há de consolar o homem probo e dulcificar-lhe as penas; mas não há um só de consolar um perverso. São os maus como moscas que percorrem o corpo dum homem e só se quedam nas pústulas.
Entre o bom senso e o bom gosto está a diferença entre a causa e o efeito.
Do ódio à amizade a distância é menor que do ódio à antipatia.
As coisas maiores só devem ser ditas com simplicidade; a ênfase estraga-as. As menores precisam de ser ditas com solenidade; elas só se sustentam pelo modo de expressão, pela atitude e pelo tom.
A desgraça extingue ódios e invejas.
Às vezes custa muito mais eliminar um defeito que adquirir cem virtudes.
Nós percebemos quando o amor começa e quando ele decai pelo nosso constrangimento quando estamos juntos sozinhos.
É falta de polidez dar de mau humor; o mais difícil e mais penoso é dar; que custa acrescentar a isso um sorriso?
A falsa modéstia é o supremo requinte da vaidade.
Há apenas duas formas de subir na vida: pelo nosso engenho ou pela estupidez dos outros.
O aborrecimento entrou no mundo pela mão da preguiça.
O ciúme nunca está isento de certa espécie de inveja e, frequentemente, confundem-se essas duas paixões.
Enquanto os homens estiverem sujeitos a morrer, gostando de viver, os médicos serão metidos a ridículo e bem pagos.
É mais vergonhoso desconfiar dos amigos do que ser enganado por eles.
Quem afirma que não é feliz, poderia sê-lo com a felicidade do próximo, se a inveja lhe não tirasse esse último recurso.
O amor e a amizade excluem-se mutuamente.
A morte só chega uma vez e faz-se sentir a todos os momentos da vida; é mais cruel temê-la do que sofrê-la.